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Civilização Banto/Contribuições para a cultura brasileira

Origem: Wikilivros, livros abertos por um mundo aberto.
Gravura de Johann Moritz Rugendas do século XIX retratando algumas etnias de negros escravizados trazidos para o Brasil
Cachimbos
Fragmentos de "cachimbos", palavra de origem banta
"Cochilo", um exemplo de palavra de origem banta que foi incorporada ao idioma português
O jiló é um alimento de origem banta que se integrou perfeitamente à culinária brasileira
Desfile de escola de samba no Rio de Janeiro
João Gilberto, o criador da bossa nova

A maior parte dos negros escravizados que foram trazidos para o Brasil eram de etnias banto (Congo, Benguela,Ovambo, Cabinda, Angola, Macua, Angico etc.)[1]. A despeito do intenso processo de aculturação a que foram submetidos quando chegaram no Brasil, muito de sua cultura original preservou-se. Muito do vocabulário atual do português que é falado no Brasil, por exemplo, tem origem banto. Mais especificamente, se origina do idioma quimbundo, uma das línguas nacionais de Angola.

Por exemplo: "banza" vem de mbanza[2]. "Banzar" vem de kubanza[3]. "Berimbau" vem de mbirimbau "Bunda" vem de mbunda. "Cachimbo" vem de kixima, palavra que também originou "cacimba". "Caçula" vem de kasule. "Cacumbu" vem de ka, "pequeno" e kimbu, "machado"[4]. "Cacunda" vem de kakunda[5]. "Cafuné" vem de kifunate, "torcedura". "Calango" vem de kalanga[6].

"Camundongo" vem de kamundong. "Candimba" vem de kandemba[7]. "Canjica" vem de kanjika. "Capanga" vem de kappanga. "Carimbo" vem de kirimbu, "marca". "Caxinguelê" vem de kaxinjiang'elê, "rato de palmeira"[8]. "Cochilar" vem de kukoxila. "Curiango" vem de kurianga, "preceder"[9]. "Curinga" vem de kuringa, "matar"[10].

"Dendê" vem de ndénde, "palmeira". "Farofa" vem de falofa. "Fubá" vem de fuba. "Ganja" (no sentido de "vaidade") vem de nganji[11]. "Ganzá" vem de nganza, "cabaça"[12]. "Jiló" vem de njilu. "Macaia" vem de ma'kaña[13]. "Macota" vem de ma'kota, "os maiores"[14].

"Maculo" vem de ma'kulu[15]. "Macumba" vem de ma´kumba[16]. "Marimba" vem de marimba[17].

"Marimbondo" vem de ma (prefixo de plural) + rimbondo, "vespa". "Maxixe" vem de maxi'xi[18]. "Mocambo" vem de mu´kambu, "cumeeira". "Molambo" vem de mu´lambu, "pano". "Moleque" vem de mu´leke, que significa "menino". "Moqueca" vem de mu´keka. "Muamba" vem de mu´hamba, "carga". "Mucama" vem de mu´kama, "amásia escrava". "Mugunzá" vem de mu´kunza, "milho cozido". "Mumbanda" vem de mi-nbamda, "mulher"[19]. "Mumbica" vem de mu'bika, "escravo"[20].

"Munguzá" vem de mu'kunza, "milho cozido"[21]. "Murundu" vem de mulun'du[22]. "Muxiba" vem de mu´xiba, "nervo, veia". "Quiba" e "quibas" vêm de kiba, "pele, couro"[23]. "Quenga" vem kienga, "tacho"[24]. "Quibaca" vem de kibaka, "ombreira"[25]. "Quibebe" vem de kibebe[26].

"Quiçaça" vem de kisada, "moita, ramo"[27]. "Quiçamba" vem de kisambu, "samburá grande"[28]. "Quilombo" vem de kilombo, "povoação". "Quimanga" vem de kimanga, "alcofa, cesto"[29].

"Quimbanda" vem de kimbanda, "curandeiro"[30]. "Quitanda" vem de kitanda, "feira". "Quitute" vem de kitutu, "indigestão". "Samba" vem de semba, "umbigada". "Senzala" vem de sanzala. "Soba" vem de soba[31]. "Tanga" vem de tanga, "pano". "Tungar" vem de tunga, "madeira, pancada"[32]. "Tutu" vem de ki´tutu. "Umbanda" vem de umbanda, "magia"[33]. "Xingar" vem de kuxinga, "injuriar".

Muitos alimentos cultivados e consumidos pelas populações bantos se incorporaram à alimentação cotidiana da população brasileira, como o jiló, a melancia, o maxixe, a galinha d'angola, o quiabo, o azeite de dendê e o feijão-fradinho. No campo da música, os bantos forneceram grande parte do ritmo que caracteriza a música brasileira. O gosto dos bantos pelos batuques, atabaques e instrumentos de percussão se refletiu em gêneros musicais como o samba, a bossa nova, o coco, o maracatu, o pagode etc. Um instrumento musical introduzido na música brasileira provavelmente pelos bantos foi a cuíca, que acredita-se originalmente ter sido criada para imitar os sons dos animais e ajudar desta forma a atraí-los para serem caçados.

