Teoria dos conjuntos/Axioma do par
Com os axiomas apresentados até agora (o axioma que diz que existe um conjunto, o axioma da extensão e o axioma da separação), já pudemos mostrar que o conjunto vazio, , existe e é único.
Mas não fomos capazes de exibir nenhum outro conjunto!
Uma teoria dos conjuntos cujo único conjunto seja o conjunto vazio não serve para muita coisa. Seria interessante haver pelo menos outro conjunto, e o candidato natural é o conjunto cujo único elemento é o próprio conjunto vazio.
Mas não podemos, pelos axiomas atuais, definir
porque esta não é uma definição de conjunto que se enquadra no axioma da separação.
O axioma do par é o que garante a existência deste tipo de conjunto. Na sua forma mais usual, ele garante até algo mais: dados dois conjuntos, existe um conjunto que tem estes dois conjuntos como elementos.
Como o axioma não obriga estes dois conjuntos a serem diferentes, podemos usá-lo para criar o conjunto cujo único elemento é o conjunto vazio.
E assim por diante... Mas, como veremos abaixo, este "adiante" ainda não compreende todos os conjuntos que precisamos para ter uma teoria útil e prática.
O Axioma
[editar | editar código-fonte]Sejam A e B conjuntos quaisquer (que podem ser iguais). Então existe um conjunto C tal que e .
Nota: existem formulações alternativas do axioma, que dizem que C não tem outro elemento além de A e B, e que C é único, mas, junto com os axiomas da extensão e da separação, mostra-se que essas formulações são equivalentes.
Em linguagem matemática, o axioma se escreve assim:
Usando-se os axiomas da extensão e da separação, chega-se ao seguinte teorema:
Esboço da prova: o axioma da separação é usado para construir, a partir do z que existe, o conjunto
e o axioma da extensão garante que todos conjuntos z que satisfazem são iguais.
Definição de { x, y }, { x } e {}
[editar | editar código-fonte]Como esse conjunto que tem o par de conjuntos como elementos é único, podemos dar um nome para ele, a saber:
Como nada nos axiomas obriga x a ser diferente de y, definimos também:
Observação: por analogia, também é comum a notação
Generalizar esta notação, ou seja, definir o que seria {x,y,z} ainda não é possível: isto será visto com o axioma da união.
Propriedades
[editar | editar código-fonte]Segue-se imediatamente da definição que:
Definição de 1 e 2
[editar | editar código-fonte]Adotando-se a ideia de von Neumann [1], vamos definir os seguintes conjuntos:
e temos que parar por aqui, porque ainda não definimos o que significa {x, y, z} - e, pelos axiomas até agora listados, não sabemos se existe este tipo de conjunto.
Note-se (exercício: prove) que:
As propriedades acima não são acidentais: quando definirmos os números naturais, elas serão válidas para todos os números. Iremos mais adiante: estas propriedades valerão para uma classe de conjuntos que amplia uma das funções normalmente atribuídas aos números naturais, que é ordenar elementos.
Note-se que as relações e não são sempre equivalentes. Por exemplo:
- mas - porque
- mas
Par ordenado
[editar | editar código-fonte]O par ordenado também pode ser definido com o axioma do par. Esta definição se deve a Kuratowski[2]:
O teorema abaixo é de crucial importância para as aplicações do par ordenado:
Esboço da demonstração:
Conforme temos ou , combinado com ou , temos quatro casos possíveis. As propriedades do conjunto { a , b } resolvem trivialmente quase todos os casos, exceto quando .
Mas, neste caso, temos, por que ou . Este segundo caso só é possível quando z = w, o que já foi excluído antes. Assim, temos , o que implica em x = z. Assim, sobra a igualdade , ou . Como já vimos que , segue-se que y = w.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Ver artigo na wikipedia Número ordinal
- ↑ Ver artigo na Wikipédia Par ordenado