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Civilização Egípcia/Segundo período intermediário

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Segundo Período Intermediário
1650-1550 a.C
Egito
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Dinastias 14-17

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Como já vimos no final do Médio Império, na 13ª Dinastia o Egito foi novamente dividido.

Um dos grandes motivos para o fim do Médio Império, foi a imigração dos asiáticos que começou a tomar grande vulto, ameaçando a estabilidade do país, uma vez que esses estrangeiros viviam sob suas próprias leis.

Assim, a monarquia ameaçada, dividida em diversas dinastias e diversos locais, lançou o país no caos, situação que os estrangeiros trataram de aproveitar.

Com relação às dinastias existem tantas dúvidas que não temos como dizer qual é a lista mais ou menos correta.

A lista de Abidos, pula direto de Ammenemes IV para o primeiro rei da 18ª Dinastia.

Aceita-se que a data do reinado de Ahmose I (fundador da 18ª Dinastia) esteja acurada e portanto assim é fixada a duração do Segundo Período Intermediário.

Na verdade não há uma data ou fato determinado para marcar um período. Tanto o primeiro como o segundo períodos intermediários, foram períodos de transição que envolveram a ruptura de um governo estabelecido, a dissolução do poder centralizado com o surgimento de uma série de insignificantes governantes regionais.

Período do governo estrangeiro

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O período que agora focalizamos é muitas vezes chamado de período do governo dos hicsos ou da invasão dos hicsos.

Na verdade, não houve propriamente uma invasão. O povo chamado de hicso já vivia no Baixo Egito, no Delta, há algum tempo.

O Delta era um verdadeiro paraíso para o pastoreio, para a agricultura e os povos vindos das agruras do deserto encontraram ali fartura, paz e um povo desenvolvido que lhes permitia uma grande liberdade e assim assimilaram a cultura e os costumes dos egípcios.

O que ocorreu foi que, com a dissolução do poder central, havia reis egípcios estabelecidos em Tebas e os hicsos se aproveitaram da confusão política se fortaleceram no Delta e de lá começaram a formar um governo, como veremos adiante.

De acordo com a história do Egito, podemos observar que os reinados prolongados eram uma indicação de prosperidade do país, de modo que os períodos em que podemos contar muitos reis com reinados curtos, indicam fases de convulsão social, política e econômica.

Há uma grande dificuldade para se organizar os reis que governaram esse período. De acordo com Mâneton, a 14ª Dinastia consistiu de setenta e seis reis de Xois (hoje Dakha no Delta).

Africanus conta que a 15ª Dinastia consistia de seis reis estrangeiros que chamavam a si mesmos de pastores ou hicsos.

A 16ª Dinastia foi novamente de reis pastores, em número de trinta e dois.

Papiro de Turim

Na 17ª Dinastia reinaram paralelamente os reis pastores e os reis tebanos, quarenta e três reis em cada linhagem durante cento e cinqüenta e um anos.

Com relação ao tempo de duração existem tantas discrepâncias que não o temos praticamente mencionado.

Das listas de reis, apenas a de Karnak enumera os governantes deste período. Ela menciona mais ou menos, trinta reis e a metade deles foram confirmados por objetos, blocos de construção inscritos, estelas e outros tipos, na sua maior parte pertencentes aos reis da área de Tebas.

Infelizmente na lista de Karnak os nomes estão de tal forma misturados, que é impossível seguir uma seqüência confiável.

Já o Cânone de Turim , embora esteja muito fragmentado, distribui os reis a partir da 13ª Dinastia até a 18ª Dinastia. Porém não mais de sessenta nomes estão preservados o suficiente para se atestar sua veracidade e, apenas um terço deles foram confirmados em fragmentos, monumentos ou inscrições.

Os estudiosos chegaram a conclusão, que o Cânone de Turim enumera muitos reis que governaram simultaneamente, possivelmente de partes distantes do país. Inclusive Mâneton, ao mencionar os reis de Xois, parece ter consciência do fato, mas, os registrou como dinastias consecutivas.

Procuramos anotar o que foi possível sobre cada rei das dinastias desse período, na página dedicada apenas as dinastias.

hicso por Lepsius

O historiador judeu Josephus, usa aqui as palavras de Mâneton (se é que se pode confiar nisso), para falar sobre esses estrangeiros.

Ele os chama de invasores de uma raça obscura, que venceram usando a força, queimaram cidades, destruíram templos e massacraram o povo. Se estabeleceram em Mênfis, deixando guarnições em pontos importantes, até escolher um dos seus membros para governar o país.

O nome deste governante era Salitis e ele escolheu um dos nomos com o local ideal, uma cidade chamada Avaris, que fortificou com muralhas e dela fez sua capital.

Os egípcios envergonhados e irritados com o domínio estrangeiro, chamavam os reis estrangeiros de Heka-Khaswt ou seja governantes de terras estrangeiras. Os gregos modificaram a palavra, que virou Hicsos.

