Civilizações da Antiguidade/Civilização do Vale do Indo
Descoberta e desperdício
[editar | editar código-fonte]Quando os britânicos dominaram a Índia (1757-1947), começaram a construir ferrovias, afinal esse era o meio de transporte ideal para as longas distâncias.
Depois da inauguração do primeiro trem, os engenheiros já sabiam que não seria fácil encontrar material que permitisse a sustentação dos trilhos. Era preciso colocar trilhos entre as cidades de Karachi e Lahore, e os trabalhadores, escavando, encontraram tijolos de argila cozidos no forno.
Os engenheiros escoceses John e William Brunton concordaram que esse era um substituto adequado e econômico para o cascalho. Assim, os empregados continuaram a escavar e desenterrar milhares de tijolos, junto com eles encontraram estatuetas e selos com inscrições desconhecidas.
Infelizmente, isto não fez parar o trabalho. Ninguém tomou providencias e foram construídos 160 km de ferrovia com os tijolos de Harappa.
Só muito mais tarde, 65 (sessenta e cinco) anos depois, os arqueólogos descobriram que naquele local havia florescido uma civilização contemporânea da Mesopotâmia, a civilização do vale do Indo, também chamada civilização Harappeana.
Localização
[editar | editar código-fonte]A chamada civilização do vale do Indo, já não faz parte da Índia, na verdade fica no Paquistão atual. Portanto o nome que tem sido usado, desde a década de 80 é Civilização Harappeana (devido à cidade de Harappa), até porque essa foi uma cultura que se espalhou por uma área extensa e não apenas pelo vale do rio Indo.
O Paquistão se formou em torno do vale do rio Indo, centro sul da Ásia. No oeste está limitado pelos montes Suliman, ao norte está o Himalaia. Nas divisas com a Índia e o Irã existem desertos. O Paquistão atual faz fronteiras com o Irã, Afeganistão, China e Índia. O rio Indo, nasce no Tibet e corta o país de norte a sul, escoa no Mar Arábico formando um imenso delta.
Essa geografia em tempos ancestrais, deve ter favorecido a civilização que ali se desenvolveu, porque configurava uma área protegida de invasões e o vale do rio Indo, possui solo fértil assim como o solo do Crescente Fértil e do vale do rio Nilo. Na primavera a neve derrete nas montanhas e corre para o rio Indo, levando os minerais ricos para adubar o solo.
Idioma e escrita
[editar | editar código-fonte]A escrita do povo que habitou o vale do Indo permanece um mistério, porque não foi decifrada até hoje.
Foram encontrados muitos selos nas ruínas das cidades, que já foram escavadas, eles mostram umas quatrocentas figuras; isso seria muito pouco para configurar uma língua ideográfica, e muito para uma língua fonética.
O que se sabe sobre essa civilização foi deduzido por estudiosos, partindo dos selos, das estátuas, trabalhos artesanais, construções.
O povo do Indo, não deixou inscrições nas pedras e nem papiros nos túmulos. Tudo o que temos são as inscrições nos selos e já foram feitos muitos estudos para decifrá-los, mas nenhum teve sucesso. Parece que alguns representam nomes de famílias e outros talvez tenham sido usados para o comércio, mas são ainda suposições.
Mais de 2000 selos de pedra foram encontrados no Vale do Indo. Eles têm formato quadrangular e eram feitos com punhados de barro úmido. Sem dúvida formam alguma espécie de escrita, o mais comum traz a figura de um unicórnio.
Os selos encontrados no vale do Indo são similares aos encontrados na Mesopotâmia. Alguns foram mesmo encontrados na Mesopotâmia e no Golfo Pérsico. Certamente pertenciam a mercadores.
As cidades
[editar | editar código-fonte]A Civilização do Vale do Indo é reconhecida como a primeira civilização a desenvolver o senso de planejamento urbano, por volta de 2600 a.C. onde algumas pequenas vilas cresceram se transformando em grandes cidades contendo milhares de pessoas.
Aparentemente, essas cidades surgiram de muito esforço e planejamento feito por um governo extremamente centralizado.
Aparentemente, todas as cidades da civilização do Indo foram bem planejadas, e seus tijolos tinham todos o mesmo tamanho e o mesmo tipo de tijolo foi usado em cidades muito distantes umas das outras. Os pesos e as medidas também mostram uma regularidade considerável.
