Civilizações da Antiguidade/A civilização fenícia

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Civilização Fenícia



Os fenícios e outros povos

Templo dos Obeliscos, Biblos

Os fenícios influenciaram de maneira marcante outras civilizações de grande importância dentro da história.

Quando a Grécia clássica saiu de sua Idade Negra sentiu o efeito do comércio marítimo dos fenícios no Egeu.

Quando a belíssima civilização Minoana surgia em Creta, por volta de 2000 a.C., os fenícios já estavam bem estabelecidos como grandes comerciantes marítimos no Mediterrâneo.

Homero, ao compor seus trabalhos, por volta de 800 a.C. casualmente contou na Odisséia, que os navios fenícios iam para oeste, saindo de Creta para Pylos e a leste para Sidon. Essa observação foi corroborada por Tucídides, que comentou que, os primeiros colonos gregos que chegaram à Sicília em 734 a.C. encontraram entrepostos comerciais fenícios já estabelecidos na ilha.

Quando os romanos se libertaram do rei etrusco em 509 a.C., primeiro declaram-se uma república e logo a seguir assinaram um tratado de comércio com os fenícios, muito certamente para lucrar também com o comércio e poder crescer.

Sob a grande pirâmide no Egito, havia dois barcos de cedro enterrados, datados de 2550 a.C. (aproximadamente). Essa é uma prova do contínuo comércio de cedro, feito pelos fenícios e que já havia começado há pelo menos 650 anos antes, em Hieracômpolis. Em todos os períodos de prosperidade no Egito existem provas do comércio com os fenícios. O Templo dos Obeliscos, em Biblos, é cercado por estelas no formato de obeliscos, presenteadas pelos faraós egípcios.


Mapa da Fenícia

Localização geográfica[editar | editar código-fonte]

Os fenícios viviam numa faixa de terra estreita, que margeava a costa do Mediterrâneo. Essa faixa se estende de Ugarit ao norte até o Monte Hermon, ao sul.

Nos dias de hoje, vamos situar o povo fenício no Líbano e parte da Síria. Entre as cordilheiras Líbanos e Anti-Líbanos (sempre cobertas de neve) fica o Vale do Bekaa, um dos poucos lugares de solo fértil na área e foi esse o grande motivo dos fenícios encontrarem no mar os recursos para sobreviver.

Os rios locais são o Litani e Orontes.

É importante destacar na vegetação, o cedro, árvore emblema do Líbano e que desde a antiguidade foi muito valorizada, especialmente pelos egípcios. O monte Líbano, de acordo com antigos manuscritos era coberto de florestas de cedro, carvalho e árvores de essências aromáticas,

Diógenes Silva nega completamente a existência de fenícios em sua tese [1], defendida perante 5 doutores membros do Tribunal de tese, em Madrid, Espanha, na Universidade Complutense de Madrid, a 15 de janeiro de 2016, tendo como director: Carlos González Wagner. Recebeu qualificação máxima, por unanimidade, “cum laude”, e recomendado para publicação. O texto foi aprovado previamente pelo Deptº. de História da Universidade de São Paulo – USP. E revalidado oficialmente no Brasil pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UFRJ, em 2018.

O seu texto de 418 páginas, contendo figuras, mapas, fotos, e transcrições, analisa as razões da origem e da permanência da falsa teoria de supostos navegantes fenícios do Brasil, desde o século XV até o presente. Explicando os verdadeiros interesesses econômicos e políticos que a falsa suposição foi capaz de encobrir, perpetuando-se entre os intelectuais brasileiros, americanos e europeus. Desde Cristovão Colombo até a Internet. Passando a pela: Igreja católica; a disputa lusa-espanhola pelo controle das colônias; as missões dos Viajantes Naturalistas; as demarcações das fronteiras sul-americanas; a independência do Brasil; o reinado de Pedro II e a escravidão; a propaganda durante a Revolução de 1930; o carnaval brasileiro; suas canções; e filmes populares. Além das publicações em jornais e revistas mundiais, de fraudulentas descobertas, falsas inscrições rupestres, e cidades abandonadas imaginárias banhadas a ouro. Resultado de fake news, a tese prova que os fenícios jamais pisaram a América.

Quem eram os fenícios?[editar | editar código-fonte]

As teorias são muitas e variadas.

leão fenício

O nome Fenícia deriva do grego Phoiníke (terra das palmeiras). Na Bíblia, parte da região recebe o nome de Canaã, derivado da palavra semita kena'ani mercador.

Também é dito que Fenícia vem da palavra de origem grega phoinikes, que se refere ao chamado super heróis que o povo acreditava.

