História de Niterói/Capital
Em 1834, o Ato Adicional à Constituição de 1824 determinou que a cidade do Rio de Janeiro passasse a ser município neutro. Isto implicou na escolha de uma nova capital para a província do Rio de Janeiro. Após muita discussão, a Vila de Praia Grande tornou-se a nova capital, agora elevada à condição de cidade e com um novo nome: "Niterói". Este era o nome indígena da região da atual cidade do Rio de Janeiro, no século XVI[1]. Traduzido da língua tupi, significa "Água escondida", através da junção de y (água) e terõi (escondida)[2]. Desta forma, o ano de 1834 também inscreveu-se na bandeira de Niterói. Em 1835, foi inaugurada a primeira linha regular de barcas entre o Rio de Janeiro e Niterói.[3]
Em 1840-1841, foi construída a ligação por terra entre os bairros do Ingá e de Icaraí. Na região, localiza-se a estrutura rochosa conhecida como Pedra de Itapuca, símbolo da cidade presente na bandeira municipal. "Itapuca" é um termo tupi que significa "pedra furada", através da junção de itá (pedra) e puka (furo)[4]. Tal estrutura compunha-se de uma ponte de pedra que ligava o promontório rochoso no mar com o continente, formando uma estrutura com o formato de uma pedra com um furo. Porém a ponte de pedra desmoronou, restando somente a Pedra de Itapuca, que fica bem próxima a outro símbolo da cidade, a Pedra do Índio.
Em 1842, João Caetano adquiriu a casa onde havia se apresentado na rua 15 de Novembro e a transformou no Teatro Santa Tereza.[5] Em 1 de novembro de 1855, foi realizado o primeiro enterro no Cemitério de Maruí.[6] Em 1860, foi inaugurada a estação das barcas na rua das Chagas, atual praça Leoni Ramos, no bairro de São Domingos.[7] Entre 1861 e 1900, foram construídos a capela e cemitério de Nossa Senhora da Conceição, cujas ruínas podem atualmente ser vistas no interior do Condomínio Ubá-Itacoatiara, na Estrada de Itacoatiara, número dez.
Em 1863, começou a ser construído, na ponta do Imbuí, o forte Dom Pedro II.[8] Em 1866, a província do Rio de Janeiro extinguiu, oficialmente, a antiga aldeia indígena de São Lourenço dos Índios, sob o argumento de que já não existiam índios no Brasil. Desta forma, o terreno da aldeia foi incorporado ao município.[9][10] Em 1871, surgiram os primeiros bondes em Niterói, puxados por mulas.
Em 1872, o português Bento Joaquim Alves Pereira construiu o solar do Jambeiro, residência no bairro do Ingá.[11] Ao longo do século XIX, desenvolveu-se a indústria naval em Niterói, especialmente na Ponta d'Areia, que passou a abrigar importantes estaleiros, como, por exemplo, o estaleiro do visconde de Mauá.
O imperador dom Pedro II gostava de visitar a cidade para assistir aos espetáculos no teatro Santa Teresa, atual teatro municipal João Caetano. Em 1845, ele inaugurou o chafariz da Memória, na atual Praça do Rink e, em 1854, a Igreja de São João Batista, no Centro. Também foi inaugurado, pelo imperador, o asilo Santa Leopoldina, mais tarde transferido para Icaraí.
Em 1897 foi fundado o Rio Cricket & Athletic Association em Icaraí em um terreno que foi do Mosteiro de São Bento.
No dia 4 de abril de 1888, a câmara municipal de Niterói aboliu a escravidão na cidade, um mês e quatro dias antes de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea.[12] Em 1889, foi inaugurada a nova estação das barcas na praça Arariboia.[13] Em 1890, Niterói teve seu território grandemente reduzido devido à separação das freguesias de São Gonçalo, Nossa Senhora da Conceição de Cordeiro e São Sebastião de Itaipu, que passaram a constituir o município de São Gonçalo.[14] Em 1894, no auge da Segunda Revolta da Armada (revolta da marinha pelo cumprimento da Constituição de 1891, que obrigava a realização de eleições presidenciais para a escolha do sucessor de Deodoro da Fonseca, presidente que havia renunciado ao cargo em 1891. O cargo havia sido ocupado por Floriano Peixoto, o vice-presidente.), Niterói foi bombardeada pelos navios da armada, obrigando a transferência da capital para a cidade de Petrópolis.
