Civilizações da Antiguidade/Os etruscos

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Os etruscos


Podemos dizer que os etruscos são até hoje um povo pouco conhecido por motivos diversos. Mas, fato é que deixaram uma bela herança histórica que, esperamos, aos poucos será mais compreendida.

cavalos alados etruscos, Tarquinia

Eram chamados pelos gregos de tirrenos e pelos romanos de tusci ou etrusci. Se referiam a si mesmos como rasna ou rasenna.



Mistérios[editar | editar código-fonte]

Vamos começar pela língua desse povo, que não é indo-européia. Seus escritos podem ser lidos, pois os caracteres são gregos, mas é uma língua que não foi completamente decifrada.

Existe um texto chamado “Tábua de Cortone” (se presume de 200 a.C.) sobre o qual se debruçam os estudiosos ainda sem grande sucesso.

escrita etrusca na chamada Pedra de Perugia

A origem dos etruscos também é motivo de curiosidade e discussões. Das três hipóteses conhecidas, nenhuma parece ser satisfatória.

Heródoto acreditava que os lídios da Ásia Menor haviam emigrado para a Itália Central e da mistura com os umbros, se originaram os etruscos. Dionísio de Halicarnasso acreditava que os etruscos fossem autóctones italianos. Uma passagem de Tito Lívio, mal interpretada, fez crer que os etruscos tinham descido dos Alpes.

Na verdade a possibilidade mais correta e aceita é que os etruscos tenham se originado da mistura de diversos povos e se instalado na região que ocuparam entre os anos 1200 a.C. e 700 a.C.

mapa da civilização etrusca

Localização[editar | editar código-fonte]

A Etrúria (atual Toscana) era limitada pelos rios Arno e Tibre e pela costa do mar Tirreno. No período de sua maior expansão, controlou quase toda a península itálica.


Desenvolvimento e Cidades[editar | editar código-fonte]

Os etruscos se desenvolveram naturalmente graças a sua cultura, aparentemente superior à dos povos locais.

Eles ocuparam terras férteis, cuja produção, especialmente do trigo superava as necessidades do povo. Todo o excedente da agricultura era exportado.

Os minerais, zinco, cobre, chumbo, ferro, foram a base da florescente indústria de metais, que gerou enorme riqueza.

Grandes navegantes que eram, os etruscos construíram portos e o comércio tornou esse povo ainda mais próspero.

A Etrúria, na verdade não foi um Estado unificado. Ela era constituída de diversas cidades-Estado, cada uma com sua própria política.

Eram doze cidades chamadas dodecápolis.

vestígios da civilização etrusca em Vulci

Cada cidade-Estado era governada por um lucumon (soberano) que era escolhido entre os chefes das famílias mais poderosas. Esse soberano possuía todos os poderes e todas as insígnias mais tarde copiadas pelos magistrados de Roma.

Nem sempre os tempos eram de paz, de vez em quando as cidades se enfrentavam e isso era comum.

Suas cidades eram o reflexo da sua capacidade arquitetônica, havia avenidas que dividiam os bairros, estradas, pontes, redes de esgoto e de águas pluviais.

Além disso eles construíram aquedutos e drenaram pântanos para aproveitar as terras para plantio.

As casas etruscas possuíam átrio e foram eles que introduziram os arcos, abóbodas e cúpulas originarias de seus templos suntuosos.


Forças militares e o comércio[editar | editar código-fonte]

Não há dúvidas de que os etruscos deveriam ser um povo muito bem armado para enfrentar os desafios de se expandir e enriquecer.

exemplo de arte etrusca

Seu exército em terra era cópia dos exércitos gregos, inclusive na formação em falanges.

No mar, sua marinha de guerra se rivalizava com as dos gregos e fenícios.

O poderio naval dos etruscos só foi destruído em 474 a. C. quando, mesmo aliados à frota cartaginesa, enfrentaram os gregos e foram derrotados em Cumas.

Parece que os etruscos e cartagineses eram muito unidos e haviam enfrentado e vencido juntos, outras batalhas.

Quanto ao comércio, é fácil concluir que, como já falamos sobre as colheitas abundantes e os minérios, os etruscos exportavam muitos produtos.

O vinho se tornou conhecido pelos gauleses através dos etruscos.

Com tantos portos e sendo bons marinheiros, era fácil colocar seus produtos nos locais os mais diversos.

os dançarinos, tumba do triclinium

Mas, eles também importavam o estanho da atual Grã-Bretanha e da Grécia traziam as cerâmicas, além de importarem ouro, prata e marfim do oriente.

