Sri Lanka/História

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Aldeia veda de Wanniyala-Aetto, em foto de 1910

O primeiro povo conhecido que ocupou a ilha do Sri Lanca foi o dos vedas, provavelmente oriundo da península malaia, em época desconhecida. No século VI a.C., o povo cingalês emigrou de Bengala (atualmente fronteira entre Índia e Bangladesh) para a ilha, expulsando os vedas para o leste da ilha. Tal fato é narrado pela crônica cingalesa Mahavansa (termo páli que significa "Grande crônica"), que diz que, em 543 a.C., o rei Vijaya liderou a invasão à ilha. Os cingaleses estabeleceram sua capital na cidade de Anuradhapura. Nesta época, a ilha era conhecida no ocidente pelo nome de Taprobana. Localmente, a ilha era conhecida como Lanca, termo sânscrito que significa "ilha".

Ruínas de palácio em Anuradhapura
Afresco em Sigiriya, palácio-fortaleza construído pelo rei Kassyapa no século V a.C.

No século III a.C., o rei indiano Asoka, que era um difusor do budismo, enviou seu filho Mahinda para propagar a religião no Sri Lanca. Mahinda converteu o rei Devanampiya Tissa e toda a ilha ao budismo e criou o mahavihara ("Grande Monastério") de Anuradhapura. A irmã de Mahinda, Sanghamitta, chegou ao Sri Lanca com uma muda da árvore sob a qual Buda havia atingido a iluminação espiritual. Ela também fundou uma comunidade de monjas budistas[1].

Árvore em Anuradhapura descendente da árvore sob a qual Buda teria atingido a iluminação
Edição do Cânone Páli em placas de madeira

Em 29 a.C., quinhentos monges do mahavihara de Anuradhapura registraram pela primeira vez por escrito a doutrina budista, que até então era conservada exclusivamente por via oral. Tal documento ficou conhecido como Cânone Páli[2][3]. No século III, os tâmeis, de religião hindu, começaram a chegar à ilha, provenientes do sul da Índia. Isto ocasionou conflitos com os cingaleses na disputa pela posse da terra.

Palácio tâmil em Jaffna

Em 371, os filhos do rei indiano de Kalinga trouxeram para o Sri Lanca uma relíquia sagrada budista: o suposto dente de Buda, que passou a ser guardado em um templo na cidade de Kandy[4]. No século 5, nasceu, no Sri Lanka, Bodidarma, príncipe que se tornaria o 28º patriarca do budismo e que, após imigrar para a China, seria o criador da seita zen do budismo e do estilo shaolin de kung-fu.[5] No século VIII, a capital cingalesa foi transferida para Polonnaruwa. No século X, a primeira comunidade de mercadores árabes se estabeleceu na ilha, fruto da expansão comercial árabe. O período áureo do reino cingalês foi no século XII, quando o rei Prakama Bahu derrotou os tâmeis, unificou a ilha e invadiu a Índia e o atual Mianmar.

Porém, no século XV, a ilha se tornou vassala do império Chinês. Em 1505, o primeiro europeu chegou à ilha: era o português Lourenço de Almeida. Os portugueses fundaram, em 1517, a cidade de Colombo e gradualmente ampliaram seu domínio sobre o litoral da ilha, visando ao comércio de especiarias, especialmente a canela. Os cingaleses, então, transferiram sua capital para Kandy, cuja localização no meio das montanhas facilitava a defesa contra os invasores portugueses. Os portugueses chamavam a ilha de "Ceilão", baseando-se em "Sinha", que era um outro nome em sânscrito para a ilha e que significa "leão".

No século XVII, com a chegada dos neerlandeses à ilha, houve a união entre o reino de Kandy e os neerlandeses para expulsar os portugueses. Os neerlandeses conseguiram dominar toda a ilha, preservando apenas a independência do reino de Kandy. Os neerlandeses também introduziram o cristianismo calvinista no país. Em 1796, por ocasião das Guerras Napoleônicas na Europa, a Inglaterra invadiu a ilha, pois os Países Baixos haviam sido invadidos pela França, o que tornava a ilha propriedade francesa. Em 1802, a ilha tornou-se oficialmente colônia britânica, sob o nome de Ceylon. Em 1815, com a derrota do reino de Kandy, a ilha ficou novamente unida, sob a dominação britânica.

Os ingleses plantaram café, chá, coco, banana e seringueiras nas montanhas da ilha, trazendo tâmeis do sul da Índia para trabalhar nas plantações. Em 1931, foi introduzido o sufrágio universal na ilha, sob protestos dos cingaleses, que não queriam que a minoria tâmil tivesse o direito de votar. Em 4 de fevereiro de 1948, o Ceilão tornou-se independente do Reino Unido de forma pacífica, sob a denominação de domínio do Ceilão. O regime político adotado foi a monarquia, tendo como chefe de estado o rei da Inglaterra George VI.

Em 1956, o sinhala foi declarado a única língua oficial do Ceilão[6]. Em 1959, o primeiro-ministro Solomon Bandaranaike foi assassinado por um monge budista, em protesto contra supostas concessões à minoria tâmil[7]. Em 1972, a constituição do país declarou o budismo como religião oficial[8] e transformou o país numa república. O país também mudou oficialmente seu nome para "Sri Lanka", que significa "nobre ilha"[9].

Em 1976, foi fundada, por Velupillai Prabhakaran, a organização Tigres da Libertação da Nação Tâmil, que tinha como meta a independência do nordeste da ilha, de população majoritariamente tâmil. Para alcançar tal meta, passou a assassinar líderes políticos e a cometer atentados suicidas. Em 1982, a capital transferiu-se para a cidade de Sri Jayawardenapura-Kotte, no subúrbio de Colombo.

Em julho do ano seguinte, os Tigres da Libertação da Nação Tâmil atacaram o exército do Sri Lanka e mataram treze soldados cingaleses. Em represália, a população cingalesa atacou civis tâmeis em Colombo e nos arredores, matando entre quatrocentas e 3 000 pessoas, no episódio que ficou conhecido como Julho Negro.

Em 1987, a Índia decidiu intervir na guerra civil cingalesa, promovendo um acordo de paz e enviando uma força militar ao Sri Lanka. Porém os Tigres da Libertação da Nação Tâmil rejeitaram o acordo e passaram a atacar o exército indiano. Depois de pesadas baixas, a Índia decidiu se retirar militarmente do Sri Lanka em 1990. Em 1991, os Tigres da Libertação da Nação Tâmil mataram o ex-primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi num atentado suicida.

Em 1993, os Tigres mataram o presidente cingalês Ranasinghe Premadasa, também num atentado suicida. Em 2002, a mediação do governo norueguês conseguiu um cessar-fogo, logo rompido[10]. Em 2004, um tsunami devastou a costa sul, matando cerca de 40 000 pessoas[11].

Em 2009, os Tigres foram finalmente derrotados, na batalha de Mullaitivu, no norte do país. O líder dos Tigres, Prabhakaran, morreu na batalha e os Tigres emitiram um comunicado reconhecendo sua derrota. O saldo final da guerra superou os 65 000 mortos[12] e 1 500 000 de desabrigados[13]. Em 2010, Mahinda Rajapaksa foi reeleito presidente do Sri Lanka[14].

Referências