Josephus os chama de pastores cativos, porque em egípcio hyk significa cativo. Mas este é um ponto discutível porque se atém a religião e nosso objetivo é a história.

Na realidade, existem muitas versões e uma delas, bastante interessante, diz que a palavra hicso deriva da expressão Hikkhase, que significa chefe de um país estrangeiro nas colinas. Essa palavra, no Médio Império, era usada para designar os sheiks beduínos.

Foram encontrados com os reis hicsos, diversos escaravelhos com esse título, mas a palavra para país, estava no plural. Isso combina com o Cânone de Turim.

Josephus acreditava que a palavra hicso se referia a toda uma raça, mas estava errado. O termo se refere apenas ao rei.

Por outro lado, muitos estudiosos concluíram que os hicsos eram uma raça de invasores, um povo semita que pode ter vindo do sul de Canaã ou da Síria.

Hoje, se acredita que a invasão do Delta por outro povo não se mantém, não foi propriamente uma invasão. Apenas se admite a infiltração dos palestinos, que buscavam refúgio num local fértil e pacífico.

Escaravelhos do período mencionam chefes chamados Anat-her e Yakob-her, o que nos faz deduzir que eram semitas.

afresco minoano encontrado em Avaris

Hoje é praticamente impossível mudar o hábito de se ver os hicsos como uma raça específica, quando hicso deve ter sido apenas o chefe.

Os egípcios usavam a palavra aamu para se referir aos detestados intrusos, que significa asiáticos e era a principio usada apenas para nomear os prisioneiros palestinos que viviam como servos no Egito.

Ao examinarmos o governo do faraó Amenemhet III da 12ª Dinastia, vamos ver que ele foi um grande promotor de obras. Então, temos a hipótese de que esse povo chamado de hicso, pode ter chegado ao Egito em busca de trabalho, nas inúmeras construções.

Aos poucos eles subiram na escala social e se adaptaram aos usos e costumes egípcios. Na verdade, no Médio Império houve um aumento muito grande da imigração. No final da 13ª Dinastia a região do Delta tinha uma grande população de origem asiática.

Com o caos que reinava na época, foi fácil para esse povo entrar no Egito apoiado pelos seus membros que já viviam lá, trazendo armamentos desconhecidos pelos donos da terra. Além disso, em Avaris eles mantinham comércio com outros povos e seus gostos artísticos eram diferentes dos egípcios.

Os chamados hicsos possuíam armaduras, cimitarras, bons punhais, arcos feitos de madeira e chifre e o mais importante, usavam carros de guerra puxados por cavalos (animal desconhecido no Egito). Eles utilizavam o bronze ao invés do cobre para forjar armas.

Além disso, introduziram o tear vertical, instrumentos e estilos musicais, alimentos como a azeitona e a romã, novas raças de animais e novas técnicas de fazer a colheita.

O governo dos hicsos ficou restrito ao Baixo Egito, ainda que o Alto Egito pagasse tributos aos reis estrangeiros. Embora eles tivessem adotado os costumes do país, o sonho de se tornarem verdadeiramente egípcios morreu em um século.

Tebas, a resistente

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Tebas

Na realidade por mais força e poder que os estrangeiros tivessem, jamais foram capazes de subjugar o governo tebano, herdeiro de direito do orgulhoso sangue real dos faraós.

Uma família de príncipes tebanos reagiu de maneira brilhante e feroz contra a dominação estrangeira.

Em Tebas ficava uma espécie de governo paralelo dos egípcios, que junto com os poderosos sacerdotes planejavam expulsar de seu país, os estrangeiros.

Durante o tempo de dominação de parte do país pelos chamados hicsos, os egípcios aprenderam a manejar suas armas, aprenderam suas táticas e mantiveram seu orgulho e a resistência aos invasores.

Como ocorreu na 11ª Dinastia, também originaria de Tebas, a qual pertencia Mentuhotep II que reunificou o Egito após o primeiro período intermediário, vamos ver a região de Tebas novamente ser o foco da resistência.

Após uma guerra sangrenta começada por Tao II, seguido por seu filho Kamose um príncipe de grande coragem e determinação e terminada por seu irmão Ahmose que expulsou os hicsos para sempre do Egito.

A história dos hipopótamos

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O décimo quarto rei da dinastia tebana que governava paralela à dos estrangeiros, era Tao II (Sekenenre), filho de Tao I e da rainha Tetisheri.

Conta a lenda que Tao II recebeu um aviso de Apophis, rei hicso, que vivia na capital Avaris, no Delta, dizendo que os hipopótamos do lago sagrado de Tebas não o deixavam dormir com seus roncos.

Ele queria que Tao II mandasse matar os hipopótamos.

Tao tomou isso como um insulto, afinal os hipopótamos ficavam a quatrocentas milhas do quarto de Apophis!

Caso essa lenda tenha um fundo de realidade, e é bem possível que tenha, o que se pode presumir é que os príncipes tebanos estavam incomodando os hicsos.

