História da Europa/Crises da Idade Média
Um apanhado sobre a Idade Média
[editar | editar código-fonte]A Idade Média foi um período de aproximadamente mil anos de história.
É geralmente considerado como o intervalo de tempo que se estende desde a queda do Império Romano por volta do final do século V, até a reforma protestante no século XVI.
Este período começou com um declínio demográfico no fim da era imperial romana, com populações européias diminuindo e várias cidades e propriedades rurais abandonadas.
Um clima frio, doenças e desordem política desempenharam todos um papel neste período inicial, que viu a civilização mediterrânea clássica ser eclipsada.
Por toda a Europa emergiam sociedades híbridas menores e mais localizadas combinando influências romanas, cristãs e bárbaras germânicas ou célticas.
Na altura dos séculos IX e X, as populações chegaram a um mínimo e a Europa tornou-se uma região grandemente rural e um pouco retrógrada.
O comércio e a cultura floresciam durante o mesmo período no mundo Islâmico, na China e na índia.
Os exércitos islâmicos conquistaram a Espanha durante os séculos VII e VIII, mas foram derrotados pelo reino franco em 732 quando tentaram entrar na França.
A virada do primeiro milênio assistiu a um crescimento renovado e muita atividade. Reis e cidades consolidavam sua autoridade e começavam a recuperar a população de terras abandonadas após o declínio de Roma.
O clima mais quente após os 900 permitiram que a produção de comida fosse maior.
O sistema feudal de agricultura, onde os camponeses ficavam presos à sua propriedade por obrigações com os senhores locais, ou com a igreja, trouxe um certo grau de estabilidade econômica.
As cidades comerciais floresciam na Inglaterra, França e nos países baixos. Governantes alemães enviaram monges e camponeses para abrir florestas e se estabelecerem na Europa oriental e nas regiões bálticas.
As cidades estado, no norte da Itália, floresceram ricas e influentes.
A Espanha islâmica se tornou um centro de sabedoria e cultura, onde cristãos, muçulmanos e judeus coexistiam e relativa amizade.
Apesar das muitas guerras locais e disputas entre cavaleiros, a alta Idade Média, de 1000 a 1250, viu as populações crescerem e prosperarem o bastante para construir imensas catedrais e mandar exércitos para lugares distantes nas cruzadas.
Após 1250 começou uma fase de estagnação populacional. As populações cresciam mais lentamente ou paravam, assim como a agricultura medieval chegava a um limite.
Grandes conflitos entre reinos poderosos, como a Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França, se tornavam mais frequentes.
A igreja católica, antes segura na sua autoridade espiritual, estava partida por cismas e uma crescente corrupção financeira.
O ano de 1348 foi testemunha de uma catástrofe quando a virulenta peste bubônica (chamada de A morte negra) entrou na Itália trazida pelos navios que chegavam da Ásia.
Ela se espalhou pelo continente durante três anos matando, em algumas estimativas, um terço de todos os europeus.
Muitos acreditavam que era o fim do mundo, predito pelos mitos cristãos.
Junto com o sofrimento, a praga espalhou a destruição da economia, encarecendo o trabalho e tornando insustentável o sistema feudal, porque os camponeses sobreviventes desprezavam suas exigências.
O século e meio que se seguiu, transformou a Europa. Ao invés de uma colcha de retalhos de feudos, sob o fraco controle real ou da igreja, passou a ser uma coleção de recentes, mas cada vez mais unificados, estados nacionais.
As cidades se tornaram centros de resistência e dissidência à velha autoridade real ou eclesiástica.
A influência dos nobres e cavaleiros declinavam, e os governantes se realinhavam ao lado das classes, cada vez mais ricas e influentes, dos burgueses e comerciantes.
O aparecimento das máquinas impressoras e a difusão da alfabetização, aumentou os conflitos políticos e religiosos em muitos países.
Em 1500, Cristóvão Colombo atravessou o oceano até o novo mundo, e Martinho Lutero estava praticamente arrancando uma boa parte da Europa da órbita da igreja romana.
