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Introdução ao Cooperativismo/O desenvolvimento histórico da cooperação

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De acordo com Klaes (2005), a cooperação teve início desde o momento em que os seres humanos perceberam que não teriam grande sucesso a partir de suas ações individuais, e a partir disso, o homem buscou estabelecer ações colaborativas com os seus semelhantes, para que assim, pudessem estar mais fortes para superarem adversidades e garantirem o bem comum.

Pode-se afirmar atualmente, que a cooperação é tão antiga quanto a existência da humanidade, pois desde os tempos em que surgiram os primeiros aglomerados de pessoas, a cooperação já dava indícios de sua existência em ações como a ajuda mútua nos locais de pastoreio e no cultivo das lavouras, e também, desde os tempos da antiguidade, quando a cooperação já se manifestava em vários locais pelo mundo, tais como: na Grécia, onde se praticava a ação do auxílio mútuo entre as pessoas, que buscavam por um padrão de vida melhor; em Roma, com a existência das associações de operários em diversas áreas como sapatarias, carpintarias, serralherias e artesanato, assim como, através do acolhimento de pessoas estrangeiras, escravos alforriados e não alforriados nesses locais, demonstrando assim, a solidariedade humana que não apresentava o preconceito entre as espécies; e em Esparta, que apresentava manifestações de cunho cooperativista em acampamentos militares e também em outros locais, como pode ser percebido através de evidências contidas em documentos atenienses e romanos, de que havia a existência da ajuda mútua nesses lugares (KLAES, 2005).

A partir da Idade Média (séculos V ao XV), a cooperação pronunciava-se tanto no meio rural quanto no meio urbano, sendo que nas áreas rurais, os campesinos reuniam-se para realizar atividades coletivas como a transformação e venda de produtos leiteiros e os germânicos formavam associações de produtores rurais dedicados à irrigação, formação de diques e exploração de florestas. Já nas áreas urbanas, desenvolvia-se atividades como a criação coletiva de gado em lotes particulares, em que os bois e os instrumentos eram de uso comum, e dessa forma, os lotes mantinham-se conservados (KLAES, 2005).

Foi com o objetivo de sobreviver que o homem, através de suas necessidades de nutrição e alimentação, estabeleceu relações de cooperação, circunstância essa que é sempre esquecida ou subestimada quando se pretende descobrir o sentido da existência humana. Isso porque sua sobrevivência iria necessariamente depender dos sócios na produção de alimentos ou obtenção, embora estes fossem sempre consumidos individualmente, depois de produzidos com o auxilio dos demais integrantes do grupo (FARIA, 1976).

O desenvolvimento da cooperação emerge desde os primórdios quando o homem passou a viver em grupo, pelos motivos de ser caçado por grandes animais selvagens. Os grandes exemplos de cooperação surgiram quando a humanidade passou por grandes desastres, como por exemplo catástrofes climáticas ou aquelas causadas pelo próprio homem como é o caso das guerras. Outro marco histórico da cooperação, está na gênesis do ser humano e sempre existiu nas sociedades, desde as eras mais remotas, estando sempre associada às lutas pela sobrevivência, às crises econômicas, políticas e sociais, bem como às mudanças. Bons exemplos de cooperação aparecem quando se estuda a organização social dos antigos povos como os gregos, chineses, astecas, maias e incas (REISDORFER, 2014).

A prática da cooperação, passou a ser exercida de maneira mais direcionada no século XIX, momento este em que o continente europeu enfrentava situações de divergência social, política e econômica decorrentes da Revolução Industrial. Os avanços tecnológicos provenientes dessa Revolução, além de promoverem o aumento da produção e a geração de riquezas à classe burguesa, provocaram também a pouca oferta de emprego para milhares de pessoas, pois houve uma substituição expressiva da mão-de-obra humana pelas máquinas. A partir dessa situação, a ajuda recíproca entre os trabalhadores desempregados começou a ganhar força, caracterizando-se como uma alternativa no enfrentamento da atual realidade, de maneira que pudessem lutar contra a miséria e garantir suas necessidades básicas à sobrevivência, tais como saúde, alimentação, moradia, lazer, melhores condições de vida e inclusão social (PORTO & FERREIRA, 2014).

