Iniciação à Pesquisa Científica em Saúde /REPOSITÓRIO DE EXERCÍCIOS RESOLVIDOS/ Exercício 40: Estudo FRICAS II
Questão 40 - Estudo FRICAS II
[editar | editar código-fonte]Um estudo conduzido foi conduzido em 20 centros médicos no Brasil, constituído de casos: 299 pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e controles: 292 indivíduos, identificados no mesmo centro que os casos, e admitidos com largo espectro de doenças agudas, não relacionadas a fatores de risco conhecidos ou suspeitos para IAM. Os dados foram colhidos por meio de um questionário estruturado, preenchido pelo próprio paciente. Os efeitos das variáveis pesquisadas sobre a ocorrência de IAM foram estudados em abordagens univariadas, considerando-se significativo p≤0,05. A este respeito, analise os resultados a seguir:
Responda as questões e apresente como você obteve elementos para as respostas:
a) É possível afirmar, com 95% de confiança e à partir dos resultados do estudo, que a ausência de hábito de caminhadas regulares no passado está associada ao infarto? e no último ano antes do infarto?
b) Como estas associações foram estatisticamente verificadas? Informe o teste de hipóteses, porque foi escolhido, a hipotese nula do teste e o seu resultado
c) Calcule a chance de infarto entre indivíduos que praticavam caminhadas no passado, em relação aos que não praticavam caminhadas. Estime um intervalo de confiança e explique seu significado (use um software estatístico, por exemplo o STATCALC do EpiInfo)
d) Calcule a chance de infarto entre indivíduos que praticavam caminhadas no último ano, em relação aos que não praticavam caminhadas. Estime um intervalo de confiança e explique seu significado (use um software estatístico, por exemplo o STATCALC do EpiInfo)
Sugestão de leitura: Epidemiologia Básica (WHO, 2010)
Resposta da questão:
[editar | editar código-fonte]A) Sim, é possível afirmar com 95% de confiança que a ausência de hábito de caminhadas regulares no passado está associada ao infarto. Para um intervalo de confiança de 95% é estabelecido um nível de significância de 0,05 (α = 0,05). Esse valor é fixado previamente pelo pesquisador, de acordo com o intervalo de confiança que ele estabelece. Escolhe-se um teste estatístico adequado e neste caso foi um teste de independência ou do tipo qui-quadrado. Como o valor-p calculado, ou nível descritivo, foi 0,029 para o grupo que realizou ou não caminhadas no passado, pode-se afirmar com confiança de 95% que o hábito está associado ao infarto.
Já no grupo que realizou caminhadas regulares no último ano, não é possível afirmar com 95% de confiança que a ausência da prática está associada ao infarto. O nível descritivo calculado foi 0,711, e, para um intervalo de 95% de confiança, seria necessário que o valor-p fosse menor ou igual o nível de significância (0,05). O teste utilizado também foi do tipo qui-quadrado.
Síntese:
- O teste de hipóteses avalia a probabilidade de uma afirmativa sobre uma população ser verdadeira ou falsa, baseada em dados amostrais. Ele é baseado na análise de uma amostra, através da teoria de probabilidades, usado para avaliar determinados parâmetros que são desconhecidos numa população.
- Hipóteses são questões levantadas relacionadas ao problema em estudo e que, se respondidas, podem ajudar a solucioná-lo.
- Em testes estatísticos são formuladas duas hipóteses chamadas hipótese nula (H0) e hipótese alternativa (H1). Hipótese nula é aquela que é testada, enquanto que hipótese alternativa é aquela que será considerada como aceitável, caso a hipótese nula seja rejeitada.
- A hipótese nula pode indicar uma independência entre fatores de interesse (como no exercício acima em que estão relacionados o hábito de caminhar e a incidência de IAM).
- Todo teste de hipótese possui erros associados a ele sendo o erro mais comum, o “erro do tipo I”. Esse erro trata-se de rejeitar a hipótese nula quando a mesma é verdadeira. A probabilidade do erro do tipo I chama-se nível de significância e é representado por α.
- Para um teste de hipóteses é definido o menor valor de α que pode ser assumido para que a hipótese nula seja rejeitada, esse menor valor é chamado de nível descritivo (p). Importante lembrar que o valor α (nível de significância) é previamente definido, enquanto o nível descritivo (p) é calculado de acordo com os dados colhidos no estudo.
- Se o valor do p for menor que o nível de significância (α) deve-se concluir que o resultado é significante pois o erro está dentro do limite fixado. Já quando o valor p for maior que o nível de significância, indica que o resultado não é significante, ou seja, indica independência entre dois fatores.
Referências:
Essential items in bio-statistic - Paes, Angela Tavares. Arq Bras Cardiol; 71(4): 575-80, out. 1998.
Epidemiologia Básica. R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström
B) As associações foram verificadas através de um teste qui-quadrado. Ele foi utilizado pois é o teste mais adequado para se testar a força de associação entre dois eventos e não depende de parâmetros populacionais, como média e variância. Como nenhum dos valores esperados nas caselas da tabela de contingência 2 x 2 foi menor do que 5 e nenhuma casela apresentou valor zero, o teste qui-quadrado utilizado foi o não corrigido, ou de Pearson.
Hipótese nula: A prática de caminhadas no passado não está associada à incidência de infarto agudo do miocárdio.