Esses acontecimentos iniciaram a era moderna da história, e levaram a Idade Média ao seu verdadeiro final.
Um grande número de instituições modernas têm suas raízes na Idade Média.
O conceito de estado nação com um governo central forte deriva da consolidação do poder praticada por alguns reis da Idade Média. Esses reis formavam cortes reais, designavam pessoas para fazer cumprir as leis, formavam exércitos reais e recebiam os impostos – todos são conceitos básicos do governo moderno.
Um exemplo disso foi o reino da França, governado pela dinastia dos Capetos desde 987 até o início do século XIV.
Durante todo esse tempo, os nobres das províncias francesas e seus castelos e cavaleiros viviam efetivamente sob o controle real o que beneficiava a unidade nacional.
Ao contrário, a Alemanha, que teve reis fortes no século X e inicio do século XI, sofreu uma série de conflitos políticos durante a alta Idade Média, entre governantes e a igreja, que enfraqueceu a coesão nacional e elevou os governantes regionais a uma posição de grande influência.
Durante a Idade Média, os reis originalmente convocavam o parlamento para explicar suas políticas e para levantar dinheiro. O parlamento, nessa época representava o clero, os nobres e os comerciantes.
A ideia de limitar os poderes do governante também surgiu, contrariando a noção tradicional de que os governantes eram todo-poderosos.
A mais famosa ocorrência desse tipo se deu em 1215, quando os nobres da Inglaterra exigiram seus direitos contra o Rei João, na Magna Carta, que ele foi obrigado a assinar.
A formação da burocracia governamental também vem dessa época, na medida em que os Conselhos Reais, dos reis da Idade Média se tornavam modernos departamentos de estado.
Finalmente, o controle dos bens e serviços se tornou muito importante durante a Idade Média, conforme as guildas protegiam o consumidor dos produtos ruins.
Os pensadores da Renascença e do Iluminismo tendiam a olhar a Idade Média com pouco caso, mas foi uma fase essencial para preparar o mundo para os tempos que estavam por vir.
Novos rumos da Arte
[editar | editar código-fonte]Pintura, arquitetura, literatura, música, muitas formas artísticas foram importantes na Idade Média, não podemos enxergar esse período como uma fase ruim para as artes, pelo contrário.
Já falamos no capítulo anterior sobre os estilos românico e gótico na arquitetura.
Portanto, na pintura temos Cimabue e Giotto como os principais destaques.
A pintura era fortemente ligada à religiosidade. Retratos de ensinamentos da Bíblia, santos e passagens importantes da religião eram importantes para inspirar o povo.
Os vitrais fabulosos também continham essas cenas sacras.
A escultura também era ligada aos mesmos motivos religiosos.
Como está sendo visto, todas as formas de artes estavam ligadas à força da igreja. Na música não foi diferente, onde se destacam a melodia e o canto gregoriano.
Havia o trovadorismo. Os trovadores compunham as poesias e as melodias, eles se apresentavam nos castelos e nas feiras, nas cidades oferecendo sua poesia cantada.
Na pintura:
Cenni di Petro Cimabue – como mencionado acima, é considerado o último grande pintor italiano a seguir a tradição bizantina. Na verdade foi ele quem descobriu Giotto, e este se tornou mais famoso do que seu descobridor
Giotto di Bondone - começou a expressar a forma humana de maneira mais realista. Apesar de suas formas parecerem primitivas se comparadas àquelas de artistas do Renascimento, ele foi o primeiro a tentar trazer de volta o realismo da arte romana.
Ele também começou a desenvolver técnicas de perspectiva em pintura para obter profundidade. A maior parte de sua arte era formada de afrescos sobre gesso nas paredes de capelas e igrejas.
Na literatura:
Na medida em que o prestígio do papado começou a declinar, a consciência nacional começou a crescer.
Esse nacionalismo era manifestado na literatura escrita nas línguas nacionais, ou vernáculas, ao invés do tradicional latim.