Em Salto de Pirapora, no estado de São Paulo, existe, até hoje, um dialeto derivado das línguas bantos. É a cupópia, que é usada juntamente com o português e que se compõe de uma mistura dos idiomas quicongo, quimbundo e umbundo[34]. Em duas cidades do estado de Minas Gerais, também sobrevivem, até hoje, línguas de origem banto: em Patrocínio (a língua calunga) e em Bom Despacho (a gira da Tabatinga). Embora todas as três línguas estejam em processo de extinção, devido ao reduzido número de pessoas que as conhecem.

A atual arte marcial da capoeira foi criada no Brasil pelos negros escravizados bantos procedentes do sul de Angola, que praticavam, em sua terra de origem, uma luta que tinha por objetivo encostar o pé na cabeça do oponente, num movimento semelhante ao coice de uma zebra. Tal luta, chamada n'golo ("zebra" em quimbundo), era praticada ao som de tambores e possuía muitos movimentos semelhantes à capoeira atual. O vencedor das competições da luta tinha o direito de escolher uma noiva sem ter de pagar o dote, na cerimônia de iniciação das mulheres chamada mufico, efico ou efundula[35]. O berimbau, o principal instrumento utilizado na capoeira, também é originário dos povos bantos do sul da África.

A festa típica da congada é uma referência direta às antigas cerimônias envolvendo os reis do Congo, as quais foram trazidos para o Brasil pelos negros escravizados dessa região[36]. Na festa do congo de Vila Bela da Santíssima Trindade, no estado brasileiro do Mato Grosso, as descendentes de quilombolas fabricam uma bebida típica à base de aguardente, gengibre e mel chamada kanjinjin. O nome é uma homenagem a um famoso príncipe africano chamado Cangingin, filho do rei do Congo[37].

Fugindo às opressões da escravidão, muitos negros escravizados fugiam das fazendas e se refugiavam nos "quilombos", palavra do idioma quimbundo que significa "povoação", "acampamento fortificado". Eram cidades formadas por negros escravizados fugidos e que reproduziam os costumes sociais africanos. O maior dos quilombos foi o de Palmares, no atual estado de Alagoas, cujo líder Zumbi se tornou símbolo da luta dos negros pelo reconhecimento de seus direitos. A data da morte de Zumbi, 20 de novembro, se tornou o dia da Consciência Negra, que é feriado em muitas localidades brasileiras. Zumbi significa "duende", em quimbundo. Ele era neto de Aqualtune, princesa do Congo que havia sido capturada e vendida como escrava no Brasil[38].

Outro levante famoso de negros escravizados foi o liderado por Manuel Congo, na cidade de Pati do Alferes, no Rio de Janeiro, em 1838. Aproximadamente quatrocentos negros escravizados fugiram de duas fazendas e se refugiaram na mata. Entre eles, muitos negros escravizados com nomes que faziam referência à cultura banto, como por exemplo Vicente Moçambique, Afonso Angola, Josefa Angola, Emília Conga e Justino Benguela. Os negros escravizados rebelados acabaram sendo recapturados, muitos deles, açoitados e Manuel Congo, enforcado[39][40]. Em 2003, o Decreto 4 887 passou a regular a identificação, e a legalização dos territórios remanescentes dos antigos quilombos. A medida significa um reconhecimento oficial, por parte do governo brasileiro dos direitos dos descendentes de negros escravizados e do valor de sua cultura. [41][42]

Referências

  1. FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51ª edição revista. São Paulo. Global. 2006. p. 383.
  2. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.230
  3. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.230
  4. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.309
  5. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.309
  6. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.317
  7. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.333
  8. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.376
  9. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.511
  10. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.512
  11. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.834
  12. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.835
  13. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 057
  14. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 060
  15. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 061
  16. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 061
  17. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 093
  18. BUENO, E. Brasil: uma história - a incrível saga de um país. Segunda edição. São Paulo: Ática, 2003. p.121
  19. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 170
  20. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 170
  21. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 171
  22. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 173
  23. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 434
  24. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 431.
  25. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 434
  26. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 434
  27. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 434
  28. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 434
  29. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 435
  30. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 435
  31. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 597
  32. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 726.
  33. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 736
  34. Onde Angola encontra o Brasil. Revista Nossa História, ano três, número 33, julho 2006, p. 11
  35. http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1445a
  36. FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51ª edição revista. São Paulo. Global. 2006. p. 439.
  37. http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=13869&edicao=9671&anterior=1
  38. http://web.archive.org/20080116020129/africaeafricanidades.wordpress.com/2007/10/03/aqualtume/
  39. http://www.patydoalferes.rj.gov.br/historia/congo.htm
  40. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aldeia_de_Arcozelo_-_Chapel_dedicated_to_slaves.jpg
  41. http://web.archive.org/web/20090815121202/http://www.revistalibertas.ufjf.br/artigos/volume2n2/artigo07.pdf
  42. http://www.saomiguel.pr.gov.br/noticias/vernews.php?id=391

E são essas as contribuições dos Bantos para a cultura Brasileira.