As ruas possuíam ângulos retos e um elaborado sistema de drenagem.
Havia prédios públicos, sendo que o mais famoso era a Casa de Banhos em Mohenjo-Daro. Havia grandes silos e cisternas. O centro de uma cidade possuía uma poderosa cidadela, usada como proteção contra ataques inimigos, que eram mais altas do que a maioria dos zigurates sumérios.
As casas ficavam de frente para a rua, tinham pelo menos dois andares e possuíam proteção contra o barulho, o cheiro e os ladrões. A vida doméstica se desenvolvia dentro de um pátio fechado e as varandas ficavam sobre esse pátio. Cada casa possuía seu próprio poço e havia uma, que inclusive possuía uma grande banheira. Nessas casas, escadas de tijolos levavam aos andares superiores e ao telhado.
Mohenjo-Daro e Harappa
[editar | editar código-fonte]A civilização do vale do Indo, foi assim chamada porque se acreditava que ela tinha se desenvolvido apenas no vale do rio. Em 1875 já haviam sido encontrados selos pertencentes à Mohenjo-Daro e Harappa, mas, foi a partir de 1922 que foram iniciadas escavações sistemáticas.
Harappa foi redescoberta por causa dos tijolos usados na ferrovia (já mencionado acima). Mohenjo-Daro foi encontrada graças ao arqueólogo hindu Banerji. Ele observou que os tijolos de um mosteiro budista eram de fabricação muito anterior ao prédio. Foi da busca pelos fabricantes dos tijolos que surgiu a grande Mohenjo-Daro. Desde a criação do Paquistão, em 1947, esses locais históricos estão sob a proteção do Departamento de Arqueologia e Museus do Governo do Paquistão.
A descoberta dessas duas cidades mostrou que a civilização do Indo não estava restrita ao vale do rio, mas, se espalhava numa área muito maior tanto ao noroeste quanto ao oeste da Índia.
Tanto Harappa (que muitas vezes dá nome à civilização do vale do Indo) quanto Mohenjo-Daro deveriam ter uma população de mais de 40 000 pessoas. Para se ter uma ideia, as cidades da Suméria tinham apenas 10 000 cada uma.
Ainda não se sabe quase nada sobre essas cidades e a maior parte do local ainda não foi escavada. Acredita-se que Harappa era o centro urbano que dominava a região do alto Indo, assim como Mohenjo-Daro dominava o baixo Indo.
Mohenjo-daro (o Monte de Mohen ou Mohan), pode ser escrita também Mohanjo-daro (o Monte de Mohan ou de Krishna). Ainda é um dos centros urbanos mais bem preservados da civilização do Indo.
Os prédios de Mohenjo-Daro foram feitos de tijolos cozidos, embora algumas construções fossem tipo pau-a-pique (lama e madeira). Essa cidade foi poupada da destruição que aconteceu em Harappa porque a ferrovia principal foi construída ao longo da margem leste do Indo, e as pedras das colinas Rohri eram mais acessíveis para o uso nos trilhos. Mohenjo Daro foi certamente a maior das cidades do Indo, se espalhando por 250 hectares.
Economia
[editar | editar código-fonte]Tudo o que se sabe sobre a civilização do Indo, foi descoberto através de estudos e escavações profundas na área. É sabido que as cidades eram muito desenvolvidas, que o povo possuía técnicas avançadas de agricultura e sua economia era também baseada no comércio.
Como todos os povos da época, que podiam se aproveitar da proximidade dos grandes rios, o povo do Indo tinha uma agricultura muito produtiva, por volta do ano 3000 a.C. a irrigação era comum. O povo plantava ao longo dos afluentes que corriam para o rio principal, trigo, cevada, ervilhas, sésamo e tâmaras, assim como também arroz, mostarda, melões e outras frutas. Eles também plantavam algodão e provavelmente foram os primeiros a confeccionar roupas com algodão.
O povo do vale do Indo domesticava animais, havia cães e gatos, gado, búfalos, e talvez, também, porcos, camelos, cavalos e asnos. A caça, a pesca e a agricultura eram a base da subsistência.
