Civilizações da Antiguidade/Mali

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O Reino de Mali



Mesquita no Mali atual.

Hoje Mali é um dos países mais pobres do mundo. Infelizmente não é dada a importância devida a sua história, afinal, tem um passado ilustre porque foi um dos reinos mais importantes e poderosos da África.

Os três reinos mais importantes nessa região foram Gana, Mali e Songhai.

Aqui vamos desvendar um pouco da maravilhosa história do Mali, conhecer a terra dos Mansas.

Mansas é como eram chamados os reis do Mali.

O reino do Mali surgiu ao redor da cidade de Timbuktu, fundada por volta do ano 1100. A cidade nasceu como ponto de apoio e abastecimento das caravanas que traziam sal das minas do Deserto do Saara. O sal era trocado por ouro e escravos, trazidos pelo Rio Níger.

O primeiro dos grandes impérios foi o de Gana, que controlava as rotas das caravanas que transportavam o ouro e o sal além de outras mercadorias preciosas. O reino de Gana caiu ante as invasões dos muçulmanos almorávidas e logo foi dominado pelo império mandinqué do Mali. Muito do que sabemos sobre o Reino de Mali se deve aos griots, que eram os contadores de histórias. Eles percorriam as savanas transmitindo ao povo os acontecimentos de sua história.

Império de Mali.

O Reino de Mali[editar | editar código-fonte]

No início do século XIII, Allakoi Keita, um chefe fugido do Reino de Gana, funda o reino de Sosso. Seu filho Sumanguru Kanté massacra a família Keita dominando todo o reino do Mali.

Em 1235 o único Keita sobrevivente, Sundiata Keita que estava exilado em Gana derrota Sumanguru e em 1240 ele conquista o reino de Gana, formando assim um império que se estendia do Senegal ao Níger e do sul da Mauritânia à mata costeira, englobando em seu império as três maiores regiões mineradoras de ouro da região: Buré, Galam e Bambuk.

Mari Djata (o Leão do Mali) assim era chamado Sundiata Keita, dividiu o império em várias províncias governadas por farins, que eram os representantes do rei. Com a morte de Sundiata, quem governou foi seu filho Mansa Ulé (1255-1270) e seus sucessores – Abubakar I e depois dele, Sakura, um ex-escravo que há pouco havia se tornado membro da casa militar dos Keita, foi escolhido pelo conselho da corte como o próximo soberano. Essa foi a solução encontrada para resolver o conflito entre os descendentes de Sundiata.

Sakura ampliou ainda mais o império com a conquista de Macina e Takrour. Sakura morreu na volta de uma peregrinação à Meca em 1300.

Depois vieram Abubakar II e Mansa Mussa (ou Kandu Mussa, 1312-1332).

A política desses reinos africanos era caracterizada por um governo forte e por sociedades tribais, baseadas nos parentescos. Não havia fronteiras rígidas ou identidade étnica. Eles eram trabalhadores e muito talentosos.

Mari Djata[editar | editar código-fonte]

Sundiata Keita (também chamado Sundjata Keyita ou Mari Djata ou Jata ou Makhara Makhang Konate) foi o fundador do Reino de Mali e rei do povo Malinqué. Esse povo malinqué vive ainda hoje na África.

Rio Níger

A história desse rei foi contada e recontada pelos griots, ou jelis, como são conhecidos entre os malinqués, portanto existe o lado mágico que está registrado no Épico de Sundiata e é parte integrante da cultura Mande. Até hoje a história é contada, inclusive com todo um ritual e com o uso de máscaras. O épico também faz parte da história que as crianças do Mali, Gâmbia, Senegal e Guiné aprendem na escola, parte de sua cultura.

Sundiata fez de Niana sua capital e com pulso firme garantiu os territórios de onde o ouro era extraído e comercializado, assim estabeleceu um governo central que trouxe paz e ordem a todo o reino.

Uma vez que Sundiata era devoto do Islã, foi fácil para ele estabelecer relações comerciais com os muçulmanos do norte da África e do Oriente Médio.

Foi esse rei quem introduziu o cultivo e tecelagem do algodão e fez do Mali uma das regiões mais ricas em cultivo da África.

Navegantes[editar | editar código-fonte]

Caravana em Timbuktu nos anos 1300

Abubakar II foi um governante destemido e curioso, em seu reinado, no ano 1330, ele enviou uma expedição de duzentos barcos cargueiros para ver até onde ia o Atlântico. Desses duzentos, só um voltou.

Mais tarde o mesmo governante enviou uma segunda expedição, que era agora bem maior, contando com duas mil embarcações. Dessa vez nenhuma delas retornou.

Existe uma hipótese de que a expedição teria chegado à América e que os habitantes do reino do Mali seriam os descobridores do novo mundo. Isto sem dúvida está no âmbito das curiosidades uma vez que, não há provas e nem estudos conclusivos a respeito.

