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Comunicação online e aprendizagem/Comunicação Face-a-Face e Comunicação Online

Origem: Wikilivros, livros abertos por um mundo aberto.

Como ser social, o ser humano necessita comunicar-se e estar, constantemente, interagindo com aqueles que o rodeiam. A comunicação face-a-face é a forma de comunicação primária da condição humana mas, se viajarmos atrás no tempo, facilmente constatamos que, desde sempre, o Homem procura encontrar novas formas de comunicação.

As pinturas rupestres e os sinais de fumo, o desenvolvimento de diferentes idiomas, o treinamento de diferentes animais para assegurar o envio de mensagens, o papel dos monges copistas medievais e tantos outros exemplos, demonstram o desejo de comunicar, de forma cada vez mais rápida e eficaz.

A comunicação é inevitável. As sociedades comunicam e têm essa necessidade efetiva. O próprio desenvolvimento de códigos de linguagem reflete a adaptação dos processos de comunicação às realidades específicas de cada sociedade.

Vejamos a revolucionária invenção da imprensa, ou a evolução da primeira rede de computadores, à base de comutação de pacotes (ARPAnet), até ao advento da Internet, o ambiente que possibilita a comunicação com pessoas em locais diversos do planeta e desenvolve uma nova cultura - a cibercultura.

Cabe refletir sobre o que este mundo novo, mais próximo e mais conetado, estará a fazer ao pensamento humano?

Uma Era de comunicação global

As últimas décadas têm sido marcadas por uma forte mudança na forma como nos relacionamos e comunicamos. Existem diferenças óbvias entre a comunicação face-a-face e a comunicação mediada pela tecnologia e, é possível verificar que esta tem evoluído, rapidamente, e ganho uma incrível, importância na vida das pessoas.

Vivemos uma Era de comunicação global, que redesenha e transforma a condição humana e as suas necessidades básicas. É nesta ainda desconhecida Era, que o Homem consegue estar presente, ainda que ausente; estar perto, ainda que longe e informado, ainda que num dilúvio de informação, que se transforma a cada segundo.

Silverstone (2002) refere:

"precisamos compreender a tecnologia da informação e comunicação, para aprender as sutilezas, o poder e as consequências da mudança tecnológica. Pois as tecnologias são coisas sociais, impregnadas pelo simbólico e vulneráveis aos paradoxos e contradições eternas da vida social, tanto na sua criação como no seu uso."

Não podemos esquecer que "o ser humano receia e, ao longo da história, o desconhecido aponta as nossas hesitações relativamente a estes novos espaços." (Wellman, 1997 apud Recuero, 2005).

Desta forma, a questão da comunicação face-a-face e a comunicação mediada por computador (CMC) é um tema que gera pontos de vista distintos, nomeadamente, no que respeita a um possível isolamento social, na era digital. A comunicação face-a-face ainda é percebida, por muitos, como a forma de comunicação mais fiável e pessoal e, a comunicação online, como uma forma impessoal e geradora de relações mais superficiais.

Simmel (1950) aponta que, na comunicação face-a-face, o olhar é o que permite estabelecer a ligação e a interligação entre os seres humanos, as significações e a troca. Outros autores referem a necessidade da copresença como elemento ativo num processo de comunicação (Boden & Molotch, 1994). Nesse processo, os elementos de cariz corpóreo transmitem significados e significações extremamente importantes, como relembram Krauss e Morsella (2002) sobre as sensações inerentes à voz e à sua sonoridade própria.

Quantas etiquetas e medidas sociais utilizamos na comunicação face-a-face? Não estará ela, também, impregnada de simbologia e diretrizes? Será, realmente, mais fiável que a comunicação mediada por tecnologia?

Comunicação_Face-a-Face_e_Comunicação_Online

Esta virtualização e desmaterialização da comunicação teve, também, impactos nas relações sociais. A cibercultura reflete a influência das novas tecnologias na sociedade e na cultura, que se projeta no ciberespaço, em constante mutação (Lévy, 2000). Quando comparada com a comunicação face-a-face, podemos apontar que a comunicação online dispensa a burocracia de um encontro presencial mas, ao mesmo tempo, agrega novos desafios para se concretizar, que se referem à literacia digital .

As redes interativas de computadores crescem e desenvolvem-se. Em consequência, novas formas e novos canais de comunicação, regulando a vida e sendo, também, regulados por ela (Castells, 1999). Se, como afirma Amaral (2008), pensarmos no fenómeno das redes sociais como uma reconfiguração, em larga escala, do espaço social, entendemos a desmaterialização do espaço-tempo, que caracteriza o ciberespaço.

Em relação à comunicação online, Baudrillard afirmava que a vivência humana se projeta em telas, que esbatem os constrangimentos do tempo e do espaço, nas quais o real já não existe (Baudrillard, 1981). Pode dizer-se, então, que fazemos parte de uma geração digital, que vive acontecimentos passageiros e em contínua adaptação (Koehle & Carvalho, 2013).

Nessa ordem de ideias, encontramos perspetivas pessimistas sobre a velocidade das experiências causada pela comunicação online. Virilio (1993) afirma:

"a súbita reversão dos limites introduz, desta vez no espaço comum, o que até o momento era da ordem da microscopia. O pleno não existe mais. No seu lugar uma extensão sem limites desvenda-se, numa falsa perspetiva, que a emissão dos aparelhos ilumina."