O que Apophis realmente queria era deixar bem claro quem mandava no Egito. O problema é que vivendo em sua cidade fortaleza no Delta, ele não se deu conta da capacidade de reação dos egípcios.

infantaria egípcia

Tao II, descendente dos grandes faraós, imediatamente declarou guerra aos governantes estrangeiros. Acompanhado de seu filho Kamose, sua pretensão era juntar exércitos a medida que marchava até o Delta.

Tao II deve ter sido morto no primeiro ano da luta. Sua múmia foi recuperada e mostra claramente os ferimentos dos golpes recebidos por machados, lanças e outras armas.

Seu filho e herdeiro Kamose (Wadjkheperre) tomou as rédeas da rebelião e foi a luta comandando seu povo e contando com as forças núbias como aliadas.

Os núbios eram guerreiros temíveis e ferozes que lutavam na linha de frente, eram os assustadores medjai, arqueiros imbatíveis e donos de uma coragem sem limites.

O chefe hicso teve que recuar com seus exércitos perante Kamose, até a cidade fortaleza de Avaris onde se escondeu.

O hicso quis negociar a rendição mantendo Avaris e a maior parte do Delta, mas Kamose não negociou e prosseguiu na luta, mantendo os estrangeiros sob pressão constante e sitiando a cidade.

Kamose levou os egípcios à vitória e assumiu o trono, abrindo caminho para o Novo Império.

Quando Kamose morreu, não se sabe se de causas naturais ou por ferimentos em batalha, sem deixar herdeiros, seu irmão Ahmose I assumiu o trono e se tornou o primeiro faraó do Novo Império.

Uma pequena nota

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A história que conta a querela entre o rei hicso Apophis e seu opositor tebano Seqenenre foi encontrada no Papiro Sallier I da coleção do British Museum, onde possui o número 10185. Foi escrito em hierático e está datado do reinado de Merenptah, o quarto rei da 19ª dinastia.

Infelizmente o papiro está bastante estragado e existem muitas lacunas, antes que ele termine abruptamente na terceira linha da terceira página. De qualquer maneira, a história é muito interessante do ponto de vista histórico.

As grandes rainhas

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sarcófago de Aahotep

É importante frisar aqui o papel das rainhas nessa época, que foi crucial para o sucesso dos tebanos. Elas não foram apenas esposas e mães dos futuros reis, mas muitas vezes lideraram os exércitos em caso de morte do marido.

A esposa do rei Senachtenre Tao I da 17ª Dinastia de Tebas, Tetisheri, ficou conhecida como a mãe do Novo Império, por causa de sua influência sobre seus fundadores. Ela foi a mãe de Sekenere Tao II e seus netos foram Kamose e Ahmose I. Embora não fosse de sangue real, existe uma estatueta dela no Museu Britânico onde se observa que era muito bela e usava a coroa do abutre.

Ela viveu por setenta anos e criou os guerreiros que iriam expulsar os asiáticos do Delta. Embora seu marido não tenha sido faraó, ela era uma mulher que viveu para servir ao Egito.

Seu neto Ahmose I mandou construir para ela uma tumba e um cenotáfio em Abidos.

A rainha Aahotep possuía o título de Senhora das Terras (Alto e Baixo Egito) e Senhora das Ilhas do Norte. Ela foi esposa de Sekenenre Tao II e uma inscrição em Buhen sugere que ela foi regente junto com os filhos Kamose e Ahmose I.

Seu papel foi importante protegendo o reino na região sul, enquanto seus filhos estavam lutando contra os estrangeiros no norte.

Ahmose-Nefertari por Lepsius

Uma estela no Templo de Karnak a homenageia com as seguintes palavras:

Ela foi aquela que seguiu os ritos e cuidou do Egito;
ela cuidou das tropas egípcias e as protegeu;
ela trouxe os fugitivos de volta e recolheu os desertores;
ela pacificou o Alto Egito e expulsou os rebeldes.

Na tumba da rainha Aahotep, havia muitas armas e três moscas de ouro que eram um prêmio por bravura na luta contra os estrangeiros.

A filha de Aahotep e Sekenenre Tao II, Ahmose-Nefertari, também parece ter sido muito influente durante o reinado de seu esposo e irmão Ahmose e após a morte do faraó, se tornou regente de seu filho Amenhotep I e mais tarde de seu neto Tutmose.

Ela é descrita como uma mulher negra, até mesmo por causa dos afrescos e das estátuas que mostram sua figura como negra. É complicado explicar isso, até porque ela e Ahmose eram irmãos e como se vê nos afrescos, ele tem a mesma cor dos outros egípcios.

Seu nome está registrado no Sinai e numa inscrição na ilha de Sais.

Ahmose-Nefertari recebeu cultos após sua morte e foi a primeira rainha conhecida como Esposa do Deus Amon. Também usava os títulos de Senhora das Terras, Senhora dos Países Estrangeiros, Senhora das Duas Terras.