É possível que esse povo tenha vindo do golfo Pérsico ou da Caldéia. Talvez eles mesmos se chamassem de Cananitas.

A mais antiga teoria a respeito da origem dos fenícios vem de Heródoto, antigo historiador grego. Ele sugere que esse povo veio do Mar Vermelho, o que na antiguidade significava o golfo Pérsico e oceano Índico.

Outra possibilidade é a que sugere que os fenícios tenham vindo de outro grupo maior, chamados Cananitas, que muitos anos antes haviam habitado a Anatólia (atual Turquia) e o Egito.

Ainda há outra teoria, que afirma que as cidades de Biblos, Sidon, Tiro e outras já existiam e foram conquistadas pelos Povos do Mar por volta de 1200 a.C. e que a mistura entre os habitantes locais e os Povos do Mar deram origem aos fenícios. Essa hipótese não combina com o que foi encontrado nas escavações, uma vez que, não há sinais de mudanças sociais ou destruição nas cidades.

Com relação à teoria acima, alguns estudiosos defendem que as cidades de fato existiam antes de 1200 a.C., mas não eram em nada diferentes das vizinhas, antes do aparecimento dos Povos do Mar. Eles acham que os Povos do Mar atacaram e conquistaram as outras cidades do Levante, de modo que, o povo que se tornou diferente foi o povo não atacado, os fenícios, e é por isso que se data de 1200 a.C. a sua origem.

restos originais do barco fenício Mazarron I

A maior parte da história do povo fenício desapareceu, provavelmente gravada em papiros, foram destruídas pelo tempo e pela intervenção humana.

As fontes usadas para elaborar a história desse povo são:

  • O Antigo Testamento da Bíblia
  • Os anais assírios
  • Homero e outros autores gregos e latinos
  • O trabalho dos arqueólogos

Mesmo com tão poucas fontes, sabemos que os fenícios legaram o alfabeto ao ocidente, inventaram a vela dos barcos, sofisticaram seu conhecimento de navegação com outros povos, usando a quilha, foram grandes comerciantes e ampliaram o conhecimento do mundo antigo. Até mesmo Homero, fala sobre a arte fenícia, quando conta que Aquiles recebeu uma tigela de prata feita em Sidon, nos funerais de Pátroclo.

Política[editar | editar código-fonte]

É impossível falar da política dos fenícios sem mencionar o comércio marítimo, porque o tipo de governo da Fenícia era a Talassocracia, que significa um governo comandado por homens ligados ao mar.

foto da Nasa, Tiro, atual

A região era dividida em cidades-estados que eram completamente independentes e cada uma estava sob o governo de um rei.

As famílias mais poderosas, certamente eram aquelas que dominavam o comércio marítimo, os grandes armadores e eram eles ou pessoas indicadas por eles, que também comandavam o governo das cidades.

Não se sabe se ao falar da Fenícia estamos falando de um estado, não há provas de que suas cidades seriam unidas a ponto de formar um verdadeiro estado. É possível que essas cidades muradas, independentes, tivessem também políticas independentes e só se unissem no caso de interesses comuns. Portanto, ao que parece, a Fenícia não era definida por seu território e sim pelo comércio marítimo, inclusive não havia um exército fenício, em geral suas relações com outros povos se atinham ao comércio.

Durante a história fenícia houve fases alternadas na importância das cidades, fases em que Biblos era mais importante, em outras Sidon, Tiro ou Ugarit. Essa importância política era ditada pela força do comércio.

Navegação e comércio[editar | editar código-fonte]

É na região do porto de Biblos que estão as informações mais antigas sobre os fenícios, ali foram encontradas marcas de ocupação do local desde 5000 a.C.

Em Babilons, por volta de 3000 a.C., as construções de pedra tomaram o lugar das toscas casas de madeira e nessa época a cidade já estava murada, possuía templos e toda a estrutura de uma cidade desenvolvida.

rotas comerciais fenícias

Num local banhado pelo mar, era natural que suas cidades e entrepostos fossem construídos junto à costa, o que facilitava o carregamento dos navios.

Portanto, quando os Povos do Mar chegaram causando um colapso na região, os fenícios só tiveram o que lucrar. Se antes eles já eram comerciantes e já eram desenvolvidos, com a chegada de uma leva de tribos causando modificações generalizadas, os fenícios foram o povo privilegiado.

Com os Povos do Mar, os fenícios aprenderam técnicas de construção de barcos e de navegação. A mais importante talvez tenha sido o uso da quilha (um pedaço de madeira pesado, que é preso no fundo do barco) e que permite manobrar com precisão independente da força e direção dos ventos.

Em pouco tempo a Fenícia começava sua expansão, controlando as rotas comerciais, nessa altura quase não se via mais os navios de Creta e Micenas no Mediterrâneo.

