Interatividade Educativa/4. INTRODUÇÃO

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Partiu-se, nesta obra, da hipótese que a interatividade educativa é uma ação norteadora e decisiva na concepção de conteúdos educativos a serem desenvolvidos em mídias digitais como instrumento dos processos de ensino e aprendizagem e que possui estrutura organizacional bem definida quando empregada no planejamento e elaboração de conteúdos educativos nesses meios. A identificação de tal estrutura é o objetivo primeiro do estudo para, em seguida, explicar respectivas propriedades/características, inseridas num contexto educativo, proposto pela intersecção dos conceitos de interação, advindos da Teoria Sócio-Histórico de Vygotski [1] [2] [3] e seguidores [4] [5] e o de facilitação pedagógica, oriundo da Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel [6] [7] [8] e colaboradores [9] [10] [11], com o recorte de emprego educativo dos meios digitais. Para esta reflexão, ao se levar em conta a formação em sistemas de informações e educação, acredita-se ser possível contribuir com reflexões neste campo interdisciplinar. A escolha do tema é função de que desde o final dos anos noventa, o vocábulo interatividade apareceu em muitas publicações e artigos jornalísticos, sem que definição pacificamente acordada na comunidade científica, como já apontava em 1988 o israelense Sheizaf Rafaeli [12] [13], anos antes dizendo que “interatividade é um termo largamente usado, com um apelo intuitivo, mas um conceito definido de forma deficiente”.

Na mesma direção, autores norte-americanos denunciam a falta de uma definição conceitual para a interatividade. Sally J. McMillan e Jang-Sun Hwang [14] elencaram vários pesquisadores que reclamam um enquadramento conceitual do vocábulo. Hansen, Jankowski e Etienne; Heeter; Huhtamo; Miller, Katovich e Saxton; Schultz; Smethers. Dizem eles que a palavra “interativo” é frequentemente usada como um sinônimo para novas mídias, como a World Wide Web. Os especialistas e pesquisadores em marketing usam a frase “propaganda interativa” para descrever a Internet ou a propaganda baseada na Web. Porém, apesar do uso corrente de tais condições os estudiosos notaram que interatividade é frequentemente, ou indefinida ou subentendida."

No mesmo sentido, Sally J. McMillan [15] refaz o alerta sobre a dificuldade em definir interatividade: “Interatividade. ‘Sabemos o que é quando a vemos’, mas o que é ela? Quando solicitados para definirem o termo, muitos indivíduos – mesmo estudiosos de novas mídias podem sentir-se atrapalhados”. Meritxell Estebanell Minguell [16] afirma que há um emprego abusivo do vocábulo interatividade em escritos acadêmicos e jornalísticos, sem que a definição conceitual esteja claramente estabelecida. Escreve ele textualmente: “La palabra ‘interactividad’ se está convirtiendo en un comodín de reciente aparición, utilizado con gran frecuencia, pero escasamente definido”.

No Brasil, Alex Primo enfatiza a necessidade de pensar o termo e suas consequências: "Mesmo que se fale muito sobre interação através de redes telemáticas e “interatividade” aparecer como palavra da moda, poucos estudos têm se dedicado à temática. Emerge a impressão de que não há muito que se discutir e que a tal questão é ponto pacífico, desvinculada de qualquer polêmica ou imprecisão. Contudo, à medida que a tecnologia informática se populariza, aumenta a necessidade de a comunidade científica se ocupar dessa questão."

Outra pesquisadora preocupada com o assunto é Maíra de Moraes se refere que o tema é recente e consequentemente possui escassa literatura disponível: “Outro fato que merece ser ressaltado é a escassez de uma literatura específica sobre o assunto. Mesmo sendo termos amplamente utilizados, raros são os textos que se preocupam em discuti-los de forma sistemática [...]”. Tanto é assim que o Education Resources Information Center (ERIC), maior coletânea de textos acadêmicos sobre Educação dos Estados Unidos da América, em seu Thesaurus, soma o vocábulo incluído apenas no ano  2004; todavia, a Academia Brasileira de Letras ainda não definiu o termo."

Subordina-se o texto sob a perspectiva sistêmico-relacional, ao se enfatizar, por um lado, à reunião do aspecto relacional da interação (Teoria Sócio-Histórico de Vygotski) e da facilitação pedagógica (Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel) e, por outro, destaca-se a complexidade desse artefato pedagógico como um todo interativo, quando empregado no planejamento e elaboração de conteúdos educativos em meios digitais. Ao abraçar uma teoria, advinda da comunicação como ponto de partida do estudo, originária de Gregory Bateson[17] e expandida pela chamada Escola de Palo Alto, cujo produto é uma Epistemologia da Forma (ou Pragmática da Comunicação), que em lugar de atos individuais destaca os padrões de interação em estudo da comunicação, e foca os inter-relacionamentos no lugar da causalidade unilateral, fica claro que o livro é uma teorização aglutinadora de vários assuntos, de diferentes áreas do conhecimento. O estudo está na fronteira entre campos de pesquisa científica, sem se situar em um só de forma absoluta, mas diluído entre vários.

  1. VYGOTSKI, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
  2. VYGOTSKI, L. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
  3. VYGOTSKI, L. Construção do pensamento e da linguagem, a lingüística. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  4. VYGOTSKI, L. Psicologia pedagógica: edição comentada. Porto Alegre: Artmed, 2003.
  5. VYGOTSKI, L. Génesis de las funciones psíquicas superiores. In: VIGOTSKI, L. Obras escogidas. Madrid: Visor, 1995. (Problemas del desarrolo de la psique, v. 3).
  6. AUSUBEL, D. P. Cognitive structure and the facilitation of meaningful verbal learning. Journal of Teacher Education, Washington, DC, v. 14, p. 217-222, 1963a.
  7. AUSUBEL, D. P. The psychology of meaningful verbal learning. New York: Grune & Stratton, 1963b.
  8. AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva, Lisboa: Plátano, 2003.
  9. AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J.; HANESIAN, H. Educational psychology: a cognitive view. 2nd. ed. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1978.
  10. AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J.; HANESIAN, H. Psicologia educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1980.
  11. AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J.; HANESIAN, H. Psicologia educativa: un punto de vista cognoscitivo. México: Editorial Trillas. 1983.
  12. RAFAELI, S. Interactivity: from new media to communication. Sage Annual Review of Communication Research: Advancing Communication Science, Beverly Hills, v. 16, p. 110-134, 1988.
  13. RAFAELI, S.; SUDWEEKS, F. Networked interactivity. Journal of Computer-Mediated Communications, Indiana, v. 2, n. 4, 1997.
  14. MCMILLAN, S. J.; HWANG, J. S. Measures of perceived interactivity: an exploration of communication, user control, and time in shaping perceptions of interactivity. Journal of Advertising, New York, v. 31, n. 3, p. 41-54, 2002.
  15. MCMILLAN, S. J. Exploring models of interactivity from multiple research traditions: users, documents and systems. In: LIEVROUW, L. A.; LIVINGSTONE, S. (Org.) Handbook of new media: social shaping and consequences of ICTS. London: Sage, 2002b. p. 162-182.
  16. MINGUELL, M. E. Interactividad e interacción. Revista Latinoamericana de Tecnología Educativa, Badajoz-Cáceres, v. 1, n. 1, p. 23-32, 2002.
  17. BATESON, G. Steps to an ecology of mind. Chicago: University of Chicago Press, 2000.