Guia dos Trouxas para Harry Potter/Livros/As Relíquias da Morte/Capítulo 9

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Capítulo 9
O Esconderijo
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spoiler[editar | editar código-fonte]

Aviso: Seguem detalhes do enredo.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

O pânico explode ao ouvirem o aviso chocante. Alguns convidados desaparatam mostrando que os feitiços protetores em torno da Toca se esvaíram. O resto ficou parado com suas varinhas em punho, prontos para enfrentar os Comensais da Morte. Em meio a essa cena caótica, Hermione, Ron e Harry desaparatam para a Tottenham Court Road. Eles entram num beco escuro e trocam de roupas, Hermione já havia empacotado tudo que eles precisavam para a missão, em sua bolsinha de contas encantada (ela foi encantada para caber livros de feitiços, roupas, dinheiro, objetos para acampamento, et.) O Trio, com Harry sob a Capa da Invisibilidade, entra numa cafeteria suja e feia aberta dia e noite, para tentar descansar.

Ron sugere ir ao Caldeirão Furado, mas Hermione imediatamente diz não, porque é perigoso demais e Voldemort deve estar a espreita ali. Quando dois trabalhadores entram no café, Ron e Hermione abaixam a voz. Quando os trabalhadores erguem as varinhas, Harry, sob a Capa, os reconhece como Comensais da Morte. Ele estupora um, mas perde o segundo: o feitiço ricocheteia e acaba acertando a garçonete. Enquanto isso, o Comensal que sobrou amarra Ron e explode a mesa atrás de Harry. Hermione lança um Petrificus Totalus nele. O Comensal grandão e louro é Thorfinn Rowle, que Harry reconhece da batalha na Torre de Astronomia, no ano anterior. O que foi petrificado é Dolohov, que estava na batalha do Departamento de Mistérios.

Relutando em matar os Comensais, o Trio resolve apagar a memória deles, junto com a da garçonete, depois consertar o café. Hermione fica imaginando como eles os encontraram tão rápido e se Harry ainda carrega o rastreador do Ministério. Ron insiste que ele acaba aos dezessete anos por lei; Hermione sugere que os Comensais possam ter criado um novo, embora Ron diga que ninguém esteve junto de Harry desde que ele fez dezessete. Harry sugere ir para Grimmauld Place, a casa que Sirius deixou para ele e o antigo quartel general da Ordem. Passando por cima das objeções dos outros, Harry diz que apenas Snape pode entrar, enquanto que em outro lugar, eles podem ter que enfrentar muitos Comensais.

O Trio desaparata para Grimmauld Place. Ao entrar a voz sem corpo de Olho-Tonto assusta os três, e o feitiço da língua presa os afeta rapidamente. Um vulto poeirento e espectral de Dumbledore aparece na entrada. Harry grita que eles não mataram Dumbledore, e a figura cinzenta se dissolve na poeira. Hermione checa a casa e afirma que está vazia.

A cicatriz de Harry queima enquanto ele sente a ira de Voldemort. Hermione fica aborrecida—foi através desse canal que Voldemort enganou Harry dois anos atrás, quando Sirius foi morto. Ron pergunta a Harry se Voldemort está furioso com a família Weasley. Um Patronus prateado chega e a voz de Arthur Weasley anuncia “a família está a salvo, não respondam, estamos sendo vigiados.”

Ron e Hermione caem no sofá com profundo alívio; Harry, preocupado com Ginny também está aliviado. Mas, Harry está enjoado de tanta dor e corre para o banheiro. Esparramado no chão do banheiro, ele “vê “ Rowle sendo torturado por ter falhado na captura de Harry e dos outros. Harry está sentindo o estômago embrulhado por causa do que vê, incluindo o ar aterrorizado de Draco Malfoy, a quem Voldemort deu o papel de torturador.


Análise[editar | editar código-fonte]

A missão de Harry, na verdade, começa aqui, embora ele tenha sido levado a um fim predestinado, matar Lord Voldemort ou então ser morto por ele, desde logo depois que nasceu. Embora Harry já tenha se encontrado antes com Voldemort, até agora, digamos que foram preparações para o encontro fatal, orientado o tempo todo pelo Professor Dumbledore.