O uso do vernáculo abriu espaço para que particularidades culturais pudessem ser expressas mais naturalmente.
Isto tornou a literatura mais realista e humana para os leitores, e é por isso que obras como Os Contos da Cantuária (The Canterbury Tales) são consideradas uma representação da vida no tempo em que foram escritas.
Enquanto a alfabetização crescia entre os leigos graças ao aumento de escritos vernáculos, a sociedade ainda se baseava em grande parte, na cultura oral.
Dante Alighieri (1265-1321)- é o grande destaque.
- Por mim se vai das dores à morada,
- Por mim se vai ao padecer eterno,
- Por mim se vai à gente condenada.
- Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!
- -- Canto III, Inferno
Dante Alighieri nasceu em 1265 em Florença, Itália.
Sua família não era rica, mas considerada de linhagem aristocrática. Seu mestre foi Brunetto Latini que lhe ensinou as artes liberais clássicas, incluindo o latim e o grego.
Apesar disso, Dante preparou-se para abraçar sua língua vernácula e começou a escrever a A Divina Comédia no seu dialeto local toscano
Hoje ele é tido na história como o primeiro autor a fazê-lo.
Alighieri considerava sua obra uma comédia por causa das diferenças entre seu estilo italiano de escrita e as grandes tragédias latinas.
Seu poema épico em três partes criticou de modo sarcástico a Igreja e tratou de uma variedade de figuras históricas e contemporâneas.
A mais importante destas figuras é a de Virgílio, o poeta latino, que faz o papel de guia de Dante no além-vida.
Os sentimentos pessoais de Dante a respeito de várias pessoas também são evidentes em seus escritos. Nos círculos mais profundos do inferno ele pune aqueles por quem tinha maior desdém.
Muitos de seus desafetos vieram de sua posição como político em Florença. Uma das vítimas do último círculo do inferno é o papa Bonifácio VIII, um papa à cuja política expansionista Dante se opunha.
Cada parte do poema retrata graus de salvação, com o Inferno, o Purgatório e o Céu.
O inferno inclui muitas descrições arquetípicas do inferno incluindo a do rio Estige e do barqueiro Quíron (Caronte) que carrega as pessoas através do rio.
Geoffrey Chaucer (1340-1400)
Os Contos da Cantuária de Geoffrey Chaucer, são uma coletânea de histórias onde ele expôs os interesses materialistas e mundanos de uma variedade de ingleses.
Esta coletânea de histórias gira em torno de uma cena, baseada em uma viagem a Cantuária como uma peregrinação ao santuário de São Thomas Becket.
As histórias são os contos individuais de trinta pessoas fazendo esta peregrinação.
Os temas vão do romance à família e à religião, proporcionando uma amostra da sociedade da época. A maior parte da população e, por conseguinte, das personagens, parece mais ocupada com o prazer material do que com suas almas eternas.
Os Contos da Cantuária também são úteis como um estudo do inglês vernácular da época. É um exemplo clássico de Middle English (dialetos do inglês entre a alta e o fim da Idade Média). Os linguistas e aqueles que estudam a Inglaterra medieval e do início da modernidade continuam a usar o Middle English até os dias de hoje.
A Guerra dos Cem Anos
[editar | editar código-fonte]A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi uma guerra bastante complexa, entre a França e a Inglaterra (com a ocasional intervenção de outros países) com três conflitos fundamentais.
Em particular, as nações lutaram pelo controle da Gasconha, região francesa. Lutaram por causa de rebeliões apoiadas pela Bretanha em cidades francesas produtoras de tecidos. E, principalmente, lutaram pela pretensão inglesa ao trono francês após a morte de Carlos IV.
A guerra, inicialmente disparada por uma disputa sobre quem se tornaria rei da França após a morte do Rei Carlos IV, rapidamente se tornou uma guerra incrivelmente complexa e multifacetada.
O rei Eduardo III e seu filho Eduardo, tradicionalmente conhecido como "O Príncipe Negro", invadiram a Aquitânia, uma enorme região no sudoeste da França reivindicada pela Inglaterra.
