Teoria dos conjuntos/Axioma da separação
O Axioma da separação (também conhecido como Axioma da compreensão ou Axioma de especificação) diz que se um conjunto A existe, e conseguimos descrever (através de uma propriedade) elementos deste conjunto, então existe um conjunto B, subconjunto de A, que contém estes elementos.
Este "axioma" é, a rigor, um esquema de axiomas, porque, para cada propriedade Φ, existe um "axioma da separação".
Axioma
[editar | editar código-fonte]A forma apresentada abaixo se deve a Kunen.[1]
- Se z é um conjunto e é qualquer propriedade que possa ser atribuída a elementos x de z, então existe um subconjunto y de z que contém os elementos x de z e que possuem essa propriedade.
Formalmente: qualquer fórmula na linguagem da teoria dos conjuntos com variáveis livres entre :
Notar que esse não é um axioma, mas um esquema de axiomas: para cada temos um novo axioma.
Notação
[editar | editar código-fonte]Este axioma, combinado com o axioma da extensão, mostra que, para todo conjunto z e toda propriedade Φ, existe um único conjunto cujos elementos são os elementos de z que satisfazem Φ. Ou seja, a notação:
define um conjunto que existe e é único.
Segue-se imediatamente da definição que:
Note-se que R definido no Paradoxo de Russell
não é um conjunto segundo a definição acima: é preciso especificar dentro de qual conjuntos os elementos x são tirados.
Conjunto vazio
[editar | editar código-fonte]Já supomos no capítulo introdutório que existe algum conjunto. Então, seja Φ(x) uma propriedade que é sempre falsa (por exemplo, ).
Sejam, portanto, z e w dois conjuntos quaisquer. Então os conjuntos:
existem e, pelo axioma da extensão, são iguais, já que é fácil provar que
Em outras palavras, qualquer que seja o conjunto de partida (z, w, etc), o conjunto definido acima será sempre o mesmo.
Este conjunto é chamado de conjunto vazio, representado por .
Os resultados acima podem ser resumidos de forma sintética em existe um conjunto que não tem nenhum elemento, e este conjunto é único.
Pelos axiomas expostos até agora, o conjunto vazio é um ponto final, ou seja, nada pode ser construído a partir dele. Por exemplo, aplicando-se o axioma da separação ao conjunto vazio, obtem-se apenas o conjunto vazio:
Por outro lado, pode-se mostrar que:
- o conjunto vazio é subconjunto de qualquer outro conjunto
- o conjunto vazio é subconjunto próprio de qualquer outro conjunto que não seja vazio
- nenhum conjunto é subconjunto próprio do conjunto vazio
Interseção
[editar | editar código-fonte]Dados dois conjuntos y e z, e a propriedade , o axioma diz que existe o conjunto w tal que
Este conjunto tem uma notação especial, e é chamado de a interseção de y e z, ou seja:
Segue imediatamente das definições acima que:
A propriedade associativa demanda um pouco mais de trabalho:
Diferença
[editar | editar código-fonte]Dados dois conjuntos y e z, e a propriedade , o axioma diz que existe o conjunto w tal que
Este conjunto tem uma notação especial, e é chamado de a diferença de y e z, ou seja:
Exercícios
[editar | editar código-fonte]- Mostre que não existe o conjunto de todos os conjuntos. Em outras palavras, para todo conjunto x, existe algum conjunto y tal que . Sugestão: a prova é por contradição e usa o axioma da regularidade e a ideia do paradoxo de Russel.
- Escreva e demonstre as várias propriedades que combinam a interseção e a diferença, por exemplo
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Em informática, a aplicação deste axioma a listas é chamada de List comprehension. Linguagens funcionais (Haskell, etc) ou com influência destas (Python, etc) tem formas simples de fazer list comprehension.
Referências
- ↑ Kunen, Kenneth, 1980. Set Theory: An Introduction to Independence Proofs. Elsevier. ISBN 0-444-86839-9.