Civilizações da Antiguidade/A civilização hebraica: diferenças entre revisões
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Como vimos, Davi foi o verdadeiro fundador da monarquia hebraica. Quando morreu quem herdou o trono foi seu filho Salomão. |
Como vimos, Davi foi o verdadeiro fundador da monarquia hebraica. Quando morreu quem herdou o trono foi seu filho Salomão. |
Revisão das 09h09min de 3 de maio de 2024
Em primeiro lugar é preciso frisar que a história dos hebreus é baseada quase que totalmente na Bíblia, que de fato, pode servir como documento, mas não como prova histórica. Há discussões infindáveis a esse respeito, e aqui vamos tentar resumir a história com base no que é aceito comumente.
Do ponto de vista político e mesmo do ponto de vista material, jamais poderemos comparar a civilização hebraica aos povos que exerceram grande poder na época. Ao lado dos egípcios, dos assírios, dos persas, os hebreus se afiguram como um pequeno império.
A grande importância da civilização hebraica na história, se deve à sua grande força religiosa, à sua cultura e à sua união frente a todas as adversidades que enfrentaram ao longo das eras.
Origem
A história deste povo confunde-se com a religião porque tudo o que se sabe acerca suas origens está baseado na Bíblia.
Há muitas explicações para a origem do nome hebreu:
- Acredita-se que o termo hebreu vem do nome Heber ou Eber, filho de Sem, neto de Noé.
- Éber ou Heber foi ancestral de Abraão.
- O nome hebreu vem da palavra hebraica ibri (que se pronuncia iv-ri), a qual combina a raiz preposicional eber, com o sufixo i, formando o substantivo.
- Nas escrituras sobre a palavra hebreu, aparece em Gênesis 10:21, onde o nome Eber foi aparentemente usado para identificar a região ocupada pelo povo que descendia de Sem através de seu bisneto Eber.
- O nome hebreu vem da raiz ‘a-vár’, que significa passar, transitar, atravessar, cruzar. Esse nome denota viajantes, aqueles que passam adiante. Isto porque os hebreus durante muito tempo realmente levaram uma vida nômade.
O povo hebreu se origina de pastores, tribos primitivas nômades que se dividiam em clãs. Hoje, os estudiosos acreditam que eles são originários da Mesopotâmia, através do estudo dos mitos e da língua de origem semita do mesmo grupo do aramaico.
Localização geográfica
A Palestina é o território situado entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, entre a Síria ao norte e o Egito ao sul.
Esse pequeno pedaço é dividido em: Galiléia, com colinas cheias de vegetação, Samaria, cortada por vales e menos fértil e a Judéia, região árida e montanhosa.
O rio Jordão nasce nas montanhas da Fenícia e deságua no mar Morto.
O mar Morto tem águas extremamente salgadas, ali nada sobrevive e daí vem seu nome.
A Palestina da época em questão, era um lugar fértil com chuvas constantes, vales e bosques, a verdadeira Terra da Promissão.
Hoje, Israel é uma terra irrigada artificialmente pelo gênio do povo, que faz brotar lavouras num local praticamente deserto e nada fértil.
Por volta de 3000 a.C. nas margens do rio Jordão chegaram os cananeus, uma tribo de origem semita, daí temos o nome Terras de Canaã.
Mais tarde em 1500 a.C. chegaram os filisteus que também eram tribos e vieram da ilha de Creta. Deles a região herdou o nome Filistina ou Palestina.
Já em 1400 a.C. chegou a tribo semita dos hebreus cujas origens remontam a Ur, na Mesopotâmia que conquistou os cananeus e os filisteus.
A leste, além do vale do rio Jordão, no deserto viviam os amalecitas e os moabitas, citados na Bíblia como inimigos dos hebreus.
Abraão e as doze tribos
No inicio do relato do Gênesis, temos Abraão, que vive em Ur, na Mesopotâmia, que era uma das cidades mais importantes da época.
Ele vivia com Sara sua esposa, com seu pai Terá e seus irmãos. Seu pai decidiu então ir embora para Canaã, sudoeste da Síria. Ao chegar em Haram, hoje uma cidade da Turquia, Terá morreu.