Com a revolução industrial houve um grande êxodo rural, as pessoas do campo deslocaram-se para a cidade em busca de empregos nas indústrias e isso passa a se multiplicar. Como ainda não se tinha uma legislação, os trabalhadores eram explorados e tinham péssimas condições de vida. Com base nisso, vários pensadores daquela época começaram a questionar o capitalismo e a buscar alternativas de organização para produzir, consumir e obter crédito. A solução apontada por muitos foi a constituição de organizações em que os próprios trabalhadores pudessem administrar a sua força de trabalho e seu capital, de modo autogestionário, isto é, as cooperativas.

No Brasil, a cooperação em si é conhecida desde o tempo anterior ao descobrimento do país, por meio de sistemas coletivos indígenas que teve grandes ganhos para os povos guaranis, experiência essa associada aos padres jesuítas depois da chegada dos portugueses em nossa nação. Mas foi só com a chegada dos imigrantes europeus que são introduzidas entre nós as ideias cooperativas modernas oriundas da Alemanha e Itália, sendo, por conseguinte, formadas as primeiras cooperativas (BIALOSKORSKI, 2006). Mas lembrando que esses povos pré-colombianos perpetuaram por vários séculos demonstrando que seu sistema de organização conseguiu aumentar sua população e manter o meio ambiente de forma à não destruí-lo.

Um exemplo a ser citado sobre o desenvolvimento histórico da cooperação no Brasil, são as terras comunitárias e coletivas que apareceram juntamente com a formação do país. Nesses locais, havia a manutenção de terras para uso comunal, sem donos definidos, e dessa forma podiam ser utilizadas por qualquer família (NOVAES, 2015). Essa forma de uso da terra, pode ser representada até os dias atuais pelos faxinais, que são constituídos de mata e pastagem e são utilizados coletivamente pelos moradores para alimentação dos animais e uso de madeira. Nos faxinais, os moradores também cultivam os alimentos vegetais, nas áreas denominadas "terras de plantar" e criam animais de várias espécies nas áreas denominadas "terras de criar" ( SOCHODOLAK & MANEIRA, 2011; NOVAES et al., 2015).

Nas matas de araucária do Paraná se desenvolveu um sistema agrosilvopastoril bem parecido ao sistema faxinal, onde as comunidades apresentam entre seus componentes o criadouro comunitário, a extração florestal e o cultivo agrícola, além de expressões culturais particulares. Desde a sua criação vem mostrando uma capacidade impar de adaptação à dinâmica econômica das regiões onde estão inseridas (GRZEBIELUKA, 2010).

Outras ocasiões que também fazem parte do surgimento histórico do cooperativismo no Brasil, são ações como mutirões e roças comunitárias. Essas práticas surgiram no período da colonização através dos primeiros colonos portugueses e africanos (NOVAES et al., 2015).

Uma das questões que emerge no estudo do cooperativismo, é a sua compreensão ocorrida muitas vezes de maneira equivocada, pois é confundida com a concepção de cooperação. Por exemplo, confunde-se cooperação com cooperativismo quando defende-se a tese de que o cooperativismo é um movimento que remonta ao início da história da humanidade. Em outras palavras, ele já seria encontrado em sociedades (KLAES, 2005).

Conclui-se que o tempo passou, mas as dificuldades, mesmo de diferentes formas continuam existindo. O homem tem sido educado para competir, e não para cooperar. Percebe-se nitidamente que, através da união de pessoas e com estratégias bem delineadas e construídas à luz dos princípios cooperativistas, as soluções seriam alcançadas com mais facilidade. A disseminação das ideias cooperativistas poderia ser uma grande solução, como comenta Reis (2006), para melhor distribuição das riquezas, sobretudo nas economias emergentes, como aglutinadores e mediador das pendências sociais e como instrumento disciplinador do crescimento socioeconômico.