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Civilização Aruaque/História

Origem: Wikilivros, livros abertos por um mundo aberto.
Cayo Largo em Cuba. "Cuba" vem do termo taino cubanacan, que significa "lugar central"
Distribuição de povos aruaques tainos no Caribe no século XV
Mapa da ilha de Espanhola (atualmente, ocupada por Haiti e República Dominicana) mostrando os cinco cacicados tainos em que ela se dividia na época da chegada dos espanhóis
Baixo-relevo no parlamento cubano mostrando a morte de Hatuey, líder taino que incitou seu povo a lutar contra os espanhóis
Índios campas do município de Marechal Taumaturgo, no estado brasileiro do Acre
Índio enauenê-nauê

Os povos de línguas aruaques são originários da região da atual fronteira entre Brasil e Venezuela. Dessa região, se expandiram em todas as direções, atingindo regiões como a atual Flórida, a Bolívia, a ilha brasileira de Marajó e o noroeste argentino. No início da era cristã[1], os tainos, um povo de língua aruaque, ocuparam as ilhas do Caribe, submetendo à escravidão os habitantes originais, chamados siboneys ou guanahatabeys. Os tainos dividiram a região em unidades administrativas conhecidas como cacicados.

Por volta do ano 400, acredita-se que um povo de língua aruaque tenha atingido um elevado grau de civilização na ilha brasileira de Marajó, na foz do Rio Amazonas. Tal povo já conhecia a escrita e se notabilizou pela produção de cerâmica de elevada qualidade, bem como pela complexa organização social. Entre seus restos arqueológicos, figura um tipo de peça único no mundo: tangas feitas de cerâmica[2].

No século XV, os tainos estavam sendo afetados pela expansão dos povos de línguas caribes, que já dominavam as pequenas ilhas do sul do Caribe. Neste contexto, em 1492, Cristóvão Colombo desembarcou nas Bahamas, tomando posse do território em nome dos reis espanhóis e travando contato com os iucateianos, um povo de língua aruaque. Os primeiros contatos dos europeus com os povos locais foram amistosos. Porém, um século após este encontro inicial, os povos aruaques do Caribe estavam praticamente dizimados pelas doenças trazidas pelos europeus (principalmente a varíola e o sarampo) e pela violência e trabalhos forçados a que foram submetidos pelos colonos espanhóis, obcecados por metais preciosos ou qualquer outra riqueza que pudessem extrair das terras americanas, incluindo algodão e outros produtos agrícolas, os quais deveriam ser pagos aos espanhóis a título de tributo.

Muitos líderes aruaques se rebelaram contra os espanhóis: Hatuey, que partiu do Haiti para Cuba para alertar sobre a violência, a crueldade e as armaduras de ferro dos espanhóis; Anacaona, uma grande líder taino haitiana que tentou negociar a paz com os espanhóis mas que acabou sendo morta por estes e Enriquillo, neto de Anacaona, criado por religiosos espanhóis em Santo Domingo e que liderou uma bem-sucedida revolta contra os espanhóis na República Dominicana.

No século XVII, na ilha brasileira de Marajó, os habitantes locais de língua aruaque, os nuaruaques, se aliaram aos neerlandeses, ingleses, escoceses e irlandeses, lhes vendendo peixes, tartarugas e peixes-bois em troca de produtos manufaturados. Essa aliança foi combatida pelos espanhóis e portugueses (na época, os dois países estavam unidos na União Ibérica) e pelos aliados destes, os índios tupinambás. Isto provocou a expulsão dos nuaruaques (em língua tupi, os nuaruaques eram chamados de nheengaíba, que significa "língua ruim") da Ilha de Marajó e subsequente tupinização da ilha[3].

Melhor sorte tiveram os demais povos aruaques da América do Sul, protegidos pelas florestas. Alguns desses grupos conseguiram chegar até os dias de hoje com sua cultura praticamente intacta, como os tarianas da Colômbia e do noroeste do estado brasileiro do Amazonas, os palicures da Guiana Francesa e do norte do estado brasileiro do Amapá, os iaualapitis do Parque Indígena do Xingu, no Brasil, os baniuas da fronteira tríplice entre Brasil, Colômbia e Venezuela, os culinas e os campas (também conhecidos como caxinauás ou axanincas[4]) do estado brasileiro do Acre e do Peru, os enauenê-nauês, parecis, uaurás e meinacos do estado brasileiro de Mato Grosso, os apurinãs, denis, uarequenas e curipacus do estado brasileiro do Amazonas, os terenas do estado brasileiro de Mato Grosso do Sul e os uapixanas do estado brasileiro de Roraima[5].

Os barés e os uerequenas, do estado brasileiro do Amazonas e da Venezuela, conseguiram preservar sua identidade, embora tenham substituído sua língua original aruaque pelo nheengatu, a língua geral amazônica, que pertence ao grupo linguístico macrotupi e que foi difundida na região pelos padres carmelitas[6].

Em 1910, foi criado o primeiro órgão do governo brasileiro voltado para a questão indígena: o Serviço de Proteção ao Índio.

Em 19 de abril de 1940, índios de todo o continente americano se reuniram na cidade mexicana de Pátzcuaro para debater a situação dos povos indígenas americanos. Desde então, a data passou a ser comemorada como o dia do índio[7].

Em 1961, os irmão brasileiros Villas Bôas conseguiram a criação, pelo governo brasileiro, de uma grande reserva indígena no estado de Mato Grosso: o Parque do Xingu. A área, do tamanho da Bélgica, passou a abrigar várias etnias indígenas. Entre elas, as etnias de língua aruaque dos meinacos, uaujas e iualapitis[8].

Em 1967, o Serviço de Proteção ao Índio, devido a irregularidades administrativas, foi substituído pela Fundação Nacional do Índio.

Na década de 1970, ocorreu o primeiro contato de não índios com os índios salumãs, no noroeste do estado brasileiro do Mato Grosso. Na década seguinte, descobriu-se que o nome salumãs era o nome pelo qual essa tribo era conhecida pelos seus vizinhos. A si mesmo, os salumãs chamavam-se de enauenê-nauês. Desde então, esse passou a ser o nome mais usado para se referir a eles[9].

Em 2002, a câmara municipal de São Gabriel da Cachoeira, cidade situada no estado brasileiro do Amazonas, oficializou a incorporação de três línguas indígenas entre os idiomas oficiais da cidade, junto com o português. Entre elas, o baniua, língua pertencente ao grupo aruaque[10].

Em 2012, estreou o filme brasileiro "Xingu", narrando a trajetória de criação do parque homônimo, em 1961. Os iualapitis participaram das filmagens[11].

Referências