Parece que esse povo não apenas vivia da agricultura, mas que foi uma civilização de grandes comerciantes. Os itens mais populares que deveriam ser comercializados eram jóias, roupas, lâminas, espelhos, brinquedos e anzóis. Cada mercador possuía seu próprio selo. Eles faziam comércio com seus vizinhos de outras regiões da Índia, do Golfo Pérsico e da Suméria.
Foram encontradas docas para barcos, em Lothal (outra cidade da civilização do Indo), de modo que se acredita que usavam o rio para comércio, e deviam ser hábeis navegantes. Lothal, que hoje está localizada no estado de Gujarat na Índia, é um dos mais importantes locais arqueológicos do país. Foi descoberta em 1954 e seu nome significa lugar dos mortos.
Sociedade, Arte e Religião
[editar | editar código-fonte]Pelo pouco que se conhece, o povo do Indo se vestia e penteava, como os Sumérios. Os homens usavam barba, mas não usavam bigode. Vestiam uma túnica leve com o ombro direito nu. As mulheres vestiam saias curtas, grandes enfeites na cabeça e também usavam muitos colares e uma espécie de cinto . Isso significa que deveria ser um povo urbano e refinado que apreciava a estética.
A sociedade deveria ser dividida de acordo com as ocupações de cada um, isso sugere a existência de um governo organizado.
De acordo com as peças, como vasos e tigelas descobertos na Mesopotâmia os artesãos eram muito habilidosos, possivelmente sendo essa profissão muito valorizada. Já se sabe que eles trabalhavam o bronze, o cobre, o chumbo e o estanho. Havia jóias de ouro, lanças e facas.
Não se sabe se eles construíram grandes esculturas, porque apenas foram encontradas pequenas figuras humanas, o busto de um provável sacerdote e uma dançarina feita em bronze.
As estátuas de terracota de uma Deusa Mãe, pela quantidade encontrada, sugere que o povo tinha sua imagem em praticamente todas as casas. A religião era politeísta e seus deuses tinham forma humana, sendo homens e mulheres.
É possível que um selo, onde se vê um deus de chifres, sentado, fosse o ancestral do deus Shiva como Pashupati, o Senhor dos Animais.
Declínio
[editar | editar código-fonte]Ainda é mistério o desaparecimento de uma civilização tão avançada. Os estudiosos não sabem porque o povo abandonou a área do Indo.
Existem milhares de interrogações, que vão desde enxurradas que podem ter destruído as cidades, a perda de fertilidade do solo, a fome e a seca, mudanças ecológicas.
É possível que as enxurradas tenham destruído os canais de irrigação e as casas. Isso seria terrível porque as cidades prósperas, até então, começariam a passar fome. Isso poderia ter deixado o povo já derrotado moral e fisicamente, despreparado para a invasão dos Arianos.
A palavra Arianos significa Nobres.
Muito se fala sobre essa invasão dos Arianos. Mas é possível que essas tribos bárbaras vindas da Ásia Central através das montanhas do Hindu Kush, já tenham encontrado cidades abandonadas.
Se realmente existiram, os primeiros ataques dos Arianos às cidades devem ter ocorrido por volta de 2000 a.C. próximo ao Baluquistão. No Rig Veda há menções sobre o deus da guerra, Indra, destruindo alguns fortes e cidadelas, e uma delas pode ter sido Harappa e outras cidades do Indo.
A história convencional fala de um cataclismo que varreu do mapa a civilização do vale do Indo, por volta de 1600 a.C. O problema é que isso não explica, porque cidades muito distantes umas das outras foram exterminadas da mesma maneira.
Por volta de 1500 a.C. a cultura que floresceu no vale do Indo já havia sido varrida do mapa. Por volta de 1700 a.C. parece que a civilização do Indo já estava em declínio, por causa das enchentes constantes e violentas que destruíam as cidades na beira do rio e acabava com as plantações.
É possível que a explicação mais natural seja a decadência da própria civilização, devido a fatores internos. Talvez nem mesmo os Arianos sejam os culpados, até porque é provável que, quando os Arianos migraram para a Índia em 1500 a.C. a civilização Harappeana já não existisse.
Talvez o futuro possa trazer as informações de que precisamos para entender a escrita e a história dessa civilização, que deve ter sido grande assim como as civilizações egípcia e suméria.