Agora que Harry embarcou no caminho final da sua busca, ele começa a ser “o herói épico”, um protagonista literário clássico. Tipicamente, o herói épico é um mortal, mas em geral ele descende ou é ligado a deuses ou outros seres divinos. No caso de Harry, seus ancestrais foram bruxos poderosos. O herói épico tipicamente não possui poderes extraordinários, mas em geral é mais talentoso, corajoso e capaz do que seus iguais. E, embora Harry seja um bruxo, também são bruxos seus colegas e seus inimigos. No entanto, ele não possui nenhuma vantagem mágica sobre eles e na verdade, pode até ser menos capaz magicamente do que muitos bruxos experientes. Tradicionalmente o herói épico simboliza a ética e os ideais da sociedade, e foi obrigado a uma busca ou missão que parece impossível, se vitorioso, vai beneficiar outros de alguma forma.

A busca também testa a resistência e a fibra moral de Harry, e ele tem que perseverar com coragem, integridade, inteligência e força para conseguir. Também é um cenário típico que o herói perca prematuramente seu mentor, e seja forçado a prosseguir sozinho, confiando em sua sabedoria ainda incompleta e em sua habilidade. Harry perdeu Dumbledore, embora Albus aparentemente tenha abandonado sua obrigação, deixando para Harry poucas pistas enigmáticas para ajudar em sua busca.

No cenário clássico do herói épico, o mentor o esteve preparando para a batalha que virá, e nós vimos que Dumbledore fez diversos esforços nessa direção, mas agora, para Harry, eles parecem quase ridículos de tão insuficientes. Isso, junto com as revelações recentes acerca da juventude de Dumbledore, praticamente destruíram a fé de Harry na missão.

Se Harry conseguir superar suas dúvidas com relação a Dumbledore e prosseguir em sua busca, para vencer ele vai precisar confiar apenas em sua bravura, força e esperteza, assim como na ajuda de seus “aliados”, especialmente Ron e Hermione. Ele também terá que superar uma falha particular: sua previsibilidade. Porque Harry tende a reagir num padrão familiar, linear, antes de pensar e agir de maneira lógica, Voldemort já conseguiu antecipar e manipular suas ações. Harry precisar adotar outras estratégias.

A confiança de Harry dos outros é demonstrada pelo meticuloso planejamento e ação rápida de Hermione, que salva o Trio do ataque, permitindo que eles escapem rapidamente. Tudo o que eles precisam para a missão já está empacotada dentro da bolsinha de contas que ela carrega. O lugar para onde Hermione decidiu desaparatar foi uma escolha espontânea, embora pareça ter sido uma decisão ruim, porque os Comensais os encontraram rápido, e não seria lógico que fosse uma coincidência eles chegarem lá. Se Harry está mais com o rastreador do Ministério e aparentemente ele não usou magia quando o Trio chegou a Tottenham Court Road, então como os Comensais descobriram imediatamente a localização do Trio? Aparatar em Grimmauld Place também parece arriscado; não apenas o lugar é conhecido por Snape, um Fiel do Segredo que retornou para Voldemort, e certamente ele suspeitaria que Harry fugiria para lá.

Parece que a fuga estressante deles pode estar afetando Hermione. Ela diz, e Ron e Harry concordam, que seria melhor estarem em Grimmauld Place onde seriam atacados apenas por um Comensal da Morte, Snape, do que nas ruas onde existem muitos. Eles parecem esquecer que Snape se tornou Fiel do Segredo na época em que ali era quartel general da Ordem depois da morte de Dumbledore, ele pode revelar o local para quantos Comensais ele quiser.

Novamente, Harry mostra dificuldade em usar feitiços defensivos mais poderosos contra seus inimigos; Ron e Hermione também são reticentes. Quando ao deixar a casa dos Dursleys ele conjura Expelliarmus, um feitiço não letal, para evitar ferir Stan Shunpike, que Harry acreditava estar agindo sob a Maldição Imperius, Lupin o criticou por não usar magia mais forte quando numa situação de ameaça à vida e refutou o argumento de Harry, que estava protegendo uma pessoa inocente.