É relevante, neste ponto da reflexão, apontar Silva (1999), no que respeita à conceção da Internet como lugar antropológico:

"Este novo espaço, com áreas de privacidade - um novo mundo virtual ou mundo mediatizado - é um suporte aos processos cognitivos, sociais e afetivos, os quais efetuam a transmutação da rede de tecnologia eletrónica e telecomunicações em espaço social povoado por seres que (re)constroem as suas identidades e os seus laços sociais nesse novo contexto comunicacional. Geram uma teia de novas sociabilidades que suscitam novos valores. Estes novos valores, por sua vez, reforçam as novas sociabilidades. Esta dialética é geradora de novas práticas culturais."

Neste sentido, a CMC possibilita a transcendência dos limites do tempo e do espaço em duas modalidades: síncrona e assíncrona. A comunicação síncrona assenta na premissa "em tempo real", de que os chats são excelente exemplo. Da comunicação assíncrona, mensagens que podem ser lidas em tempo real e/ou respondidas sem limitação temporal, do que são representativos o e-mail e fóruns de discussão .

Lévy e Althier (2000) afirmam:

"assistimos a um desses raros momentos nos quais, a partir de uma nova configuração técnica, de uma nova relação com o cosmos, se inventa um novo estilo de humanidade."

Lévy (1996) humaniza o virtual. Os utilizadores conformam-se com a virtualização e, por meio dela, partilham as suas realidades, retirando-lhes o lado frio e maquinado da tecnologia e, conferindo-lhe um cariz de fator de sociabilização.

Não obstante, a desconfiança face à comunicação virtual existe e, é evidente em Locke:

"O problema reside na natureza da comunicação humana. Pensamo-la como um produto do espírito, mas é feita por corpos: movimentos faciais, tons de voz, movimentos corporais, gestos de mão (…) Na Internet, o espírito está presente, mas o corpo está ausente." (Locke, 2000 apud Giddens, 2004, p. 101)

Assim como Locke, outros tantos pensadores apontam as limitações da atual comunicação mediada pela tecnologia. E no âmbito da educação, no que tange à educação à distância (EaD), estes debates reverberam e fazem pensar alternativas para diminuir este espaço, físico e temporal, que separa professores e alunos.

Neste contexto, Moran (2004) refere:

"a Internet, as redes, o celular, a multimedia estão a revolucionar o nosso quotidiano. Cada vez resolvemos mais problemas conectados, à distância. Na educação, porém, sempre colocámos dificuldades para a mudança, sempre achámos justificativas para a inércia ou, vamos mudando mais os equipamentos do que os procedimentos. A educação de milhões de pessoas não pode ser mantida na prisão, na asfixia e na monotonia em que se encontra. Está muito engessada, previsível, cansativa."

Neste sentido, pode dizer-se que a comunicação online e as "novas" tecnologias revolucionaram o conhecimento, democratizando-o, como veremos nos capítulos seguintes.

Não podemos deixar de remeter para as diferenças de comportamento social, entre a comunicação face-a-face e a CMC, que acabam por se esbater e atenuar com o tempo (Quintas et al, 2010), à medida que o avanço tecnológico nos oferece mais recursos e ferramentas mais eficientes, para a promoção de uma comunicação efetiva. A despeito de qualquer crítica e visões pessimistas, a comunicação online surge, cada vez mais, como um canal de comunicação eficiente, de sucesso e promotor de relações sociais e de aprendizagens significativas.

Efetivamente, as ferramentas de comunicação online passaram a ser o novo espaço de relacionamento social. Sabemos que, jamais o ser humano rejeitará a comunicação face-a-face. No entanto, a hibridez da realidade coloca, por vezes, o desafio de já não ser possível separar o humano do não humano e, parece já não ser uma necessidade fazê-lo.

Em consonância com a ideia de hibridez, anteriormente colocada, Clark (2000) afirma "I am slowly becoming more and more a Cyborg. So are you.(...) Perhaps we already are. (...)".

O conceito de comunicação mudou, como evoluem outros domínios da vida humana, adaptando-se e ajustando-se às novas necessidades. Devemos, portanto, reconsiderar as nossas perceções e repensar os conceitos de comunicação e interação social, na perspetiva de acomodarmos a "nova" realidade.

Para Castells (2010), "as fronteiras entre a comunicação de massas e as outras formas de comunicação estão a esbater-se."

Assim, a comunicação online no ciberespaço, reconfigura as formas de comunicar e as relações sociais, não como isoladora, mas como promotora de uma escala nunca antes vista e, com um acesso à informação e conhecimento, nunca antes presenciado (Farah, 2004).

Reforçando esta ideia, Castells (1999) afirma dispormos, hoje, de um número suficiente de elementos demonstrativos que a Web e a CMC não isolam, antes descentralizam, permitindo ao indivíduo pertencer a comunidades de aprendizagem, sem as barreiras do tempo e do espaço e, como tal, ampliar significativamente, os horizontes da comunicação humana.

Há ainda muito para desvendar sobre a cibercultura e, particularmente, sobre os aspetos que remetem às relações humanas e à comunicação online.

Como afirma Turkle:

"Não temos que rejeitar a vida no ecrã, mas também não temos que tratá-la como uma vida alternativa. Podemos usá-la como espaço de crescimento." (Turkle, 1997, p.394)

Mas, como se estabelece este processo de comunicação hiperpessoal? E que teorias o sustentam?

Autores:

Elizabeth Batista

Hélder Pereira