Como o valor de p encontrado foi menor que 0,05 é possível rejeitar a hipótese nula com 95% de confiança, sugerindo que há associação da prática de caminhadas no passado com a incidência de IAM.
As associações foram verificadas através do teste qui-quadrado. Ele foi utilizado pois é o teste mais adequado para se testar a força de associação entre dois eventos e não depende de parâmetros populacionais, como média e variância.
HO: A prática de caminhadas no último ano não está associada à incidência de infarto agudo do miocárdio.
Como o valor de p encontrado foi maior que 0,05 não é possível rejeitar a hipótese nula com 95% de confiança, dessa forma, não é possível observar associação da prática de caminhada no último ano com a incidência de IAM. Como nenhum dos valores esperados nas caselas da tabela de contingência 2 x 2 foi menor do que 5 e nenhuma casela apresentou valor zero, o teste qui-quadrado utilizado foi o não corrigido, ou de Pearson.
Referências:
Epidemiologia Básica. R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström
http://www.ufpa.br/dicas/biome/bioqui.htm
C) A chance de um indivíduo que praticou caminhadas no passado ter IAM é 0,6949 vezes a chance de um indivíduo que não praticou. A razão de chances é calculada dividindo a razão entre o número de indivíduos que tiveram IAM e caminhavam e os que não tiveram IAM e caminhavam (124/148) pela razão entre os indivíduos que tiveram IAM e não caminhavam e os que não tiveram IAM e não caminhavam (170/141), sendo (124x141)/(148x170) = 0,6949. Foi usada a razão de chances pois é um estudo de caso controle e estão sendo comparadas uma variável categórica com uma variável discreta. A razão de chances foi de 0,6949. Assim, a chance de um indivíduo ter IAM é 31% menor se ele praticou caminhadas no passado, em relação aos que não praticaram caminhadas,
O Intervalo de confiança estimado é 0,5012 < x < 0,9635, sendo este um intervalo com 95% de confiança. Por se tratar de uma amostra e não de uma população real, o intervalo de confiança cria limites onde é provável que se encontre o valor real da população estudada. As proporções amostrais são distribuídas ao redor da verdadeira proporção populacional. Então com 95% de confiança, a verdadeira proporção está entre 0,5012 e 0,9635. Quando a chance é menor que 1, indica que o fator de exposição é um fator de proteção, indicando que o hábito de caminhadas no passado é um fator de proteção para infarto agudo do miocárdio.
Referências:
Por dentro da estatística - einstein: Educ Contin Saúde. 2009; 7(1 Pt 2): 3-4
http://leg.ufpr.br/~silvia/CE701/node48.html
Epidemiologia Básica. R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström
D) A chance de um indivíduo que praticou caminhadas no último ano ter IAM é 1,0654 vezes a chance de um indivíduo que não praticou. A razão de chances é calculada dividindo a razão entre o número de indivíduos que tiveram IAM e caminhavam e os que não tiveram IAM e caminhavam (114/107) pela razão entre os indivíduos que tiveram IAM e não caminhavam e os que não tiveram IAM e não caminhavam (181/181), sendo (114x181)/(107x181) = 1,0654. Foi usado a razão de chances pois é um estudo de caso controle e estão sendo comparadas uma variável categórica com uma variável discreta. A razão de chances foi de 1,0654.
O Intervalo de confiança estimado é 0,7623 < x < 1,4890, sendo este um intervalo com 95% de confiança. Por se tratar de uma amostra e não de uma população real, o intervalo de confiança cria limites onde é provável que se encontre o valor da população estudada. As proporções amostrais são distribuídas ao redor da verdadeira proporção populacional. Então com 95% de confiança, a verdadeira proporção está entre 0,7623 e 1,4890. Quando a razão é maior que 1, indica que o fator de exposição é um fator de risco, porém, como o valor-p calculado foi maior que 0,05 não é possível afirmar a associação entre o fator e o desfecho. Além disso, o intervalo de confiança indica tanto valores menores que 1, quanto maiores que 1, podendo indicar tanto um fator de risco quanto um fator de proteção.
Neste caso, como o intervalo de confiança da razão de chances passa pelo valor 1, então não podemos fazer inferência sobre a chance de IAM em indivíduos que caminharam no último ano, em relação aos que não fizeram caminhadas no último ano.
Referências:
Por dentro da estatística - einstein: Educ Contin Saúde. 2009; 7(1 Pt 2): 3-4
http://leg.ufpr.br/~silvia/CE701/node48.html
Epidemiologia Básica. R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström
Indexadores do tema deste exercício
[editar | editar código-fonte]Planejamento de estudos científicos em saúde
Desenhos de estudo cientifico em saúde
Noções sobre Intervalo de confiança
Comparação entre grupos amostrais em saúde
Medidas de efeito: Risco relativo e Razão de chances
Bibliografia utilizada
[editar | editar código-fonte]Epidemiologia Básica. R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström
Por dentro da estatística - einstein: Educ Contin Saúde. 2009; 7(1 Pt 2): 3-4
Essential items in bio-statistic - Paes, Angela Tavares. Arq Bras Cardiol; 71(4): 575-80, out. 1998.
http://www.ufpa.br/dicas/biome/bioqui.htm
http://leg.ufpr.br/~silvia/CE701/node48.html