A população também se refugiou no interior. Os revoltosos tentaram várias vezes invadir a cidade, porém não conseguiram vencer a resistência das tropas leais ao governo. Um dos baluartes da resistência na cidade foi a bateria da Praia de Fora, que, em 1896, foi renomeada como forte Marechal Floriano Peixoto, por sua lealdade ao presidente.[15] Foi na praia de São Francisco que ocorreu a primeira vítima fatal da revolta: uma mulher que foi atingida por uma bala de canhão disparada pelos navios revoltosos.[16] Pela resistência, Niterói recebeu a alcunha de "cidade invicta". Em 1900, a ordem Salesiana ergueu um monumento a Nossa Senhora Auxiliadora no alto do morro de Santa Rosa[17]. Em 1901, terminou a construção do forte Dom Pedro II, renomeado então como forte do Imbuí, devido ao desejo de afastar qualquer menção ao regime monárquico recém-derrubado.[18]
Finalizada a revolta com a derrota da armada, Niterói readquiriu a condição de capital em 1903. Reassumida sua condição de capital do estado do Rio de Janeiro, Niterói passou por uma reforma urbanística que ficou conhecida como Renascença Fluminense. A enseada de São Lourenço foi aterrada, o Morro do Campo Sujo ou Doutor Celestino foi desmontado por meios hidráulicos e foi construído o novo centro cívico da cidade sobre um terreno utilizado como esgoto na região da atual Praça da República. Foram construídos, em estilo eclético, ao redor da praça, segundo o projeto geral do arquiteto Pietro Campofiorito, os prédios da biblioteca Estadual, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (atual Câmara dos Vereadores de Niterói), do Liceu Nilo Peçanha, da sede regional da Polícia Civil e o do Tribunal de Justiça de Niterói. O centro da praça foi ocupado pelo monumento Triunfo da República.
Em 1904, o poder executivo fluminense passou a ser sediado em um palacete no bairro do Ingá que anteriormente pertencera ao industrial português José Francisco Corrêa, dono da famosa fábrica de fumo Veado. O palacete, que anteriormente era conhecido como Palacete Sande, passou então a ser conhecido como Palácio do Ingá.[19]
Em 1905, foi construído o antigo abrigo de bondes para servir de local de manutenção dos bondes elétricos a serem implantados na Rua São João número 383. Em 1906, foram inaugurados a iluminação elétrica, o sistema de esgotos, o Estaleiro Rodrigues Alves da Companhia Cantareira de Viação Fluminense e os bondes elétricos na cidade. Em 1908, foi concluído o parque do Campo de São Bento na região que antigamente pertencia ao mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro e que era utilizado para descanso do gado que vinha de Campos dos Goytacazes. No mesmo ano, a Igreja de São João Batista, no Centro, foi elevada à categoria de catedral.[20] Em 1910, foi inaugurada o novo prédio da prefeitura de Niterói: o palácio Arariboia.[21]. Nesse mesmo ano, foi concluída a nova estação das barcas.
Em 1913, foi fundado o Canto do Rio Foot-ball Club.[22]
Em 1914, foi inaugurado o Paço Municipal, sede da câmara dos vereadores, no mesmo lugar da demolida Casa da Câmara e Cadeia, por iniciativa do prefeito Feliciano Sodré. No mesmo ano, foi inaugurado o Palácio dos Correios e Telégrafos, próximo à Estação das Barcas. Ainda na gestão de Feliciano Sodré, foi inaugurado o Palácio da Justiça, na Praça da República.[23] Em 1917, foi inaugurado o prédio do corpo de bombeiros na Rua Marquês do Paraná, número 134, no Centro. Em 1918, foi inaugurada a Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, em estilo mossarábico, no bairro de Santa Rosa.[24]
Em 1920, a enseada de São Lourenço, um dos marcos da fundação da cidade, foi aterrada com terra proveniente de três morros da cidade.[25] Em 1922, foi inaugurada uma igreja anglicana em Icaraí, a All Saints Church, por iniciativa da colônia inglesa.
