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Japão Através da História do Governo Japonês/O Começo do Império

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II O Início do Império 660 a.C.-192 d.C.

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De acordo com a tradição, Itsuse e Iwarehiko se reuniram um dia em sua residência em Hyūga, o local que achavam mais adequado para ser a sede da administração, e decidiram seguir em direção ao leste. No estreito entre as ilhas Kyūshū e Shikoku foram recebidos por uma divindade terrestre, e sob sua orientação chegaram a Usa na atual Província de Buzen, onde os habitantes construíram um palácio para eles e os trataram hospitaleiramente. Passando pela Província de Chikuzen, cruzaram o mar até Aki na ilha principal, e depois viajaram para Província de Kibi, passaram dez anos se dedicando a essas viagens. De Kibi passaram por Naniwa para Tadetsu na atual Província de Izumi. O objetivo da expedição era chegar a Província de Yamato, onde então governava um poderoso chefe chamado Nagasunehiko que, sob a autoridade de Nigihayahi, um descendente de um deus celeste, de quem recebeu tal autoridade, estendera sua influência sobre a região circundante. Este chefe, tendo conhecimento da aproximação das divindades e de seus seguidores, reuniu suas forças para se opor a eles. Na batalha que se seguiu, Itsuse foi ferido por uma flecha.

Nesse momento o exército invasor se desviou rumando para a Província de Kii em direção ao mar. Nesta jornada Itsuse morreu por causa de sua ferida. Seu irmão, Iwarehiko, então avançou para a costa leste de Kii e, depois de matar um chefe local, foi para Província de Yoshino sob a orientação do príncipe Michiomi (ancestral do Clã Ōtomo) e do príncipe Ōkume (ancestral do Clã Kume). Os habitantes, moradores das cavernas, descobrindo que um herdeiro do deus celeste havia chegado, saíram para encontrá-lo e o aceitaram como seu líder. No decorrer de sua campanha, Iwarehiko derrotou vários chefes rebeldes e mais uma vez planejou uma expedição contra Nagasunehiko. Este, por sua vez, enviou-lhe uma mensagem, dizendo: "O Príncipe Nigihayahi, filho da Deidade Celeste, veio em um barco de guerra e se casou com minha irmã, Kashiya, e tiveram um filho, o Príncipe Umashime. Eu ajudei o Príncipe Nigihayahi a se tornar o soberano da terra. Não pode haver dois representantes legítimos da Divindade Celestial. Você deve ter vindo para nos privar injustamente do reino sob o pretexto de sua origem celestial." Ao ler a mensagem Iwarehiko respondeu: "Existe mais de um filho da Deidade Celeste. Se o seu soberano for, de verdade, filho da Deidade Celestial, deve ter alguma prova. Deixe-me vê-la." Nagasunehiko então pegou as flechas e o alforge do Príncipe Nigihayahi e trouxe consigo. Iwarehiko, depois de examiná-los, declarou que eram genuínos, e mostrou suas próprias flechas e alforge para Nagasunehiko. Mas Nagasunehiko, embora sabendo que Iwarehiko tinha origem celestial, mantinha um semblante impávido e decidido a não mudar sua posição. O Príncipe Nigihayahi, percebendo claramente a disposição irracional de Nagasunehiko em iniciar uma guerra fratricida, o matou e fez com que todos os seus homens passassem a servir o comandante do exército invasor. Bem satisfeito com este ato, Iwarehiko tratou o príncipe de maneira cordial e recompensou sua conduta leal. Ordens foram então emitidas aos capitães para exterminar todos os insurretos da terra, e a Província de Yamato foi totalmente apaziguada, o conquistador estabeleceu sua capital em Kashiwabara, em Yamato, e nomeou divindades para os vários cargos de sua corte, o poder imperial foi sendo estendido e a administração colocada em uma base fixa. Este foi o ano em que se iniciou a história japonesa. Anais posteriores fixaram o ano em 660 a.C., e denominaram o príncipe vitorioso como Imperador Jimmu, o primeiro soberano do Império do Japão.

Após a morte do Imperador Jimmu, seu filho mais novo, o Príncipe Takishimimi, procurou usurpar a soberania. O filho mais velho, o Príncipe Kamyaimimi, suspeitando da trama, revelou-a ao seu irmão mais novo, Kannuna-gawamimi, que matou o usurpador. Então o príncipe mais velho renunciou ao trono em favor de seu valente irmão, que assim se tornou o segundo imperador, Suisei. Depois dele, seguiram os imperadores Annei, Itoku, Kōshō, Kōan, Kōrei, Kogen e Kaikwa, cujos reinados duraram 450 anos e são singularmente desprovidos de eventos registrados.