Foi então que Abraão ouviu a voz de Deus pela primeira vez, e Deus lhe prometeu terra e descendência. Esta promessa se cumpriria com o nascimento de Isaac, que daria origem à Jacó e que seria pai de doze filhos, os quais seriam os pais das doze tribos de Israel.
Abraão em momento algum duvidou da palavra de Deus, sua fé irrestrita deu origem à tradição religiosa monoteísta. Ele é considerado pai biológico, adotivo e ético de todos os povos e em especial é símbolo da paz das três grandes religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e o islamismo, ao pregar que todas as nações são irmãs entre si, filhas de um único pai.
É impossível comprovar o que é história e o que é religião dentro desse assunto. Os cientistas, arqueólogos, estudiosos da Biblia, os historiadores, buscam comprovações de que esses personagens como, Abraão, Sara, Agar, Isaac, Ismael e tantos outros, de fato foram pessoas reais, existiram e fizeram parte da história.
Os primeiros relatos históricos e religiosos eram orais e foram redigidos apenas entre 1250 a.C. e 1000 a.C. em cinco livros que formam a Torá judaica, os cinco primeiros livros da Bíblia.
Portanto, a versão final do Gênesis e dos outros livros, data de 1000 a.C. mais de mil anos depois do tempo de Abraão. Isso significa que muita coisa pode e deve ter sido modificada, até mesmo pelas próprias mudanças históricas.
Patriarcas, Juízes, Reis e Profetas
Na fase dos Patriarcas o povo não tinha unidade política e nem mesmo território para chamar de sua terra. Estavam organizados em tribos lideradas pelos patriarcas. Abraão foi o primeiro dos patriarcas. Era um povo nômade e esse é seu primeiro período histórico.
A ciência confirma o período patriarcal e seus costumes e comportamento de acordo com as histórias bíblicas. Embora não tenham sido encontradas provas dos personagens mencionados,
Historicamente, já se sabe que os patriarcas viveram na Mesopotâmia, a leste do rio Eufrates e conviveram com povos chamados semitas ocidentais.
As tabuinhas de argila que foram encontradas nas diversas escavações, se referem a eles como Amuru ou seja Am (homens), Uru (ocidente). Possivelmente os amoritas.
Na época, todo cidadão para ter direitos precisava ser dono de terras e sedentário pelo menos durante algumas gerações. Era por esse motivo que os amuru e os patriarcas não eram admitidos nas cidades. Embora praticassem o comércio, eles não podiam viver dentro das cidades, portanto permaneciam nômades, com suas tendas montadas do lado de fora dos muros das cidades.
Na fase dos Juízes, as tribos estavam estabelecidas no território de Canaã, mas os povos que ainda viviam por ali constituíam um grande perigo para eles.
Os cananeus e os filisteus lutavam para recuperar seu território que havia sido ocupado pelos hebreus (hoje existem contestações, que dizem que os povos que viviam em Canaã acabaram por se misturar aos hebreus e adquirir seus costumes pacificamente).
Os Juízes não eram chefes oficiais e sim pessoas carismáticas, de personalidade forte e que lideravam as tribos num momento de necessidade.
Quando uma das tribos era atacada, era o Juiz quem organizava as outras tribos para socorrerem a tribo necessitada. Parece que os Juízes também ministravam a justiça quando necessário.
O tempo dos Juízes foi o tempo em que as tribos se uniram contra inimigos estrangeiros. Mas, o único traço firme entre as tribos era a religião e parece que durante essa época, por diversas vezes o povo hebreu vacilou em sua fé. Por diversas vezes prestaram culto a outros deuses.
Esse período cobre de cerca de 1380 a.C. a 1050 a.C. e na política não havia organização, não havia sentido de Estado. As doze tribos por vezes estavam unidas e se defendiam e outras vezes brigavam entre si quase a ponto de se exterminarem.
As informações como sempre, foram tiradas da Bíblia, portanto estamos fazendo um apanhado da história que, na maior parte das vezes não tem comprovação.
Antes dos Reis, quando ainda viviam no sistema tribal, é possível que a região de Canaã tenha sido assolada pela fome. Foi esse o motivo do povo judeu ter partido em direção ao Egito onde havia fartura e paz.