A importância do comércio era tanta, que o rei Hiram, de Tiro, elevou a parte oriental da cidade com a criação de um aterro artificial, transformando-a em um porto fortificado.


Os fenícios exportavam suas riquezas naturais, madeira e essências de suas florestas: cedro, zimbro, pinheiro e sândalo, além da púrpura. E importavam as matérias primas de que precisavam para trabalhar, como metais, marfim, fibras têxteis, etc.

O mais fabuloso artigo que era produzido na Fenícia era o tecido púrpura. Era algo de luxuoso e demandava o uso das glândulas de milhares de moluscos chamados múrex, isso tudo para tingir uma única peça de roupa. Já se vê que era vestimenta de nobres, e as cores variavam do rosa suave ao violeta dependendo do tempo que o tecido ficava ao sol e da quantidade do múrex utilizado.

A partir do momento em que dominaram o comércio na área do Mediterrâneo e lá fundaram muitas colônias e entrepostos, os fenícios se aventuraram bem mais longe.

O povo fenício foi citado por Homero, na Odisséia, da seguinte forma: desses famosos marinheiros fenícios, verdadeiros rapinantes com seus carregamentos de bugigangas.

O fato é que eles faziam comércio com a Assíria, Egito, Arábia, Palestina e seguem avançando para Chipre, onde instalaram entrepostos, mais tarde a rede comercial dos fenícios já se estendia por todo Mediterrâneo: Malta, Sicília, Sardenha, Córsega, Espanha e África do Norte. Eles não procuraram fundar povoações a única exceção foi Cartago.

Todos esses locais foram usados como paradas para as embarcações, tanto para desembarcar ou embarcar produtos, quanto para recuperar barcos avariados.

O fato é que de uma forma ou de outra os fenícios dominaram comercialmente grande parte do mundo conhecido, apenas com seu tino comercial.

Artes[editar | editar código-fonte]

estatueta de bronze

No final da Idade do Bronze, a influência de outros povos sobre os fenícios, até mesmo pelo contato próximo por causa do comércio, era enorme e há quem afirme que não há uma arte típicamente fenícia.

Mas independente das influências culturais, entre os fenícios havia grandes artesãos, que transformavam a matéria prima trazida de outros portos em verdadeiras obras de arte, e em produtos de qualidade para uso e para venda.

Criavam peças de bronze e de louça, os ourives trabalhavam os metais preciosos e o marfim e criavam jóias finas. Os pisoeiros (aqueles que apisoavam a lã para amaciá-la) e os tecelões preparavam os tecidos, tingindo e bordando.

Há também, dentre as peças que sobreviveram ao tempo, objetos de vidro colorido, frascos, taças e contas para colares. Na verdade, eles eram mestres em adaptar suas criações ao gosto dos compradores. Mas, os artistas fenícios criaram muitas obras de qualidade encontradas em diversos lugares do Mediterrâneo. Podemos citar as jóias de ouro trabalhadas em filigrana, vasos de vidro decorados e pérolas em massa de vidro, o trabalho em marfim era especialmente bem feito.

Religião[editar | editar código-fonte]

Também na religião os fenícios foram muito influenciados pelos outros povos com os quais praticavam o comércio.

estela do Tofet de Nora, Sardenha, Itália

O que sabemos de sua religião era que adoravam diversos deuses e possivelmente praticavam sacrifícios humanos.

Seu deus principal era El e sua companheira Asherat ou Elat, deusa do mar. Deles descendiam os outros deuses como Baal, Ashtar ou Tanit.

As cidades também cultuavam seus deuses preferidos, como Meqart em Tiro, em Biblos a deusa mãe era chamada Baalal e Baal chamado de Adonis. Em Sidon El era cultuado como Baal.

Tomando por base o Antigo Testamento, sabemos que o rei Salomão pediu a ajuda de Hiram, rei de Tiro para construir um templo em Jerusalém.

Hiram então forneceu os marinheiros capazes de buscarem o ouro de Ofir, onde ficavam as jazidas e levá-lo ao reino dos hebreus. Além do mais, o rei de Tiro também forneceu a madeira de cedro, cipreste e sândalo, junto com operários para construir o templo e o palácio real. Entre esses operários estava o bronzeiro Hiram-Abi, o mais famoso da época, que entre belas peças criou os dois pilares de bronze que emolduravam as portas do templo, e a fabulosa pia de metal fundido que ficava no átrio e é conhecida como mar.

reprodução da Pedra de Nora com o alfabeto fenício

Para sabermos como era esse templo de Jerusalém, basta saber como eram as construções religiosas da Fenícia, uma vez que ele foi projetado por arquitetos de Tiro, segundo técnicas fenícias.

