História da Catalunha/Idade contemporânea

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Monumento em memória às batalhas travadas na localidade catalã de Bruc entre as milícias catalãs e as tropas francesas invasoras em 1808 na Guerra da Independência
Desenho retratando a travessia do Rio Ebro na Catalunha pelas tropas carlistas na Primeira Guerra Carlista
Colônia Vidal, colônia industrial do início da Revolução Industrial, localizada às margens do Rio Llobregat, em Puig-reig
Fábrica de cava da marca Freixenet em Sant Sadurní d'Anoia

A Catalunha entrou na Idade Contemporânea em meio a mais guerras. Entre 1793 e 1795, guerra com a França. Entre 1808 e 1814, a Guerra Peninsular, também chamada Guerra da Independência, na qual os franceses de José Bonaparte, irmão de Napoleão, invadiram a Espanha. Nessa guerra, em 1811, os soldados franceses destruíram o Mosteiro do Monte Serreado[1]. Entre 1823 e 1826, ocorreu nova ocupação da Catalunha pela França. Entre 1833 e 1876, as três Guerras Carlistas dividiram a Espanha, quanto à sucessão real, entre os partidários de Carlos (os "carlistas") e os partidários de Isabel (os "isabelinos"). Em 1844, o Mosteiro do Monte Serreado foi reconstruído[2].

Ao mesmo tempo, a Catalunha se tornava a primeira região da Espanha a se industrializar. Era a chamada Renascença Catalã. Sua indústria tinha, como matéria-prima básica, o algodão americano. Além de Barcelona, outras cidades destacaram-se nesse processo, como Terrassa e Sabadell, bem como diversas colônias industriais surgidas ao longo dos rios, aproveitando a força das águas através de moinhos. Em 1849, surgiu a primeira ferrovia espanhola, ligando as cidades catalãs de Barcelona e Mataró. Em meados do século, começou a ser produzido comercialmente o típico vinho espumante catalão, a cava[3]. Um importante representante da poesia catalã surgiu nesse período: o monge Jacint Verdaguer (1845-1902).

No final do século XIX e início do século XX, a Catalunha estava extremamente próspera. Ricos empresários, como Eusebi Güell, Antoni Amatller e Josep Batlló i Casanovas passaram a se utilizar da criatividade de arquitetos inovadores como Antoni Gaudí, Josep Puig i Cadafalch, Lluís Domènech i Montaner, Enric Sagnier e Josep Maria Jujol para construir edifícios em estilo art nouveau (em catalão, modernisme). Principalmente no novo bairro de Barcelona que havia sido desenhado pelo engenheiro Ildefons Cerdà especialmente para abrigar o incremento populacional decorrente da revolução industrial: o bairro de Eixample (em português, "Expansão").

Nesse período, o então desconhecido pintor Pablo Picasso morou em Barcelona, onde realizou sua primeira exposição, em 1900, no bar Els Quatre Gats (traduzido do catalão, "Os Quatro Gatos"), que era o ponto de encontro dos artistas modernistas de Barcelona. Ainda como sinal da prosperidade econômica da Catalunha, Barcelona sediou duas feiras mundiais durante este período: a de 1888, que se realizou no Parque da Cidadela (que havia sido criado em 1878, pelo general Prim, com a demolição da fortaleza no mesmo local que havia sido construída pelo rei Felipe V)[4] e a de 1929, em Montjuïc.

Em 29 de novembro de 1899, um ex-jogador de futebol suíço, Hans Gamper, fundou, junto com interessados contactados através de anúncio no jornal Os Esportes, o Foot-ball Club Barcelona. No entanto, o cenário político na Catalunha do início do século XX era conturbado. Protestos contra uma guerra contra o Marrocos causaram 116 mortos na chamada Semana Trágica, em 1909. Em 1924, foi aberta uma estrada no Passo Bonaigua ligando o Vale de Aran ao resto do mundo. Até então, esse vale do interior da Catalunha era praticamente isolado[5].

A situação se agravou com a crise econômica mundial de 1929 desencadeada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque. Nessa época, o principal fundador da equipe do Barcelona, Hans Joan Gamper, se suicidou por causa de problemas pessoais e financeiros. Em 1931, no contexto da proclamação da Segunda República Espanhola, foi proclamada a república catalã, sob a presidência de Francesc Macià, com duração apenas de três dias. Três anos depois, ocorreu nova tentativa de autonomia, sob a presidência de Lluís Companys, o qual terminou sendo preso.

Em 1936, setores do exército espanhol liderados pelo general Francisco Franco iniciaram uma rebelião contra a república espanhola, visando ao retorno do regime monárquico. Foi o início da Guerra Civil Espanhola. Os partidários de Franco, apoiados militarmente pela Alemanha nazista e pela Itália fascista, acumularam vitórias sobre o governo republicano, que foi obrigado a transferir sua capital de Madri para Valência e, posteriormente, para Barcelona. Em 1939, a guerra terminou com a derrota dos republicanos. O líder catalão Lluís Companys foi executado em 1940 no castelo de Montjuïc em Barcelona[6].