Harry também relutou em usar a Maldição Cruciatus em Bellatrix Lestrange, na Batalha do Ministério, o que resultou num efeito fraco. No entanto, no livro seis, Harry não hesitou em lançar um feitiço desconhecido, Sectumsempra, para se defender do ataque de Draco, quase matando Draco. Horrorizado pelo ocorrido, Harry furioso pretendia apenas desarmar e machucar Draco de leve, nunca pensando no efeito terrível da maldição. Na cafeteria, Harry prossegue com o mesmo padrão, estuporando os Comensais da Morte, e Hermione também usa feitiços não letais. A decisão do Trio, de evitar matar os Comensais na cafeteria é questionável, no entanto. Na verdade, parece um ato piedoso, mas mostra que eles ainda não estão preparados para trabalhar com a Ordem, não conseguem trabalhar com a necessidade extrema da guerra.

Épocas perigosas em geral demandam medidas desesperadas, que nunca seriam consideradas em circunstâncias normais, incluindo matar seu inimigo para se proteger, defender seus aliados, e cumprir sua missão. O Trio pode não ser capaz de cumprir a difícil missão de Dumbledore, embora, nesse caso em particular isso tenha salvo a garçonete, acidentalmente atingida por um feitiço. Talvez a piedade do Trio tenha salvado dois Comensais por tempo suficiente para sofrer um destino mais horrendo. Harry, mais tarde, vê, através dos olhos de Voldemort, pelo menos um dos Comensais sendo torturado por falhar com o Lorde das Trevas.

Também é interessante notar que Rowle foi punido pela fuga de Harry. Rowle nem sequer viu Harry, apenas o brilho de sua varinha. No entanto, Dolohov viu Harry quando estava petrificado; com certeza foi antes de Hermione alterar sua memória, mas nós já sabemos que Voldemort tem uma habilidade rara com lembranças, e Hermione, embora seja uma bruxa excelente, só lançou o feitiço de memória poucas vezes antes (em especial em seus pais para mandá-los para Austrália). Por que Rowle foi torturado mas não Dolohov? Embora não tenhamos respostas, parece evidente que Voldemort, frequentemente reage com raiva irracional, ao invés de reagir com calma, atacando, em geral fatalmente, a qualquer um que infelizmente esteja perto o bastante naquela hora, assim como a pessoa que falhou para com ele. Também é possível que Rowle tenha sido torturado porque falhou em capturar qualquer um do Trio (não apenas Harry) e que Dolohov tenha sido punido num momento em que Harry não estava conectado aos pensamentos de Voldemort. Também é possível que Dolohov um Comensal veterano, com Voldemort desde que este subiu ao poder pela primeira vez, e conhecendo bem a fúria de Voldemort, tenha deliberadamente deixado Rowle dar as notícias e assim receber toda ira.

A expressão aterrorizada de Draco Malfoy quando Voldemort o obriga a torturar o Comensal da Morte, é particularmente reveladora para Harry, fazendo com que ele veja Draco de maneira diferente. Draco está genuinamente enojado e doente por inflingir dor em outra pessoa, da mesma forma que ele ficou quando Voldemort ordenou que matasse Dumbledore no livro seis. Foi uma missão que ele não conseguiu completar e que foi finalmente terminada por Snape, que estava preso a um Voto Perpétuo de completar o trabalho de Draco, caso ele não conseguisse. Parece que Draco nunca vai poder suportar seu medo e repulsa à violência, e agora ele percebe que ser um Comensal da Morte implica em muito mais do que ele sequer podia imaginar. A despeito da arrogância de valentão e de sua personalidade cruel, ele aparentemente não possui a natureza maligna de sua família. Isso pode deixar a vida de Draco em perigo, ainda mais se Voldemort o considerar um servo fraco demais e medroso demais para ser útil. Talvez seja por isso que Voldemort o recrutou, esperando que Draco falhasse e desse a Voldemort outra oportunidade de punir Lucius por suas falhas, executando seu único filho.

Harry também tem repulsa pela violência, e embora tenha levado bronca de Lupin, ele sempre evita matar para se defender, mesmo contra aqueles que tentam matá-lo e aos seus amigos. Matar destrói a alma, e descobrimos que Dumbledore fez de tudo para manter a alma de Draco intacta. Harry, o herói da série terá que ter sua alma desfigurada? Pode ser que Harry, Hermione e Ron, consigam manter a integridade de suas almas e completem a série sem matar alguém. Na verdade, quando um bom personagem é visto matando um personagem do mal, é para defender outra pessoa; presume-se que esse ato de defesa anule ou impeça a alma de ser destruída ou diminua esse efeito. Ao matar pela primeira vez, no entanto, mesmo que para proteger outra pessoa ou numa guerra, pode tornar fácil para a pessoa matar novamente, e com menos remorso, possivelmente então destruindo sua alma.



