Matias Aires/Prefácio
Matias Aires é considerado por muitos o maior nome da Filosofia de Língua Portuguesa do século XVIII. Sua linguagem é clara e inspirada em ideias iluministas com estética barroca. Matias Aires não possui uma singularidade marcante de estilo; sua linguagem é comum, bastante clara, embora por vezes arcaizante, aproximando-se mais da prosa seiscentista, de que conserva, por vezes, certas construções barrocas. Não é, portanto, considerado um gênio da prosa, embora admita que na sua escrita se acha uma certa musicalidade. Por outras palavras, atendendo aos estilos referidos, situa-se muito acima da média, como um verdadeiro artista, entre a clareza no dizer e beleza no mostrar. A sua escrita, para além de pender para as formas arcaicas (não se olvide que o mote é Eclesiastes), é rica, recheada de antíteses, metáforas e belas comparações e ironias, contrastando com o estilo solene empregado.[1]
Pode-se considerá-lo um moralista, tendo sido influenciado pelos moralistas franceses Marquês de Vauvenargues, La Rouchefocauld, Jean de La Bruyere. Seu texto apresenta inúmeros exemplos, em linguagem clara e fluente, em que os períodos compostos por subordinação raramente assumem estrutura labiríntica, o que parece decorrência da feição sentenciosa da sua frase: muitas orações ou períodos simples de Matias Aires são verdadeiras máximas.
Cedo, opta por abandonar a língua materna na redação dos seus escritos, anunciada no prólogo das Reflexões e de facto levada a efeito nas edições subsequentes, utilizando-se de outra grafia, e experienciando principalmente uma profunda descrença relativamente ao mérito intrínseco de suas composições (caracterizadas como meros esboços inconclusos) e o profundo desencanto quanto à sua capacidade para influenciar e agir sobre a realidade.