Com o passar do tempo, os reis da Inglaterra e França envolveram-se em muitas outras disputas, estendendo-se da guerra civil na Bretanha, disputas comerciais no que se tornou a Bélgica e até uma guerra em Castela.
As três maiores batalhas da Guerra dos Cem Anos, Crécy, Poitiers e Azincourt, foram ressoantes vitórias inglesas, derrubando a flor da nobreza francesa a cada batalha.
Contudo, ainda que os ingleses tenham vencido todas as maiores batalhas e muitas das menores, a relativamente pobre Inglaterra nunca foi capaz de subjugar o sul da França, de longe a parte mais rica do reino, o que levou eventualmente a derrota inglesa na guerra.
O alvorecer das cidades e do comércio
[editar | editar código-fonte]Dos séculos 6 ao 10, havia poucos centros de comércio e somente algumas classes de comerciantes na Europa.
Havia o comércio vindo de lugares distantes, mas, eram os bens de luxo que eram adquiridos pela nobreza e pela elite da igreja. Esses bens eram comercializados por mercadores viajantes como os sírios ou os judeus.
Manufaturas eram feitas e vendidas nos solares dos senhores.
As populações não eram grandes o bastante para suportar um grande desenvolvimento econômico e os ataques dos vikings e dos árabes transformavam as rotas de comércio em uma aventura perigosa.
Durante a alta Idade Média (1000-1500), o comércio de longa distância se tornou mais seguro e proveitoso.
Como resultado os artesãos se estabeleceram nos centros comerciais que estavam crescendo, assim forçando os consumidores a se dirigirem àqueles locais.
As cidades, eram denominadas burgos; daí a denominação dos novos enriquecidos pelo comércio, os burgueses.
As cidades formaram ligas e federações urbanas, ou comunas, que trabalhavam juntas para lutar contra o crime e para barganhar com os monarcas e nobres.
As guildas cresceram, organizando e supervisionando os interesses de seus sócios. As guildas providenciavam educação vocacional, feita por pessoas confiáveis.
Porém, o espírito da economia medieval era evitar competição.
O crescimento das cidades teve um efeito emancipador. Forçaram os senhores a oferecer mais liberdade para os camponeses. Geralmente os camponeses ganhavam a liberdade em troca de um pagamento anual ao senhor.
Isso permitiu que um grande número de pessoas deixasse a agricultura para trabalhar numa espécie de indústria. Assim houve uma aceleração econômica.
Uma espécie de revolução industrial artesanal ocorreu durante os séculos 12 e 13, especialmente nos Países Baixos, onde grandes centros de manufatura de roupas, como Ghent e Bruges acumulavam grande riqueza e estimulavam o crescimento na Europa ocidental.
A Hansa, a famosa liga das cidades comerciais do Mar do Norte, Noruega e Báltico, surgiu nesse período, abrindo os recursos da Escandinávia para fornecer peles, madeira, cera de abelha e peixes.
A alta Idade Média também assistiu aos europeus retornando das Cruzadas no oriente médio, onde desenvolveram gosto por produtos que não havia na Europa.
Esses recém regressados introduziram o interesse dos europeus por temperos exóticos, sedas, frutas e drogas e outros produtos que eram desconhecidos.
As cidades em volta do Mediterrâneo se envolveram nesse comércio que se desenvolvia com o oriente, com Veneza se tornando o porto mais rico de entrada das mercadorias da Ásia, a base de onde Marco Polo e seus companheiros partiram na sua jornada até a China.
Crescimento das monarquias nacionais
[editar | editar código-fonte]Durante este mesmo período de tempo, as monarquias começaram a se expandir e em conseqüência as pessoas começaram a ver o nascimento dos Estados nacionais unificados.
Os reis emitem decretos e começam a instituir cortes reais e a viver do dinheiro das propriedades que possuíam e das taxas de seus vassalos.