Nestas eras primitivas, a vida das pessoas era naturalmente simples. A população deve ter sido pequena e a comunicação entre diferentes partes do pequeno império era extremamente difícil. Barcos eram movidos por remos, pois as velas eram desconhecidas. Os invasores devem ter atingido um estágio mais elevado de cultura do que os nativos vencidos. As moradias da aristocracia, por exemplo, eram casas de madeira rudemente construídas, cujo modelo simples ainda sobrevive nos santuários Shintō dos dias atuais, enquanto os autóctones habitavam principalmente poços escavados no subsolo. No todo, entretanto, ambas as classes haviam avançado parcialmente para um modo de vida agrícola e dependiam principalmente da subsistência para pescar e caçar. Arcos e flechas ou armadilhas eram os principais instrumentos usados ​​na caça, e anzóis, cormorões e açudes serviam para pescar. Métodos de preparação de alimentos já haviam sido elaborados, e a arte de fermentar sake era conhecida. Progressos marcados também ocorreram em questões de vestuário. De peles de animais ou tecidos feitos de cânhamo e tingidos de vermelho e verde com extratos de ervas, agora faziam toucas, túnicas e pantalonas. Ornamentos para o pescoço, braços e pernas consistiam de contas de cristal, ágata ou vidro, eram gemas polidas e sinuosas, moldadas em cilindros ou em forma de emblemas e amarradas juntas. As artes da mineração e da fundição de minérios, bem como da fundição de metal, eram conhecidas, pois, além de pontas de flechas e outras armas de pedra, foram confeccionadas lanças e espadas de cobre ou ferro, juntamente com arados e machados de metais duros.

É interessante saber que no casamento o noivo, contrariamente ao costume moderno, ia morar na casa da noiva. Um homem também podia ter várias esposas, mas nunca era permitido a uma mulher ter mais de um marido. A adivinhação sempre foi empregada para resolver questões duvidosas. Música e dança já eram conhecidas, o koto e a flauta sendo empregados como instrumentos musicais. Emoções de tristeza ou alegria, amor ou desapontamento, eram expressas em música, a canção mais antiga existente foi atribuída à divindade Susanoö. O Imperador Jimmu também comemorava com frequência grandes feitos militares com música, encorajando e revivendo o espírito de seus guerreiros.

Existia um profundo temor e respeito pelas divindades nacionais, assim como um medo supersticioso com inúmeros espíritos, prevalecia em todos os lugares, em todas as classes da sociedade. Se o povo admitiu prontamente o governo do Imperador Jimmu, era em grande parte porque o consideravam um descendente dos deuses. O imperador, por seu lado, firmemente convencido de que o bem e o mal eram controlados pela vontade divina, nunca deixou de realizar ritos de sacrifício. Além do costume de extrema reverência para com as divindades cresceu uma aversão à impureza sob qualquer forma, de modo que cabanas separadas eram construído para abrigar os corpos dos mortos ou para as acolher as mulheres na época do parto, e se algum homem entrasse em contato com algum objeto impuro, ele se banhava em um rio para se purificar.

Naturalmente, pouca distinção existia entre religião e governo, entre o santuário e o palácio. Ao concluir seu trabalho de conquista, Jimmu ergueu um palácio em Kashiwabara, no qual depositou as três relíquias, nas quais ele mesmo residia e onde governava pessoalmente o império. Cada um de seus oito sucessores seguiu seu exemplo. O décimo imperador, Sujin, contudo, temendo que as relíquias pudessem ser poluídas, fez duplicatas do Espelho e da Espada, e reverentemente depositou os originais em um santuário em Kasanui em Yamato, onde uma das princesas imperiais foi confiada com o dever de guardá-las e realizando ritos religiosos. Assim, o santuário e o palácio foram finalmente separados. Posteriormente, esses objetos sagrados foram removidos para a Província de Ise e colocados no grande santuário que existe ali. A Espada foi posteriormente levada para Atsuta na Província de Owari, onde foi construído o Santuário de Atsuta para abrigá-la.

Durante os reinados de Sujin e seu sucessor, Suinin, a agricultura e a comunicação no país foram melhoradas, os principais problemas na região em torno da Corte foram resolvidos e a área do império se estendeu amplamente. A extensão do domínio imperial, no entanto, trouxe em seu bojo um crescimento nos conflitos com as tribos ainda não subjugadas do norte e do sul. Desde o reinado de Keikō', o sucessor de Suinin, ouvimos falar da história deste conflito. O Kumaso de Tsukushi, na ilha de Kyūshū, levantou-se em armas e o imperador teve que conduzir uma campanha por vários anos para apaziguar a região. Mal a paz foi restaurada, as tribos do sul se rebelaram novamente. Desta vez, o valente Príncipe Yamato Takeru (conhecido como Yamato-dake), que foi enviado a Tsukushi para subjugar os insurgentes, teve que recorrer à estratégia em vez da guerra. Tendo se disfarçado de garota, conseguiu entrar na casa do chefe de Kumaso, e depois matou o chefe e seus guerreiros enquanto estes estavam bêbados. Ele também derrotou muitos outros príncipes rebeldes e retornou a Yamato em triunfo.

