Retórica e argumentação/Figuras de estilo/Pergunta retórica, hipófora e diaporesis

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Uma pergunta retórica é qualquer pergunta cujo intento do autor não seja obter informação. Geralmente, o autor sabe a resposta da pergunta e a utiliza para afirmar ou negar o que está sendo perguntado. Quando a pessoa que lançou a pergunta retórica a responde em seguida, chamamos a figura de estilo de hipófora. Já quando a pessoa que lançou a pergunta retórica está deliberando com si própria, chamamos a figura de diaporesis.

Exemplo 1: “Eu sou um judeu. Um judeu não tem olhos? Um judeu não tem mãos, orgãos, dimensões, sentidos, afeições, paixões? Alimentado pela mesma comida, ferido pelas mesmas armas, sujeito às mesmas doenças, curado da mesma maneira, aquecido e resfriado pelo mesmo verão e inverno que um cristão? Se vós nos espetardes, não sangramos? Se vós nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos envenenardes, não morremos? E se nos fizerdes mal, não devemos nos vingar? Se somos como vós no resto, também nos assemelharemos nisto. Se um judeu fizer mal a um cristão, qual é sua humildade? Vingança. Se um cristão fizer mal a um judeu, qual deveria ser sua resignição pelo exemplo cristão? Vingança. A vilania que me ensinais, executarei, e será tão dura que superarei a lição.” (Shakespeare, The Merchant of Venice)

Exemplo 2: “Não é um prazer, uma vez que se aprendeu algo, colocá-lo em prática nas horas certas? Não é uma alegria ter amigos que vêm de longe? Não é cavalheiresco não se ofender quando os outros falham em apreciar suas habilidades?” (Confúcio, Analectos)

Exemplo 3: “Poderás tirar com anzol o Leviatã, ou apertar-lhe a língua com uma corda? Poderás meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou com um gancho furar a sua queixada? Porventura te fará muitas súplicas, ou brandamente te falará? Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo para sempre? Brincarás com ele, como se fora um pássaro, ou o prenderás para tuas meninas? Farão os sócios de pesca tráfico dele, ou o dividirão entre os negociantes? Poderás encherlhe a pele de arpões, ou a cabeça de fisgas?” (Jó 41, 1—7)

Exemplo 4: “É esta a região, o solo, o clima — disse o arcanjo perdido — este o assento que devemos trocar pelo Céu? Esta penumbra lúgrube por aquela luz celestial? Que seja... O que importa onde, se eu ainda for o mesmo? E o que eu deveria ser, além de tudo fora Ele a quem o trovão fez maior?” (John Milton, Paradise Lost)

Uso na retórica: Como o próprio nome sugere, questões retóricas são bastante utilizadas na arte da persuasão. Elas fazem o texto ou discurso soar menos como uma pregação e mais como uma investigação. Menos ‘ouça o que eu tenho a dizer’ e mais ‘pense comigo’. Assim, o discurso soa mais convidativo e menos presunçoso ou arrogante. Deve-se ter cuidado em apenas lançar perguntas retóricas quando se está seguro do terreno comum com seus interlocutor ou audiência. Caso contrário, o interlocutor pode começar a responder as perguntas retóricas de forma contrária ao esperado.