Abraão e as tribos provavelmente se adaptaram ao Egito onde deveria haver muitas construções na época e portanto trabalho e comida. A escravidão tão falada, até hoje não foi comprovada.
Ao que parece eles inclusive tinham liberdade de culto, uma das comunidades judaicas que existiam no Egito ficava na ilha de Elefantina, o que é comprovado por um papiro em aramaico do quinto século a.C. Ali existiu um Templo de Iaveh antes da invasão do Egito por Cambises embora não se conheça a localização exata. Também havia comunidades no Delta.
A saída do povo hebreu do Egito contada na Bíblia está por ser comprovada e é motivo de muita discussão. Como não fazemos aqui nenhuma espécie de juízo religioso, apenas tentamos seguir os registros, fica complicado afirmar situações ainda não confirmadas.
Após o Êxodo, o povo hebreu atravessou o deserto sob a liderança de Moisés até chegar a Canaã novamente.
É nessa altura que o povo abandona a vida nômade e ali se estabelece dividindo o território entre as doze tribos.
A partir do momento em que as tribos abandonam a vida nômade, começam as desavenças. Por diversas vezes houve rupturas e por diversas vezes voltaram a adorar outros deuses.
O profeta Samuel, que foi o último dos Juízes então, escolheu Saul da tribo de Benjamim para ser o primeiro rei de Israel e organizar o um Estado. Esse é o tempo dos Reis.
Após Saul que era guerreiro, reinou Davi, guerreiro também que tomou Jerusalém dos jebuseus e fez dela a capital do reino.
Os Profetas eram homens que faziam previsões, inspirados por Deus. Aconselhavam o povo mesmo quando corriam o risco de morte. Muitas vezes, ao anunciar as catástrofes, desgraças que viriam, o povo os perseguia.
Depois do retorno a Palestina, não se ouve mais falar dos profetas.
Divisão dos reinos, tempos difíceis
Como vimos, Davi foi o verdadeiro fundador da monarquia hebraica. Quando morreu quem herdou o trono foi seu filho Salomão.
Este rei transformou Jerusalém, que era uma cidade simples, numa magnífica capital. Para arcar com tantas obras ele aumentou os impostos o que não agradou o povo.
No módulo sobre os fenícios, podemos ler a história de seu pedido ao rei de Tiro, para que lhe cedesse madeira e tudo o mais que precisava, inclusive os arquitetos, para a construção de um templo. O custo disso foram 20 cidades da Galiléia que Salomão cedeu ao rei Hiram de Tiro.
No final de seu reinado, as tribos do norte já não o aceitavam e nem ao seu filho e sucessor, Roboão.
Assim, em 928 a.C. se deu a ruptura, ficando Israel ao norte e Judá ao sul. O primeiro rei do norte, Jeroboão proibiu seu povo de voltar a Jerusalém e mudou o conceito religioso. Eles passaram a celebrar cultos e sacrifícios nas colinas.
As 10 tribos que ficaram no norte, tinham por capital Samaria e formavam o reino de Israel.
As 2 tribos que ficaram no sul, tinham por capital Jerusalém e formavam o reino de Judá.
As tribos que formam o reino de Judá são Benjamim e Levi e continuam a ser governadas pelos descendentes de Davi. Por causa disso todos os hebreus da tribo de Judá passam a ser chamados de judeus, e mais tarde a própria doutrina religiosa se torna conhecida como judaísmo.
Lutando entre si, os dois reinos se enfraqueceram e os profetas Amós e Oséias avisaram, predisseram o exílio e o fim da nação.
De fato, os assírios, a grande força guerreira da região, chegaram devastando tudo e deportaram a população, do reino de Israel não sobrou nada.
O reino de Judá, ao sul, ficou quietinho, aceitando a dominação assíria e até mesmo se rendendo aos seus deuses.
Nessa altura, o profeta Isaías anunciou que os habitantes de Jerusalém também sofreriam outra dominação. E assim seguiram outras previsões e outras conflagrações, foram os assírios, egípcios, babilônios.
Jeremias foi o profeta que previu as piores catástrofes que seriam causadas por Nabucodonosor e que iriam culminar com o cativeiro da Babilônia que durou 50 anos.
Jeremias foi preso, Jerusalém caiu em 586 a.C. e o templo foi destruído. Judá se transformou numa província babilônica.