Os templos fenícios eram construídos em áreas abertas, com altares ao ar livre e santuários decorados chamados Tofet (que poderiam também ser cemitérios).

Linguagem e escrita[editar | editar código-fonte]

Os fenícios foram os primeiros a compreender a importância da escrita porque era básico para suas operações comerciais.

O alfabeto fenício foi baseado no alfabeto semita e a partir daí surgiram o alfabeto grego, aramaico, hebraico e arábico. Interessante notar que não há vogais no alfabeto fenício, seus símbolos apenas apresentam as consoantes, portanto, é preciso deduzir as vogais de acordo com a palavra que se pretende ler.

sarcófago de Ahiram, rei de Biblos

A escrita alfabética inventada por eles foi adotada por todos os povos da bacia mediterrânea e do Oriente Médio.

Temos o alfabeto fenício bem documentado em monumentos da cidade de Biblos, como no sarcófago de Ahiram. Eram 21 consoantes de forma fixa e escrita horizontal.

Devido ao comércio e a expansão fenícia através do Mediterrâneo, o alfabeto foi exportado para Chipre, Creta e mais tarde para a Sardenha e para o sul da Espanha. Além do uso comercial, embora suas obras literárias tenham se perdido, temos uma tradução de um autor fenício de nome Sakkunyaton que foi feita pelo grego Filon de Biblos.

Declinio[editar | editar código-fonte]

Os fenícios se destacaram dentre as grandes civilizações da antiguidade por serem diferentes, não formaram em momento algum um império coeso, não fizeram guerras, não se impuseram a nenhum outro povo.

Suas cidades eram autônomas e se espalhavam ao longo da costa, e de todas elas, não podemos deixar de mencionar Biblos, que se destacou no comércio com o Egito trocando o cedro por papiro para fazer livros, que era a sua especialidade. Sidon, chamada de Mãe de Canaã e Tiro, a mais famosa. O profeta Ezequiel fala assim de Tiro:

Ó Tiro, tu que habitas nas avenidas do mar, tu que fazes do comércio com os povos, com as muitas ilhas, tu que disseste: sou perfeita em beleza!

Cerco de Tiro

O povo fenício estava acostumado ao domínio de outros povos e não se preocupava com isso desde que não afetasse o comércio. Portanto, quando os persas, sob o Ciro II, conquistaram a Babilônia e consequentemente submeteram as cidades fenícias não houve maiores problemas. Porém, sob o rei Dario I da Pérsia, as cidades gregas se rebelaram e estourou a guerra. Os fenícios estavam sob o domínio persa e portanto obrigados a apoiá-los.

Os navios fenícios seguiram para as batalhas contra os gregos e a partir de então, o povo fenício perdeu uma grande parte de sua frota e o controle do mar.

Em 352 a.C. as cidades fenícias, lideradas por Sidon se rebelaram contra o domínio persa. O governante persa era Artaxerxes, que reagiu atacando Sidon e queimando a cidade além submeter as outras cidades rebeldes.

anel fenício, Cádiz, Espanha

Em 333 a.C. foi a vez dos persas serem derrotados pelos macedônios liderados por Alexandre Magno. As cidades fenícias foram dominadas por Alexandre com exceção de Tiro.

Para dominar Tiro, Alexandre mandou construir um píer ligando a cidade ao continente e ao término da obra, o exército de Alexandre dominou a cidade rebelde.

Depois de tudo isso, as cidades fenícias nunca mais recuperaram o domínio do comércio marítimo. O território antes fenício, passou a ser povoado pelos gregos em grande quantidade e a língua fenícia foi desaparecendo assim como o comércio mudou de mãos e passou a ser feito pelos gregos e pelos egípcios principalmente.

Quando da chegada de Roma, que conquistou Tiro em 332 a.C. já não se podia mais admirar os grandes barcos mercantes fenícios cruzando o grande mar Mediterrâneo.

Foi o ponto final de uma civilização que mostrou como expandir as diversas culturas pacificamente.

Através do comércio ligaram terras, povos e costumes tão diversos, carregando no bojo dos seus barcos as novidades, o alfabeto, a arte, o desenvolvimento. Eles foram uma amostra da chamada cultura global dentro dos limites da época.


Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Silva, Diógenes. "La literatura sobre fenicios en el territorio brasileño: orígenes y razones". Madrid - 2016. Disponível em https://eprints.ucm.es/39468/

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Silva, Diógenes."La literatura sobre fenicios en el territorio brasileño: orígenes y razones", 418 páginas, 15 de janeiro de 2016, Universidad Complutense de Madrid.