O conselho real era formado por um grupo de vassalos que aconselhava o rei em assuntos de Estado. Isto conduziu à formação de departamentos básicos de governo.
Quando representantes das cidades começaram a se encontrar para discutir seus interesses, estava aí o embrião da formação de parlamentos básicos.
Estes parlamentos não tinham a incumbência de legislar acima do rei, mas poderiam ouvir e levar a ele o motivo de suas reclamações. Este era um tipo básico de legislação.
Além disso, a formação destes parlamentos levou ao estabelecimento dos três Estados:
o primeiro Estado que era composto pelo clero;
o segundo Estado, composto da classe proprietária e nobre;
e o terceiro Estado, ou os burgueses de cidades livres.
A Inglaterra teve duas casas do parlamento — a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. A Câmara dos Comuns permitiu que poucos donos de terra transformassem-se em membros.
A Peste Negra
[editar | editar código-fonte]A Peste Negra, ou peste bubônica, atingiu a Europa a partir de 1347. Transmitida primariamente por moscas e ratos, a bactéria Y. Pestis viajou todo o continente, matando um terço da população até 1351.
Parece que a bactéria era endêmica entre a população de roedores das estepes da Ásia, e atacou os humanos na Europa com grande virulência.
O aparecimento da doença foi súbito; os sintomas eram, febre, fraqueza, delírio, problemas pulmonares, e inchaços (ínguas) no pescoço, axilas e virilhas. Quase sempre os infectados morriam em 1 ou 2 dias, mesmo os jovens e as pessoas saudáveis.
Uma das causas foi, sem dúvida, o recomeço do comércio e das viagens, que aumentou o alastramento das doenças contagiosas. Desde a praga de Justiniano em 535, a Europa não sofria com uma doença tão virulenta, e a população de 1348 não tinha imunidade contra ela.
Outra causa era que, embora a prosperidade tenha aumentado, a alimentação e o saneamento eram muito deficientes para a maior parte dos europeus, o que contribuía para baixa imunidade em geral.
Muitos adultos também, haviam sido crianças quando da Grande Fome em 1316-1321, época em que vários anos de frio e tempo chuvoso apodreceu as colheitas através do continente. Essa experiência quando crianças também pode ter comprometido sua resistência à bactéria, mais tarde.
A ideia é que a praga tenha sido levada para a Europa durante um ataque mongol a Kaffa (no mar Negro); quando a doença forçou os mongóis a abandonar o ataque, eles jogaram algumas vitimas da praga para dentro da cidade antes de abandonar o cerco.
Ironicamente, esta se tornou uma prática comum dos europeus nos cercos aos castelos.
De Kaffa, os mercadores espalharam a doença até Constantinopla, de onde ela se espalhou até a Europa, primeiro através dos navios para os portos mediterrâneos como Messina e Gênova, e depois por terra, em todas as direções.
A escassez de combustível de madeira, devido ao corte de florestas para a agricultura, resultou no fechamento de casas de banho que dependiam da madeira para queimar e aquecer a água. Especialmente no inverno, somente os ricos podiam tomar banho. Essa foi mais uma contribuição para as condições de higiene tão precárias.
As cidades também tinham péssimas condições de higiene. Os cidadãos normalmente jogavam o lixo nas ruas, o que atraía os ratos e com eles as pulgas.
Nas cidades as casas eram muito próximas, isso significava que as pulgas não precisavam ir muito longe para infectar mais uma pessoa.
Os judeus, que eram usados sempre como bodes expiatórios de tudo, foram culpados também pela praga, inclusive com os líderes das cidades acusando a comunidade judia de ter envenenado a água ou ter posto algum remédio nos portões da cidade.
É importante compreender que, os europeus não compreendiam a causa real da praga. Para eles, a praga era uma maldição que caía sobre eles por falta de piedade ou por falhas da igreja, pela população judia, ou mesmo pela configuração das estrelas.
Outros também atribuíam a praga ao ar ruim. Para combatê-lo carregavam lenços ou bolsinhas de ervas aromáticas, que colocavam no nariz quando necessário.