O Regresso
Quando o persa Ciro tomou a Babilônia, permitiu o regresso dos exilados, o retorno à Palestina. É aqui que termina a era dos grandes profetas.
Ezequiel um sacerdote que havia sido deportado, recebeu o nome de Pai do Judaísmo, porque tomou a si a missão de reorganizar o povo hebreu em torno da Lei e do Templo.
Esse é o início do tempo dos escribas, dos legisladores, da narração das tradições, da história, do fortalecimento do povo de Israel.
Povo sem terra
A história do povo hebreu é marcada pelas diversas vezes em que foi disperso, em que ficou sem território, em que foi separado mas manteve sua unidade em torno da religião.
Portanto vamos recordar aqui as diversas vezes em que esse povo ficou sem terra.
A palavra êxodo significa saída ou emigração em massa de um povo ou parte dele. O Êxodo dos hebreus se refere à saída do Egito sob o comando de Moisés.
Cisma quer dizer separação ou divisão. O Cisma dos hebreus se refere à divisão da Palestina entre as 12 tribos após a morte do rei Salomão.
A palavra diáspora significa dispersão de um povo. A Diáspora dos hebreus se refere à dispersão dos hebreus pelas províncias romanas.
O Cativeiro da Babilônia é a expressão usada para se referir ao episódio em que os judeus foram levados para a Mesopotâmia, por ordem de Nabucodonossor e lá ficaram por 50 anos.
A primeira diáspora do povo hebreu pode ser anotada quando Sargão II, usando da política que era comum aos assírios, espalhar os povos conquistados, obrigou os hebreus a se mudarem após conquistar o reino de Israel.
Depois, com Nabucodonosor veio o Cativeiro da Babilônia, quando Jerusalém e o Templo são destruídos.
Em 70 AD. os exércitos romanos de Tito destruíram o Templo Jerusalém e os judeus foram dispersados, se espalharam pela Europa e chegaram à América.
Em 135 AD o imperador Adriano, romano, finalmente os subjugou em Circa, destruiu Jerusalém, reconstruiu-a sob outro nome e, por centenas de anos, nenhum judeu foi autorizado a entrar na cidade.
Em 31 de março de 1492, os reis católicos Fernando e Isabel, assinam o decreto de expulsão dos judeus, determinando a saída dos cerca de cento e cinquenta a duzentos mil judeus da Espanha, pelos irreparáveis danos que causavam ao cristianismo.
Entre 1941 e 1945 mais de 6 milhões de judeus são mortos pelos nazistas durante a 2ª guerra mundial. É o Holocausto.
Finalmente em 29 de Novembro de 1947, a Assembléia da ONU presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, decidiu pela divisão da Palestina Britânica em dois estados, um judeu e outro árabe. Em 14 de Maio de 1948, algumas horas antes do término do mandato britânico sobre a Palestina, David Ben Gurion assinou a Declaração de Independência do Estado de Israel.
E assim o povo hebreu passou a ter seu Estado, Israel.
Novas descobertas, descendência antiga
Independente da crença religiosa, temos no patriarca Abraão, quer ele tenha existido da forma como o conhecemos pelas religiões ou não, um traço em comum.
Seu filho com Sara, sua esposa, Isaac detém a paternidade do povo judeu.
Abraão, no Islã, chamado Ibrahim, teve com Agar um filho chamado Ismael, pai do povo árabe.
Foram realizados estudos genéticos por cientistas de cinco países que colheu amostras de DNA de 1300 homens árabes e judeus em 30 países, para estudar o cromossomo Y (herança passada de pai para filho sem mudanças).
Esse estudo revelou que esses povos possuem um ancestral em comum, possivelmente semitas ocidentais que teriam habitado o Oriente Médio há pelo menos 4000 anos.
É preciso entender que a arqueologia nessas terras conflagradas por ódios inexplicáveis, é muito difícil. Há que se ter o cuidado de não esbarrar em uma relíquia que possa ser vista como propaganda política deste ou daquele povo.
Portanto, ainda tem muita história a ser desvendada se os homens puderem colocar a razão acima da política e do ódio e talvez se encontre a raiz comum desses irmãos briguentos.