Comunicação online e aprendizagem/Teorias da Comunicação Online: O Modelo da Comunicação Hiperpessoal

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Desde os primórdios que existe comunicação, uma das particularidades dos seres vivos, que pode ser feita por meio de palavras escritas ou ditas, por gestos, mímica e variadas formas de expressão corporal. Com o avanço tecnológico, adicionaram-se, também, a comunicação radiofónica, televisiva e, mais recentemente, a comunicação mediada por computador (CMC).

Se as primeiras implicam a presença de emissor e recetor, as últimas, são exemplos de sem copresença e, muitas vezes, assíncrona.

Já não precisamos recorrer à literatura para reconhecer o que têm sido declarado nas últimas décadas, pelos académicos - em função da transformação ocorrida na forma das pessoas se comunicarem, estamos diante da Segunda Revolução Industrial. John Chambers, presidente da Cisco Systems, empresa reconhecida globalmente, no segmento de tecnologia de redes, afirma que “ Durante os últimos anos ficou claro que o mundo mudou para sempre” (FitzGerald & Dennis, 2010).

Na primeira Revolução Industrial, a inserção das máquinas e dos novos modelos de administração, modificou a forma de trabalhar. Na segunda Revolução Industrial esse modo de trabalhar transforma-se, de forma inimaginável, em consequência das alterações nos modelos de comunicação.

Numa breve retrospectiva histórica, FitzGerald & Dennis (2010) retratam que, por volta de 1800, uma mensagem originada na Inglaterra levaria várias semanas de navio, até chegar ao continente americano. No século seguinte, a técnica alcançou a proeza de transmitir a mesma mensagem, em cerca de uma hora. Atualmente, a comunicação pode ocorrer no espaço de segundos.

Precedidos pelas "invenções" de Samuel Morse (sistema de telégrafo), Alexander Graham Bell (telefone), Thomas Edison (lâmpada) e Alexander Bain (telégrafo de impressão), os sofisticados sistemas de transmissão de voz e dados, atuais, permitem uma comunicação em tempo real, a grandes distâncias.

Hoje podemos, potencialmente,a qualquer hora e em qualquer lugar do mundo, estabelecer comunicação em segundos, independentemente da distância existente entre quem transmite e quem recebe a mensagem, estando a informação acessível a qualquer hora e em qualquer lugar.

Este fato coloca o homem diante de uma nova constatação: reconhecer que não sabemos lidar com a quantidade de informação que nos acomete a todo o instante, torna confuso o estabelecimento de prioridades, deixa difuso o entendimento do que deveria ser acedido quando necessário, por meio de pesquisa e delimitação de objetos de interesse.

A todo momento, o indivíduo é assediado demandas - por frívolas ou reais - que tornam este tema extenso, complexo e atrativo. A sociedade vê-se diante de uma comunicação que se apresenta, cada vez mais, mediada por ferramentas computacionais, que ela própria produz.

Teorias da Comunicação Mediada por Computador (CMC)

No que tange a teorias de Comunicação Mediadas por Computador (CMC) de relevância para a educação online, destacamos a Teoria da Riqueza dos Media e a Teoria da Comunicação Hiperpessoal.

O modelo da Riqueza dos Media indica que os meios demonstram diversos tipos de capacidades para minimizar falta de clareza ou dubiedade nas comunicações (Daft & Lengel, 1984 apud XXX). Nesta perspetiva, os media ricos possibilitam feedback, transmitem pistas e,caraterizados por mensagens específicas e personalizadas, proporcionam uma comunicação clara.

Segundo estes estudos, a comunicação face-a-face constitui-se no tipo de comunicação que apresenta maior possibilidade de clareza portanto, mais rica. Do mesmo modo, compreende os vários tipos de CMC como menos poderosos e, possivelmente, menos eficientes. A figura seguinte, apresenta os diferentes níveis de capacidade dos media, segundo esta teoria.

Hierarquia da riqueza dos media

Walther (1995) define a Comunicação Hiperpessoal caracterizando-a, principalmente, pela assincronia e ausência de contato visual com o interlocutor, que denomina de ausência de pistas visuais. Para ele, os grupos de CMC podem, em diversos casos, superar os de comunicação face-a-face, no que respeita a demonstrações de sentimentos e afetividade, ou seja, “a CMC pode ser mais social e íntima ou “hiperpessoal” que a Comunicação Face-a-Face.” (Utz, 2000).

Este modelo apresenta comparações referentes aos processos psicológicos da comunicação relacional e, aos elementos necessários a uma boa comunicação: a) o emissor, aquele que transmite a mensagem; b) o recetor, que a descodifica; c) o canal; d) o feedback.

Nesse processo é importante evitar ruídos para que a mensagem chegue ao destino, sem interferência. Quando o recetor descodifica a mensagem, pode ou não retorná-la. É este retorno, denominado feedback, que na CMC é passível de ocorrer com delay, contribuindo para o aumento das impressões positivas do interlocutor e gerando uma tendência de feedback positivo, pois permite um tempo de reflexão.

Feedback na Comunicação

Cabe detalhar alguns efeitos deste tipo de comunicação, que se fizeram conscientes no decurso deste estudo.

Inicialmente, regista-se o reconhecimento que, numa interação online, os parceiros em comunicação adotam uma espécie de identidade social, ocorrendo um efeito empático, que resulta numa maior possibilidade de atração mútua pelas particularidades comuns. Nesta relação eles sentem-se mais próximos, ligados, e estabelece-se um sentimento de confiança.

Também é sabido que os parceiros de mensagens online, uma vez não estarem na presença física um do outro, poderão utilizar uma perspetiva generosa em relação às suas próprias qualidades, apresentando uma versão otimista de si mesmos. Walther (1995) afirma esta versão como possivelmente verdadeira, na medida em que o indivíduo, despreocupado com o exterior, volta a atenção para si, gerando “exageros positivos” presentes, tanto na mensagem do emissor como na percepção do recetor.

Ainda, segundo Walther (1995), a CMC facilita a interação interpessoal, considerando que os parceiros dedicam mais tempo à criação e à edição da mensagem e, estão livres para mesclar diferentes tipos de mensagens, não lhe sendo exigido feedback imediato.

Por fim, o autor refere o que denomina de feedback loop, ou seja, efeitos de feedback ampliados pela interação social, na medida em que, os parceiros da comunicação tendem a responder ou confirmar, de forma recíproca, as impressões e expetativas positivas, um do outro.

Com o fenómeno tecnológico das redes sociais, desenvolveu-se uma necessidade de ampliação da comunicação, entre os “amigos” de rede, que se refletiu por meio da escrita, no recurso a chats, criados para esse efeito e, deu início ao debate sobre a confiabilidade deste tipo de comunicação, ao nível dos sentidos e dos sentimentos. Este tipo de comunicação foi se configurando e criando especificidades.

Uma comunicação que se configura e cria especificidades e que, na informalidade, estabelece novas regras e convenções. Regras de escrita e etiqueta, que cada emissor transmite ao recetor, que se generalizam e são incorporadas nos processos de comunicação e na linguagem. É o caso do uso de palavras em maiúsculas - que simboliza um volume da voz, um grito - e podem ser entendidas como exacerbação ou deselegância; ou ainda o uso do ícone dos smiles - emoticons - para expressar emoções e sentimentos dos utilizadores.

Neste novo contexto, como se desenvolve e como se devem gerir questões inerentes à distância e à proximidade?

Trabalho elaborado por: Sandra Melro Leideana Bacurau