(A opinião do líder faculdade de medicina da Europa, na Universidade de Paris, era que aquele surto tinha sido trazido por um alinhamento astrológico desfavorável no ano de 1345,)
Na falta de fatos reais, as diversas tentativas dos europeus para debelar a doença acabaram fazendo com que se espalhasse.
Resultados da praga
[editar | editar código-fonte]Algumas pessoas achavam que a praga era um castigo de Deus contra os pecadores. Como resposta a isso, surgiram os flagelantes (aqueles que se flagelavam).
Os flagelantes se chicoteavam até sangrar, gritavam por piedade, e chamavam as congregações para se arrependerem dos seus pecados. Vagando através das regiões atingidas pela praga na Europa central, muitos grupos de flagelantes se voltaram para o banditismo e a violência.
Cidades e senhores feudais eventualmente, proibiam sua entrada ou mesmo tentavam expulsá-los. Infelizmente, a violência contra os judeus aumentava, e a turba matava aqueles que recusavam o batismo. Muitos judeus foram forçados a abandonar suas casas.
Os médicos na Europa medieval usavam métodos que eram uma mistura de tentativa-e-erro, além de fontes clássicas gregas e romanas para cuidar de seus pacientes.
Sem conhecer os microorganismos e o papel dos ratos e pulgas no alastramento da doença, os médicos não tinham como curar as vítimas já infectadas e nem em debelar a praga.
Como resultado disso, as vítimas da doença sobreviviam ou morriam de acordo com seu estado geral de saúde, e talvez com a resistência genética que possuíam. E não só do estado de saúde mas tambem pelo desespero ...
Conseqüências da Peste
[editar | editar código-fonte]A mortandade em larga escala, abriu espaço para alguns avanços sociais e como resultado, os senhores de terras passaram a abrir mais concessões de modo a conseguir mais rendeiros.
Como havia menos pessoal para trabalhar, os que sobreviveram conseguiam melhores ganhos.
Havia menos necessidade de comida, de modo que os preços dos grãos caíram.
Os nobres perderam uma boa porção de sua riqueza, portanto se tornaram mais dependentes do monarca e de guerras para amealhar riquezas e poder.
Além do mais, a praga resultou numa melhoria do modo de vida, tanto para os camponeses como para a população que trabalhava nas cidades.
Camponeses e artesãos agora tinham mais conforto e melhor alimentação, e assim, a produção mudou, o artesanato feito em quantidade para o povo, se tornou um pequeno mercado para produzir bens de luxo.
Mas, o fato é que a disparidade financeira cresceu muito, menos pessoas tinham proporcionalmente, mais dinheiro.
Finalmente, os europeus perceberam que as rezas nas igrejas, não curavam a praga, e que, mesmo os líderes da igreja estavam morrendo.
Isso causou no povo em geral, uma grande perda da fé na igreja e abriu as portas para muitos movimentos religiosos locais, que antes haviam sido abafados.
Esse foi o fator que preparou o caminho para a Reforma, um século mais tarde.
Desafios à autoridade espiritual no fim da Idade Média
[editar | editar código-fonte]A Idade Média forneceu muitos dos alicerces para a Reforma do século XVI.
Ao longo do tempo, a Igreja proporcionou ordem, estabilidade e estrutura para o mundo medieval.
O alicerce mais essencial da vida medieval era a salvação — e o objetivo final da vida de todas as pessoas era obter a salvação. Como as pessoas perderam a fé na Igreja e na sua habilidade de proporcionar a salvação, a Igreja começou a perder sua influência sobre o povo.
Como explicado anteriormente, a peste contribuiu para a perda de fé das pessoas na Igreja.
Embora alguns crentes mais fervorosos considerassem tal praga como sendo enviada por Deus para punir o mundo por seus pecados. A Igreja da época teria jogado com tal noção a fim de incentivar uma crença mais fervorosa e de atacar todos os dissidentes.
Alguns movimentos e pessoas desafiaram a autoridade da Igreja durante o fim da Idade Média.
