Matias Aires/Contexto histórico
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No século XVIII o Brasil ainda era uma colônia de Portugal. Em 1711 quando os franceses comandados por Duguay-Trouin, atacaram e saquearam o Rio de Janeiro e enquanto muitos notáveis entraram em pânico, José da Silva soube reagir à altura da situação. Tomou a liderança da defesa, organizando, a expensas suas, a defesa da vila da Ilha Grande, pagando a soldados e reunindo escravos e amigos, e, noutra empresa, arriscando a própria pele: fingiu-se pobre e simpatizante dos interesses dos invasores, sendo recebido por eles e conseguindo assim informações importantes que ajudaram à defesa da vila. Destarte, fez-se um herói do povo e o filho, não terá somente gozado da vasta fortuna do pai, terá igualmente gozado do seu prestígio. Aires veio do Brasil para a metrópole e encontrou um novo mundo e hierarquia, que não reconhecia o seu valor e o da sua família. Por isso, crendo no seu valor próprio, insurgiu-se contra essa hierarquia, injusta, imérita e tradicional, que lhe recusava acesso aos lugares de destaque/vaidade, à celebridade (que gozaram no mundo que deixaram). Pode-se dizer que em vida ambos fracassaram no teatro da vaidade, mas que o tempo fez alguma justiça ao filho, que graças às letras em certa medida perdurou.
De 1712 a 1720
[editar | editar código-fonte]José Ramos da Silva ofereceu um Te Deum em honra da filha primogénita de D. João V: “um espectáculo enorme como uma apoteose, deslumbrando o rapazinho que a ele assistiria de um lugar privilegiado. Gente, incenso, ouro, coros, luzes, tudo lhe haveria de ter parecido a recompensa unânime e magnífica da superior liberalidade da sua família”.
Em Lisboa, para onde a família viera em 1716, José Ramos da Silva era nomeada representante do Senado de São Paulo perante D. João V; e arrematou por um triénio o contrato da dízima da Alfândega do Rio de Janeiro a um preço mais alto que o habitual”;
Depois de duas recusas, devido à sua condição social, consegue o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo e compra o muito reputado ofício de provedor da casa da Moeda”. José Ramos da Silva interna as duas filhas, Teresa Margarida e Catarina, em conventos: “só com a filha Catarina despende ele 15 mil cruzados no Convento das Trinas e, seguidamente, outros 20 000 na sua transferência para o Convento de Odivelas. Aí, entre móveis luxuosos, pratas e criadas, ela passa a receber uma tença anual de 400 000 réis (mil cruzados), tendo previamente renunciado, por escritura pública à sua herança”, tal como a filha Teresa Margarida;
Liberalmente, José Ramos da Silva faz avultados empréstimos financeiros a diversos nobres; e Matias Aires, ao longo da sua existência, e nomeadamente até à morte de seu pai, em 1743, imita a ânsia de promoção social de seu pai.
Após 1726
[editar | editar código-fonte]Com 22 anos, habilita-se pela primeira vez ao hábito da Ordem de Cristo, que lhe é recusado com as mesmas alegações porque fora primitivamente recusado a seu pai – humildade de condição, tentar casar com a filha do Barão da Ilha Grande. Após ter golpeado na língua uma escrava e de ter sido condenado a quatro anos de degredo em Castro Marim, parte para a Europa em viagem, instalando-se, primeiro, em Baiona, na corte do infante D. Manuel, desentendido com seu irmão, rei D. João V, e depois para Paris, onde termina o curso em Direito Civil e Canónico, que deixara incompleto em Coimbra, onde se matriculara em 1722.
- A partir da estada em Paris, altera o seu nome de Matias Aires José da Silva para Matias Aires José da Silva D’Orta, este último o apelido da mãe; mais tarde acrescentará ora de Eça, ora e Eça, nobilitando os apelidos.
- Um ano após a morte do pai, Compra por 80 000 cruzados o palácio do conde de Alvor, actual Museu nacional de Arte Antiga, onde passa a viver;
- Pede a seu amigo Francisco Mendes Góis, vivendo em Paris, que lhe encontre uma noiva francesa para casar, educada em convento pois “para viver em Portugal é preciso não saber que coisa é França”, intento que nunca se realizará;
Em 1751 casa-se por procuração com D. Genoveva Antera de Noronha, senhora de 22 anos, aparentada com gente nobre; mas segundo ele (Matias Aires) informa no seu testamento, o casamento virá a ser dissolvido por “rato e não consumado”.
Culto, educado, viajado, formado por Paris, consciente de níveis sociais inultrapassáveis, Matias Aires terá abandonado, a partir da década de 40, em ano incerto, as pretensões de nobilitação social, iniciando um processo de crítica das instituições tradicionais, nomeadamente as vinculadas ao estatuto da nobreza, de que inúmeros parágrafos de Reflexões manifestarão posteriormente.
É possível que a morte do pai, em 1743, a perda do processo judicial contra as pretensões da irmã Teresa Margarida ao direito à herança paterna, em 1745, tivessem contribuído para um arrefecimento da necessidade de convívio social em Matias Aires. No entanto, em 1744, no centro da década da sua crise, que terminará com a apresentação para publicação, em 1750, do seu livro maior aos serviços de censura do Santo Ofício, “corre o boato de quepretende comprar por 70 mil cruzados o cargo de secretário da Guerra”.
Propriamente, não parece ter havido um acto de dessocialização por parte de Matias Aires, mesmo quando se recolhe à quinta da Agualva herdada do pai, já que continuará a exercer o cargo de provedor da Casa da Moeda, até 1760,ano em que é suspenso desta instituição pelo Marquês de Pombal por profundos e prolongados desentendimentos com os trabalhadores moedeiros e cunhadores. Morrerá logo em 1763, em Agualva, onde os seus restos mortais repousarão na capela da quinta, acompanhados dos corpos de sua mãe, de seu pai, de sua irmã Catarina (que abandonara o convento após o terramoto de 1755) e de Helena Josefa da Silva.[1]