Arte e religião[editar | editar código-fonte]

Os afrescos etruscos nas câmaras mortuárias contam muito sobre a vida e os hábitos do povo. E, ainda mais, deixam claro que a história da pintura italiana começa ali.

A noção de divisão do espaço, as cores o movimento que alcança seu momento mais feliz no túmulo do Triclinium.

As estátuas de terracota sobre os túmulos e outras obras que demonstram sua habilidade e bom gosto.

estátua etrusca

A cerâmica preta e brilhante chamada buchero era típicamente etrusca, semelhante a porcelana chinesa, até hoje não se sabe como era feita.

Além de esculpirem em pedra, os etruscos criavam peças de bronze, das quais a mais famosa é a Quimera de Arezzo, e ainda trabalhavam em marfim e madeira.

Também criaram belas peças de joalheria, cheias de detalhes, a maior parte encontradas nos túmulos. A filigrana e outras técnicas dos joalheiros etruscos certamente foram aprendidas com os ourives sírios e fenícios e depois desenvolvidas ao máximo.


a quimera de Arezzo


A religião etrusca é um caso a parte, não se sabe muito sobre os seus deuses além dos nomes. A tríade que comanda o panteão etrusco é composta de Tínia, Uni e Menrva.

O principal ponto a se considerar é que ela é uma religião que possui livros. Os etruscos acreditavam que um menino chamado Tages, que tinha a sabedoria de um ancião, surgiu dos sulcos feitos na terra. Esse menino veio ao mundo para ensinar e suas palavras estão nos livros chamados:


  • libri fulgurales, aquele que contem as regras para interpretar os raios e os relâmpagos,
  • libri rituales, aquele que ensina todos os ritos a serem observados na vida dos cidadãos,
  • libri haruspicini, aquele que trata da previsão do futuro através das entranhas dos animais.


Os túmulos[editar | editar código-fonte]

reconstituição de tumba etrusca

Assim como no Egito, a maior riqueza legada pelos etruscos encontrou-se nos túmulos.

Pelo respeito ao morto e pela crença na vida após a morte, os mortos eram sepultados com tudo aquilo que talvez precisassem para ter um feliz post-mortem.


Os túmulos subterrâneos são chamados hipogeus, são retangulares com uma falsa cúpula. Na verdade são escavados nas rochas.

Muito mais que os objetos ali encontrados, podemos observar pelas pinturas que decoram os túmulos todo um modo de vida dessa sociedade.

A cena mais repetida é a do banquete. Certamente havia banquetes durante a vida e também o banquete onde se reuniam os familiares e amigos do morto. Portanto a vida dos ricos deveria ser muito agradável.

tumba dos relevos

Os etruscos gostavam da música e da dança, e nos afrescos pode-se observar diversos tipos de instrumentos musicais. Talvez houvesse rituais com música e dança nos sepultamentos.

Pode-se observar as roupas, os sapatos, os diversos estilos de penteados e as capas ou túnicas adornadas por ricas jóias que também enfeitavam as mulheres como brincos, colares e braceletes.

Já na fase de declínio da civilização etrusca, se repara que as pinturas vão ficando mais trágicas e sombrias, as cores são escuras e há demônios e monstros guiando os mortos.

sarcófago etrusco


Declínio dos etruscos[editar | editar código-fonte]

Por volta do século V foi um período difícil para os etruscos, que estavam no auge mas, as colônias gregas também estavam no apogeu.

Além disso, entre a Etrúria e o Lácio, a cidade de Roma que fora dominada pelos etruscos, agora ganhava independência e partia para o ataque.

No mar, os gregos da Itália, liderados pela cidade de Siracusa derrotaram os etruscos na batalha de Cuma. Com essa derrota o povo etrusco perdeu definitivamente o controle sobre o mar Tirreno.

brinco, exemplo da joalheria etrusca

Por terra a situação não era melhor com as invasões de diversos povos, como umbros e celtas. A Etrúria não possuía uma ligação mais forte, uma identidade nacional, suas cidades Estado não estavam preparadas para enfrentar outra potencia, não havia união.

Roma começou a atacar a Etrúria em 498 a.C. e só conseguiu completar a conquista em 264 a.C. Foram mais ou menos 234 anos de escaramuças, conflitos, ataques, um período bastante longo de resistência do povo etrusco.

Com a queda dos etruscos, sua população se romaniza, mas não perde certos traços, como sua linguagem, sua religião e na verdade, a maior parte dos reis, no inicio da monarquia romana, tinha origem etrusca.