Os espíritos livres, por exemplo, acreditavam que a Igreja não estava satisfazendo as necessidades espirituais das pessoas e defendiam o misticismo, ou a crença de que Deus e os seres humanos são da mesma essência.
John Wycliffe (1328–1384)
Foi um clérigo inglês e professor de Oxford.
Ele fundou o movimento dos Lollards (lolardos).
Os lollardos sustentavam que a salvação não precisava vir através do papa e que o rei era superior a, e mais importante que o papa e a religião.
John Wycliffe afirmou que a leitura da Bíblia e as orações eram importantes para a religião do que a interpretação pelos padres.
Ele foi um dos primeiros a pretender traduzir a Bíblia para uma língua vernácula ao invés de usar o latim vulgar. Ele também rejeitou a riqueza extrema da Igreja e clero.
Jan Hus (1369-1415) na Boêmia
Criando o movimento chamado de hussitas, tentou produzir reformas como aquelas tentadas por Wycliffe na Inglaterra.
Hus era um padre na Boêmia quando soube dos ensinamentos de Wycliff.
Enquanto as pessoas próximas acharam o movimento herético e o proibiram, Jan achava que todos tinham o direito de aprender.
Após conflitos e desacordos, Hus chegou a conclusão de que a igreja era corrupta e deixou sua terra natal para escrever Sobre a Igreja uma obra que criticou a maneira pela qual ela era dirigida.
Seus ensinamentos atraíram as massas e ele desenvolveu um grupo de seguidores conhecido como hussitas.
Em 1413, Hus foi convidado para um conselho nomeado para reformar a Igreja, mas quando ele chegou foi preso por causa de suas opiniões.
O julgamento que se seguiu foi, em muitos sentidos, apenas uma formalidade, já que ele era culpado a partir do momento em que entrara naquele local.
Hus havia sido excomungado em 1410 e, condenado pelo Concílio de Constança foi queimado vivo em 1415.
A enorme corrupção na igreja igualmente levou muitos fiéis a duvidar de sua autoridade e a questioná-la.
O excesso de riqueza do clero e a frequência dos clérigos tendo amantes e filhos ilegítimos eram preocupações importantes.
As pessoas igualmente questionavam a venda de indulgências pela igreja, ou o recebimento de pagamento para perdoar as pessoas por seus pecados; o nepotismo; a simonia, ou a venda de cargos da igreja; o pluralismo, ou a manutenção de múltiplos cargos na Igreja; e o luxo extremo das catedrais.
O Grande Cisma do Ocidente
[editar | editar código-fonte]Em 1305, o rei de França convidou o papa a mudar a sede da igreja para Avignon, no vale do Rhone, bem longe de Roma e das disputas entre facções locais.
Depois de Gregório XI levar o papado de volta para Roma, foram convocadas eleições para um novo papa.
Os cidadãos de Roma, exigindo a eleição de um Papa italiano, forçaram os cardeais a eleger Urbano VI.
Os cardeais franceses discordando disso, reuniram-se em Avignon e elegeram sozinhos seu próprio Papa, Clemente VII.
Os papas franceses do Grande Cisma, chamados pelos historiadores de antipapas detiveram poder sobre algumas regiões da Europa e por 39 anos houve dois papas.
Em uma tentativa de reconciliar este cisma, Conciliares realizaram uma conferência em Pisa para eleger um novo papa, mas não conseguiram depôr os dois empossados, resultando em uma divisão tripla no papado.
Não querendo desistir, a convenção pisana elegeu ainda outro papa, para o mesmo fim.
Finalmente o Concílio de Constança (1414-1418) avançou e exigiu a abdicação dos três papas no poder.
Com o apoio do Sacro Imperador Romano, os três papas foram destituídos e Martinho V foi eleito como único papa, terminando assim o Grande Cisma.
O Concílio de Constança agiu igualmente contra John Wycliffe e Jan Hus, dois reformistas dentro da Igreja Católica.