Enquanto a guerra ainda ocorria em Kyūshū, o imperador Keikō, ouviu de um comissário especial que havia enviado ao nordeste do império, que naquela região chamada Hidakami, havia pessoas de ambos os sexos que usavam seus cabelos amarrados, que tatuavam seus corpos e realizavam atos de bravura. Eles eram conhecidos como Emishi e suas terras eram extensas e férteis. O comissário recomendou que essas terras deveriam ser acrescentadas ao domínio imperial, mas afirmou que estes Emishi dificilmente entrariam para o Império de bom grado. Após o retorno do Príncipe Yamato-dake da conquista dos Kumaso este se ofereceu para empreender a conquista dos Emishi. Depois de subjugar revoltas locais em seu caminho, prosseguiu por mar até a região de Hidakami. Quando seus barcos se aproximaram da margem, Takeru mandou colocar um grande espelho na proa de sua embarcação, e quando os chefes emishi e seus seguidores avistaram o reflexo vindo do navio, ficaram aterrorizados e jogaram fora seus arcos e flechas e a partir disso se submeteram ao Império. O príncipe aceitou a homenagem, e alistou sua ajuda na conquista de outros rebeldes que ainda resistiam ao progresso das forças imperiais. Parece provável que naquela ocasião o Takeru tenha avançado até a província de Iwaki. Em sua jornada de volta, que foi mais uma vez assolada por dificuldades locais, foi acometido por uma grave doença, que logo se mostrou fatal. O imperador lamentou amargamente a morte de seu amado filho, e a história do galante príncipe ainda é querida para o coração de todas as crianças do Japão.

A administração do império, que teve sua extensão muito ampliada durante três reinos sucessivos, foi agora reorganizada pelo Imperador Shōmu, filho de Keikō. A natureza da reforma feita por Shōmu é, no entanto, pouco conhecida. Quando o Imperador Jimmu estabeleceu o cargo de governador local, havia apenas nove províncias, mas o número aumentou muito durante os reinados de Kaika, Sujin e Keikō, e se tornou sessenta e três no tempo do Imperador Shōmu. O Imperio então se estendia para o norte até as províncias de Mutsu, Sado e Noto; para o leste até a Provincia de Hitachi; para o oeste até as Ilhas Amakusa, e para o sul a Província de Kii. Em toda as províncias governadores foram nomeados para administrar os assuntos locais. Posteriormente, o processo de divisão continuou até que, no reinado do Imperador Suikō, o número total de províncias chegou a 144, no qual permaneceu até 645 d.C., a data da chamada Reforma Taika. Essas divisões locais, embora aqui mencionadas como províncias, tinham, de fato, diferentes denominações - como kuni (província) ou agata (distrito) - e não eram de área uniforme. O termo kuni foi empregado para designar uma área delimitada por montanhas ou rios, enquanto a agata não tinha tais limites geográficos. Em geral, o primeiro era o mais extenso, mas em conseqüência das características naturais do país, a agata às vezes era maior. Tudo relacionado ao governo local do Japão antigo é, no entanto, um dos assuntos mais obscuros da história.

Os reinados dos primeiros treze imperadores, de Jimmu a Shōmu, podem ser considerados a era da fundação do Império Japonês. O principal trabalho dos soberanos desse período consistiu na organização, extensão e consolidação de seu domínio. As relações exteriores mal começaram e a influência externa ainda era ligeiramente sentida. A tabela a seguir mostra os nomes dos treze imperadores do período, com as datas que foram oficialmente fixadas para seus reinados:


1. Imperador Jimmu (660-585 a.C.)
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2. Imperador Suisei. (581-549 a.C.)
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3. Imperador Annei (548-510 a.C.)
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4. Imperador Itoku. (510-475 a.C.)
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5. Imperador Kōshō. (475-392 a.C.)
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6. Imperador Kōan. (392-290 a.C.)
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7. Imperador Kōrei. (290-214 a.C.)
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8. Imperador Kogen. (214-157 a.C.)
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9. Imperador Kaikwa. (157-97 a.C.)
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10. Imperador Sujin. (97-29 a.C.)
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11. Imperador Suinin. (29 a.C.-71d.C)
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12. Imperador Keikō (71-131 d.C.)
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13. Imperador Shumu. (131-192 d.C.)