Em 1925, foi instalado um busto do imperador dom Pedro II no Largo de São Domingos, atual Praça Leoni Ramos, no bairro de São Domingos, em comemoração ao centenário do nascimento do imperador brasileiro. Estiveram presentes à cerimônia de inauguração o governador do estado do Rio de Janeiro Feliciano Sodré e o príncipe dom Pedro de Orleans e Bragança.[26] Em 1927, foi inaugurado o porto da cidade, no aterro feito sobre a antiga Enseada de São Lourenço.[27]
Em 1929, foi inaugurado o primeiro edifício de grande porte em concreto armado da cidade, na Avenida Jansen de Mello número três, com a função de abrigar o Instituto de Fomento e Economia Agrícola do Estado do Rio de Janeiro. O projeto foi de Pietro Campofiorito e contava com um elevador, o que era novidade para a época. Em 1935, foi inaugurada a biblioteca estadual na praça da República.[28]
Em 1937, foi construído o Castelinho do Gragoatá ou de São Domingos. No mesmo ano, foi construído um imenso trampolim de concreto na praia de Icaraí. Em 1938, o forte Marechal Floriano Peixoto foi renomeado forte Barão do Rio Branco em homenagem ao diplomata.[29] Foi criado o jardim zoológico de Niterói, no bairro do Fonseca[30]. Na década de 1940, foi construído o Cinema Icarahy, em estilo art déco. Em 1941, foi construído o Estádio Caio Martins, pelo governador Amaral Peixoto, para abrigar partidas do campeonato carioca de futebol.
Em 1942, foi aberta a avenida Amaral Peixoto, ligando a estação das Barcas, na praça Martim Afonso (atual praça Arariboia), ao novo centro cívico da cidade, a praça da República.[31]
Em 1943, o município de Niterói reincorporou a freguesia de Itaipu, atual Região Oceânica de Niterói.[32]
No período posterior à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o aumento da migração para a cidade, especialmente do interior do estado do Rio de Janeiro e da Região Nordeste do Brasil, resultou na ocupação dos morros da cidade, especialmente do Morro do Estado, formando as chamadas favelas.
Ao longo do século, foram construídos o Túnel Icaraí - São Francisco e o Cassino Icaraí, que rivalizava com o Cassino da Urca no Rio. Em meados do século, foi construído o Terminal Rodoviário Roberto Silveira em estilo modernista. Em 1950, o papa Pio XII elevou a Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, em Santa Rosa, à condição de basílica.[33] Em 1958, o cargueiro Camboinhas encalhou na Praia de Itaipu. O seu resgate revelou-se impraticável, forçando o seu desmonte. Tal fato nomeou aquela região da praia como praia de Camboinhas. Em 1959, a estação das barcas foi destruída pela população num incêndio na chamada Revolta da Cantareira ou revolta das Barcas, que protestava contra o alto preço e as más condições das barcas da companhia Cantareira. Em consequência, a marinha assumiu as barcas, construindo uma nova frota e a atual estação das barcas na praça Arariboia.[34]
Em 1960, foi criada a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, pela junção das faculdades públicas da cidade. Em 17 de dezembro de 1961, ocorreu o incêndio do Gran Circo Norte-Americano, na Avenida Rio Branco, que deixou 503 mortos.[35] Em 1964, um tumulto no Estádio Caio Martins numa partida do campeonato carioca de futebol entre o Canto do Rio e o Fluminense Football Club levou ao afastamento permanente do clube niteroiense da primeira divisão do campeonato carioca[36]. Em 1965, foi inaugurada a estátua de Arariboia na praça homônima em frente à estação das barcas.[37] A Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro mudou seu nome para Universidade Federal Fluminense.
Em 1967, a reitoria da universidade passou a ocupar o prédio do Cassino Icaraí.[38] No final da década de 1960, o trampolim na praia de Icaraí foi dinamitado por oferecer risco aos banhistas.
Nos anos 1970, a praça da República, no Centro, foi totalmente destruída para dar lugar a um prédio novo. Em 1973, foi criado o mercado de peixe São Pedro, na Ponta d'Areia. O mercado se tornou uma referência estadual em matéria de venda de frutos do mar.[39] Em 1974, foi construída a Ponte Presidente Costa e Silva ligando as cidades do Rio de Janeiro e Niterói e provocando um boom imobiliário em Niterói.
Referências
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- ↑ NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. 3ª edição. São Paulo. Global. 2005. 463 p.
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