O regime instaurado por Franco proibiu o uso do idioma catalão, como forma de inibir tentativas separatistas. Era o início da chamada "Noite Negra" na Catalunha. O único lugar público onde o catalão podia ser falado mais livremente era no estádio do Barcelona, o que foi um dos fatores que converteram o clube num símbolo do nacionalismo catalão. O rival do Barcelona na cidade, o Reial Club Deportiu Espanyol de Barcelona, se converteu, ao contrário, num símbolo da integração catalã à cultura espanhola. Outro lugar de resistência da cultura catalã foi o Mosteiro de Montserrat[7].

Em 1955, foi criado o único parque nacional da Catalunha: o Parque Nacional de Águas Tortas[8]. Em 1957, o Barcelona inaugurou seu novo estádio: o Campo Novo (em catalão, Camp Nou). Ao longo da década de 1960, o litoral da Catalunha começou a tornar-se conhecido pelos turistas: tanto o litoral sul (a Costa Dourada), quanto o litoral norte (a Costa Brava). Especialmente a cidade de Cadaqués, onde morava o pintor Salvador Dalí e que passou a ser conhecida como "a Saint-Tropez espanhola", numa alusão ao famoso balneário francês[9].

A situação se amenizou em 1975, com a morte de Franco. Com a restauração da democracia, a Catalunha ganhou maior grau de autonomia. Em 1982, a Espanha foi sede da copa do mundo de futebol. A Catalunha cedeu dois estádios para a competição: o Camp Nou e o Sarrià (que, na época, era utilizado pelo Espanyol). O Sarrià tornou-se tristemente célebre para os brasileiros por ter sido o palco da eliminação da seleção brasileira, em 5 de julho, pela seleção italiana, a qual viria a ser campeã do torneio. Na década de 1980, morreram dois grandes expoentes da arte catalã: Joan Miró, em 1983 e Salvador Dalí, em 1989.

Em 1992, Barcelona sediou os jogos olímpicos, os quais promoveram uma revolução urbanística na cidade e a tornaram conhecida mundialmente. No mesmo ano, o Futbol Club Barcelona se sagrou campeão europeu de futebol pela primeira vez. Em 1997, o Estádio Sarrià foi demolido para pagar dívidas do clube Espanyol. Em 2006 e em 2009, o Barcelona ganhou mais duas vezes o campeonato europeu de clubes, sendo que, em 2009, ganhou também, pela primeira vez, o campeonato mundial de clubes. Em 2010, a seleção espanhola de futebol masculino sagrou-se campeã mundial pela primeira vez, na copa do mundo realizada na África do Sul.

Faziam parte, da seleção, vários jogadores catalães, como Xavi, Valdés, Piqué, Puyol, Capdevila, Fàbregas e Busquets. No mesmo ano, o parlamento catalão aprovou uma lei proibindo as touradas, um dos mais importantes símbolos culturais espanhóis. Era mais uma manifestação da autonomia cultural catalã em relação ao resto da Espanha[10]. Em 27 de fevereiro de 2011, foram reinauguradas oficialmente as Quatro Colunas, obra de Puig i Cadafalch que havia sido derrubada em 1928 por representar as quatro listras da bandeira catalã. No mesmo ano, a equipe de futebol do Barcelona ganhou seu quarto título europeu e seu segundo título mundial.

No dia 9 de novembro de 2014, foi realizada uma consulta popular sobre a independência da Catalunha. 80,76% dos votantes declararam ser favoráveis a que a Catalunha se torne um Estado independente. Participaram, da consulta, 2,3 milhões dos 6,3 milhões de catalães com direito a voto.[11]

Referências

  1. Guia visual folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 104
  2. Guia Visual Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 104
  3. Guia Visual Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 28
  4. Guia Visual Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. 2001. Publifolha. p. 62.
  5. Guia Visual da Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 95
  6. Guia Visual Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 81
  7. Guia Visual Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p.104
  8. Guia Visual da Folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 95
  9. Guia visual da folha de São Paulo - Barcelona e Catalunha. São Paulo: Publifolha, 2001. pp. 43, 102
  10. http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/07/lei-proibe-touradas-na-regiao-da-catalunha-na-espanha.html
  11. Generalitat de Catalunya. Disponível em http://www.participa2014.cat/resultats/dades/es/escr-tot-resum.html. Acesso em 22 de janeiro de 2015.
  12. http://www.zazzle.com.br/luta_de_toros_barcelona_spain_bull_do_cartel_poster-228257332560635346