Perguntas[editar | editar código-fonte]

Revisão[editar | editar código-fonte]

  1. Como Arthur Weasley sabia que tinha que mandar um Patrono até Grimmauld Place para avisar ao Trio?
  2. Por que o Trio desaparatou imediatamente da recepção do casamento quando os Comensais da Morte chegaram, ao invés de ficar e lutar? Foi uma escolha mais esperta?

Estudos Adicionais[editar | editar código-fonte]

  1. Por que Draco Malfoy, agora um Comensal da Morte e servo de Voldemort, parece tão aterrorizado na visão de Harry? Como isso pode afetar Harry ?
  2. Poupar as vidas dos Comensais da Morte foi a decisão certa? Não matá-los fez alguma diferença? O que isso diz sobre o caráter do Trio?
  3. Por que Harry escolheria se esconder em Grimmauld Place, cuja localização, Snape, como Fiel do Segredo, pode revelar a Voldemort e aos outros Comensais? Eles ficarão seguros ali?
  4. Se o rastreador do Ministério não funciona mais em Harry e ele não estava sendo seguido por algum Comensal, como é possível que os Comensais encontrassem o Trio tão rápido?


Visão Completa[editar | editar código-fonte]

Spoiler[editar | editar código-fonte]

Aviso aos leitores de nível intermediário: Seguem detalhes que vocês podem não querer ler em seu nível atual de leitura.

Fugir para Grimmauld Place poderia ser mais arriscado do que Hermione e Harry pareciam pensar. Como foi mencionado, Snape poderia ter informado aos Comensais sobre a casa e como entrar lá. De fato, o Trio percebeu que ela parecia ter sido saqueada. Eles logo saberão que os Comensais mantem a casa sob constante vigilância, ainda que a exata localização da casa, permaneça aparentemente fora da visão deles, indicando que Snape nunca os ensinou como entrar lá. Porque ele nunca os ensinou será revelado mais tarde, mas por enquanto, o Trio acredita que vai permanecer a salvo e eles não serão detectados ali.

Harry, Ron e Hermione foram seguidos até Tottenham Court porque Hermione falou o nome de Voldemort, o que será explicado depois, o nome se tornou um tabu. Durante a série, muitos bruxos mostraram um pavor irracional ao falar alto o nome de Voldemort, certos de que falar o nome poderia causar um desastre, embora ninguém soubesse o que seria. Harry e nós, consideramos esse medo infundado e de alguma forma engraçado, certos de que o fato de dizer apenas um nome não poderia causar nenhum mal. Harry, que sempre foi corajoso o bastante para falar o nome de Voldemort alto e na cara dele, nunca sofreu nenhum efeito maligno, quando o fez.

Voldemort, sabendo que a maioria das pessoas temem seu nome, provavelmente cultivou a crença de que coisas ruins ocorrem para quem falar seu nome. Logo a seguir ao seu retorno ao poder, os únicos que agora têm a coragem de dizer o nome de Voldemort são aqueles que lutam contra ele, especificamente a Ordem da Fênix, e Harry, em particular. Sabendo disso, Voldemort fez daquilo que os outros temiam uma realidade, lançando um feitiço em seu nome— falando o nome, imediatamente alerta os Comensais ou os Snatchers para o local onde está quem falou. Ironicamente, do Trio, foi Hermione, quem sempre mais temeu falar o nome de Voldemort. Quando ela finalmente tomou coragem e disse o nome de Voldemort alto em Tottenham Court, ela sem querer chamou os Comensais da Morte, quase fazendo com que eles morressem.

A hesitação de Harry em matar, mesmo durante uma guerra, continuará, e, durante a série inteira, ele nunca matou alguém. Ele sempre teve aversão em usar a Maldição Cruciatus em seus inimigos, embora isso poderá mudar sob circunstâncias específicas. E nessa ocasião, ao contrário de quando ele atacou Draco, no ano anterior com Sectumsempra, Harry não vai se arrepender e nem se sentir culpado depois, provavelmente porque ele estava preparado para defender alguém próximo a ele.