Civilização romana/Agricultura/A quinta romana

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A quinta romana[editar | editar código-fonte]

Ao terminar a conquista romana, a Itália encontrava-se, portanto, nas mãos de duas espécies de exploradores: um campesinato de modesta condição que prosseguia os métodos ancestrais e poderosos proprietários, senadores romanos ou ricos burgueses locais que consideravam a terra a sua principal fonte de rendimentos. O contato com os países helenísticos ensinara, de fato, aos Romanos, que existiam no Oriente, na África (nas terras ocupadas por Cartago) explorações de alto rendimento. Por outro lado, o crescimento da população urbana exigia abastecimentos cada vez mais consideráveis, o que abria à agricultura italiana vias até então desconhecidas. É verdade que o trigo era importado da Sicilia, da África, em grandes quantidades e a preços que não podiam concorrer com os produtores italianos, mas as cotações do vinho e do azeite continuavam a ser remuneradoras. Por todas estas razões, assiste-se então ao nascimento de uma agricultura capitalista que se implantou em Itália, sem suplantar inteiramente as formas de exploração mais modestas, nas mãos dos pequenos e médios proprietários.

Temos a sorte de possuir uma obra que constitui o mais curioso testemunho desta transformação econômica. Escrita por Catão, um camponês de origem modesta que conseguira desempenhar um papel político de primeiro plano depois da vitória sobre Anibal, informa-nos sobre a concepção que os proprietários romanos então formavam sobre a vida rural: uma mistura de preconceitos tradicionais e novas ambições; é verdade que a vida no campo é considerada o ideal mais nobre que se pode apresentar ao homem, o que forma as naturezas mais enérgicas e mais virtuosas; mas, a par deste idealismo inegável, Catão atribui uma grande importância à atração do lucro. Muito realista, ele sabe bem que o proprietário romano, ocupado na sua atividade política, não pode viver na sua casa de campo; o patrão só lá pode ir em ocasiões importantes, quando se trata de orientar o trabalho para a estação seguinte, mas é ai que passa todos os momentos de lazer e, diz Catão, a sua estada será tanto mais agradável quanto melhor souber preparar uma casa confortável e aprazível. Assim, poderá vigiar o seu intendente (vilicus), escravo ou antigo escravo libertado, que é o seu representante quando se encontra ausente e dirige todo o pessoal.

Embora Catão pretenda considerar que um domínio de cem jugera (cerca de 25 hectares) tem uma extensão suficiente, torna-se evidente no seu tratado que pensa em extensões mais vastas, incluindo vinhas ou olivais que só por si atingem esta extensão. Da tradição, Catão conserva a idéia de que o domínio se deve bastar a si mesmo. Segundo uma fórmula que se tornou célebre, o proprietário deve "vender sempre, e nunca comprar". Tudo será feito em casa: utensílios, arreios, cestos, carroças, vestuário dos operários. Como antigamente, as mulheres fiarão a lã dos tosões fornecidos pelos rebanhos e tecê-la-ão durante o Inverno; naturalmente, é na quinta que se espremera a azeitona e se fabricara o azeite, é na quinta que se moerão os cereais. Assim, a propriedade deve compreender, para além das terras destinadas a dar lucro (olivais e vinhas), uma horta bem irrigada (os legumes excederão, rios serão vendidos no mercado), prados para alimentar os bois, campos de trigo para alimentar o pessoal (o trigo excedentário será vendido), um vimeiro para confecção de cestos e sebes, árvores para as construções e para o fabrico das charruas (a lenha para aquecimento será reservada ao patrão, os ramos serão transformados em carvão para venda), um pomar, carvalhos que produzem bolotas para os porcos. Veja Mais...

Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]

  • GRENIER, Bologne villanovienne et etrusque: Paris, 1912;
  • P. FRANCISCI, Primordia civitatis: Roma, 1959;
  • R. BLOCH, Le Mystère étrusque: Paris, 1957;
  • R. BLOCH, Les Origines de Rome: Paris, 1959.