Raizes da intolerância
Raízes da Intolerância (Editora Edufscar), reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros que se dedicam a refletir sobre a temática da intolerância em suas diferentes dimensões, a partir da psicanálise e das Teorias Sociais. O tema é abordado de distintas perspectivas constituindo o fio condutor que direciona o leitor a uma compreensão da psicanálise lacaniana sobre várias áreas da pesquisa como, por exemplo, a filosofia, estudos de mídia, a psicologia, dentre outros que se debruçam a se atentar sobre as distintas formas de Intolerância.
O primeiro texto é do pesquisador e professor da USP Christian Dunker que aborda a questão em nosso país desde a cultura das tribos indígenas. O texto nos direciona a refletir como, ainda, são encontrados traços do jeitinho brasileiro em nossa cultura e como nossa miscigenação está contaminada de traços que buscam mascarar o racismo, a xenofobia e o machismo -evidenciando como questões aparentemente diferentes estão conectadas sócio e historicamente.
No texto Desejo, Demanda e Psicoterapia: Sobre Grandes Grupos e Vizinhos Stephen Frosh - a partir de uma perspetiva histórica fundamentada em pesquisadores como Levinas, Butler e Zizek - são discutidas as implicações da dissolução de fronteiras nos grandes grupos, a demanda por autonomia e o papel alteridade na construção da subjetividade e de como a intolerância transita do vizinho para os grandes grupos.
Lisa Baraitser e Stephen Frosh no capitulo Pensamento, Reconhecimento e Alteridade evidenciam as transformações histórica e social do que provoca o mal estar na cultura. São tratados, ainda, neste capítulo os aspectos do processo de constituição do sujeito e do outro, ou seja, sobre a
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primeira separação do filho com a mãe e o pai no processo formador de reconhecimento e alteridade, do sujeito consigo e com o outro. Logo, destacam-se durante todo decorrer do capítulo a discussão sobre o conceito de Interrupção, que marca, principalmente, o papel do outro na constituição da subjetividade de cada um.
O racismo é tratado no livro pelo pesquisador Derek Hook (Fanon e a Economia Libidinal) que destaca os mecanismos subjacentes no racismo, fundamentando sua análise a partir das teorias de Frantz Fanon. Dessa maneira, o autor nos propõe novas abordagens sobre a temática – intolerância – nos direcionando a refletir sobre as distintas formas de racismo e xenofobia marcadas nas relações de poder, principalmente, destacando como esses aspectos implicam na construção de gêneros, da heterossexualidade à homossexualidade.
João Angelo Fantini em seu capítulo - A Segregação Imaginária do outro: Políticas de Igualdade e Processos de Racialização – trata sobre as políticas de igualdade, destacando, principalmente, as cotas que há atualmente no Brasil para negros nas Universidades realizando, assim, um cotejo sobre as diferenças culturais e políticas de nosso país com o Reino Unido. O intuito do pesquisador é nos levar a refletir como essas mudanças sociais podem afetar nossa imagem de nacionalismo historicamente atrelada ao período de ditadura de formar 'um só país'.
O livro representa uma excelente contribuição tanto para os pesquisadores das mídias, os filósofos e os psicanalistas como para os interessados na temática, pois apresenta de forma simples e objetiva diferentes pontos de vista e análise sobre um tema tão complexo: Intolerância.
Dessa forma, ao iniciarmos nossa leitura sentimo-nos convocados a refletir sobre os processos de subjetivação constituintes na construção do sujeito. A leitura flui de forma prazerosa e mal percebemos quando alcançamos as páginas finais da obra, que nos deixam com um gostinho de quero mais. Logo, só nos resta esperar se será publicado Intolerância II que com certeza no seduzirá tanto por sua temática quanto pela clareza da explicação e aplicação da teoria lacaniana.