O fato comprovado, independente do resultado dessas expedições, é a demonstração de que os habitantes do Mali tinham preparo para o comércio marítimo, e principalmente, tinham organização política e social para deslanchar uma empreitada desse porte.

O ouro[editar | editar código-fonte]

Mansa Mussa.

O sucessor de Abu Bakari II foi Kandu Mussa (ou Kankan Mussa ou Mansa Mussa). No início do seu governo, ele fez uma peregrinação a Meca acompanhado de uma imensa caravana. Isso se deu em 1324-1325.

Ele chegou ao Cairo com cem camelos carregados de ouro, sessenta mil carregadores além de quinhentos servidores. Todos usavam vestimentas enfeitadas de ouro e uma bengala também de ouro. Sua generosidade era tanta que distribuiu ouro em tamanha quantidade no Egito, que causou abalos na moeda local.

Esse fato, sem precedentes, criou o mito europeu de que a África era um lugar de imensas riquezas, lá, até os escravos vestiam ouro. Foi por causa desse acontecimento, que em 1375, o cartógrafo Cresques, de Maiorca, ao completar o Atlas Mundial, fez desenhar o rei do Mali sentado num trono, segurando um globo (uma enorme pepita de ouro) e o cetro, bem no centro da África ocidental. Nessa viagem, Mansa Mussa estabeleceu relações comerciais no Egito, que era a principal potência econômica da época.

O ouro se tornou o produto básico de exportação da África ocidental.

Ensino e religião[editar | editar código-fonte]

Mesquita de Djingareiber

A religião predominante era o islamismo, que está ligada ao estudo, não só do Alcorão, mas ao ensino em geral. Embora seja importante fazer um parêntese para notar que havia na religião várias influências especialmente pagãs. As crianças aprendiam o Alcorão, mas ainda havia muito de feitiçaria nas crenças populares.

Mansa Mussa foi o rei que incentivou a cultura, o ensino e a expansão do Islã.

Na sua famosa peregrinação a Meca, ele trouxe para o Mali, mercadores e sábios e divulgou a religião islâmica.

O imperador também trouxe consigo um poeta-arquiteto, Abu Issak, mais conhecido como Essaheli, ou Ibrahim Abû Ishaq Essaheli. Foi ele quem planejou a grande mesquita de Djingareiber. Uma joia da arquitetura que começou a ser construída em 1325 e foi terminada por Kandu Mussa.

Esse rei também enviou estudiosos para o Marrocos, para estudar na universidade de Fez. Esses sábios voltaram ao Mali e lá fundaram seus centros de ensino e estudo corânico.

Timbuktu se tornou um centro de difusão de intelectual e espiritual islãmico da África ocidental para comerciantes e para estudiosos. Grandes mesquitas, universidades (como de Sankore), escolas e bibliotecas foram construídas durante o Império Máli.

Poder e sabedoria[editar | editar código-fonte]

Mesquita de Sankore.

Os reinos africanos, governados por reis sábios e justos, como Mansa Mussa e Sonni Ali (Songhai), eram admirados tanto entre os islâmicos como entre os cristãos europeus. Suas riquezas eram transformadas em conquistas sociais e artísticas para seus povos.

As capitais eram cidades muradas e possuíam mesquitas, sendo que, pelo menos duas delas em Timbuktu e Djenne tinham universidades. Os estudiosos, religiosos, sábios e poetas iam até lá sempre em busca de mais conhecimento.

Leo Africanus, descreveu Timbuktu como a cidade do ensino e das letras, onde o rei, embora dispusesse de muitos cavaleiros, financiava de seu próprio tesouro muitos magistrados, doutores e religiosos. Ele ainda comenta que, em Timbuktu existe um grande mercado de livros dos países bérberes e ganham muito mais com a venda de livros do que com qualquer outra mercadoria.

Essa foi a época de ouro do reino de Mali, com suas escolas de teologia e direito famosas por todos os lugares.

O poder desses reis era apoiado pela força militar, mas também por um senso de justiça, pelo controle do comércio e dos impostos e por alianças diplomáticas.

Declínio[editar | editar código-fonte]

Império Songhai.

Durante mais de três séculos, no Mali, diversas etnias conviveram mantendo sua língua e sua cultura, sob a autoridade dos Mansas.

Os sucessores de Mansa Mussa tiveram dificuldades em manter o controle de um território tão grande, além do interesse de outros povos na riqueza da terra.

Dessa forma, o reino de Songhai, povo originário do noroeste da Nigéria, começou a anexar as províncias do Mali até tomar Djenne, uma das principais cidades.

No século XV Mali perdeu o poder sob o domínio definitivo dos Songhai.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]