Saltar para o conteúdo

Iniciação à Pesquisa Científica em Saúde /REPOSITÓRIO DE EXERCÍCIOS RESOLVIDOS/ Exercício 37: Uso de drogas II

Origem: Wikilivros, livros abertos por um mundo aberto.

Questão 37 - Uso de drogas II

[editar | editar código-fonte]

Um estudo cientifico publicado em 2010, buscou verificar a prevalência do consumo de álcool, tabaco e entorpecentes por estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e determinar fatores relacionados a esse consumo: Prevalência do consumo de álcool, tabaco e entorpecentes por estudantes de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Uma amostra de 332 alunos foi abordada com um questionário para a coleta de dados (World Health Organization's Guidelines for Student Substance Use Survey).

Analise as afirmativas a seguir com foco nos testes estatísticos e probabilidade de significância, nas frases retiradas deste artigo. Recorra ao texto completo se necessário:

  • Afirmativa I: Os estudantes que residiam com os pais ou responsáveis consumiam menos bebidas alcoólicas do que os demais (P = 0,021)
  • Afirmativa II: O uso de maconha ou haxixe no útimo ano foi relatado por 55 estudantes (16,5%). Aqueles que trabalhavam consumiam menos esse tipo de substância (P=0,033)
  • Afirmativa III: A ingestão de bebidas alcoólicas relacionou-se com o uso de estimulantes em 1,09 vezes (P =0,015); de cigarro em 1,23 vezes (P = 0,00007); de lança-perfume em 1,24 vezes (P = 0,00004); de alucinógenos em 1,08 vezes (P= 0,02) e de maconha em 1,24 vezes (P = 0,00003)
  • Afirmativa IV: O tabagismo ocorreu mais em homens P = 0,0008 (23,1% dos homens e 9,9% das mulheres)

Responda as questões seguintes e apresente como você obteve elementos para as respostas:'

a) Qual foi a hipótese nula para o teste estatístico que resultou na significância estatística informada na Afirmativa I?

b) A maioria dos estudantes, 247 (74,3%), relatou não trabalhar. Entre os usuários de maconha / haxixe, 47 deles não trabalhavam (estimado para fins do exercício). Baseando-se nestas informações e na Afirmativa II, construa uma tabela de contingência 2x2 para o cruzamento da variável preditora (Trabalho) x variável resposta (Uso de maconha / haxixe). Qual é a chance de alunos que não trabalham usar maconha / haxixe, em relação aos que trabalham?

c) Avalie a Afirmativa III e informe quais variáveis são preditor (as) ou de exposição e o(s) desfecho(s) de interesse

d) Baseado neste estudo, voce poderia afirmar que as estudantes de medicina da UFMG fumam menos tabaco que os estudantes?

Sugestão de leitura: Epidemiologia Básica (WHO, 2010)

Resposta da questão:

[editar | editar código-fonte]

Letra a) A hipótese nula é “Os estudantes que residiam com os pais ou responsáveis consumiam a mesma ou maior quantidade de bebidas alcoólicas do que os demais” A hipótese nula deve ser formulada com o objetivo de verificar se dois fatores são independentes entre si. Portanto, deve ser uma hipótese colocada à prova. Nesse caso, a hipótese nula igualou a relação entre o preditor: estudantes que residem com os pais ou responsáveis, com o desfecho: consumir menos bebidas alcoólicas que os demais estudantes. Considerando que o valor de significância equivale a 5%, é necessário relacioná-lo ao nível descritivo (p) obtido no estudo em análise. Como o valor de p foi menor do que 5% (p=0,021), infere-se que o resultado é significante, assim a hipótese nula foi negada.

Letra b) A tabela de contingência deve ser feita para avaliar duas ocorrências ao mesmo tempo, na qual as linhas se referem ao preditor e as colunas ao desfecho.  Nesse caso, avaliaremos a variável preditora “trabalho” e a variável resposta “Uso De maconha/haxixe”.

  FAZ USO DE MACONHA/HAXIXE NÃO FAZ USO DE MACONHA/HAXIXE TOTAL
TRABALHA 8 77 85
NÃO TRABALHA 47 200 247
TOTAL 55 277 332

Para avaliar a chance de alunos que não trabalham usar maconha/haxixe, em relação aos que trabalham, devemos utilizar o risco de chance, pois se trata de um estudo transversal retrospectivo. A fórmula utilizada nessa análise deve ser:

ODDS: Chance do evento ocorrer/Chance do evento não ocorrer

Aplicando-a ao estudo: estimativa da chance do indivíduo fazer uso de maconha/haxixe, no grupo que não trabalha, sobre chance do indivíduo fazer uso de maconha/haxixe, no grupo que trabalha.

Assim:

  • Estimativa de fazer uso de maconha/haxixe no grupo que não trabalha: 47/200=0,235
  • Estimativa de fazer uso de maconha/haxixe no grupo que trabalha: 8/77=0,103

Dessa forma, razão das chances de usar maconha/haxixe e não trabalhar, em relação ao que trabalha: 0,235/0,10= 2,28

Ou seja, a chance de usar maconha/haxixe é 2,28 vezes maior no grupo que não trabalha, em relação ao grupo que trabalha.

Letra c)Variáveis são características de interesse que se deseja medir. A variável preditora é a que precede o evento, as variáveis de exposição são as condições relacionadas a maior ou menor ocorrência do desfecho, sendo esse, a ocorrência em análise. Neste caso os autores avaliam o uso de bebida alcoólica como um gatilho para as demais drogas. Desta forma o preditor é o uso de bebidas alcoólicas e os desfechos são as drogas (estimulantes, cigarro, lança-perfume, alucinógenos, maconha).

Letra d) Para responder essa questão, é necessário aplicar o teste qui-quadrado, o qual avalia duas variáveis categóricas.

Inicialmente, estabelecemos as hipóteses nula e alternativa:

  • Ho: as estudantes de medicina da UFMG fumam a mesma quantidade de tabaco que os estudantes.
  • H1: as estudantes de medicina da UFMG fumam menos tabaco que os estudantes.

Em sequência, aplicamos os dados na tabela de contingência 2x2:

FUMAM NÃO FUMAM TOTAL
Mulheres 17 (28) 155(144) 172
Homens 37(26) 123(134) 160
TOTAL 54 278 332

É necessário, então, estabelecer as frequências esperadas na ocorrência dos eventos. Para isso, deve-se realizar a seguinte conta: total da coluna x total da linha/Total da tabela

Obs.: as frequências esperadas estão entre parênteses.

Em sequência, deve-se aplicar a fórmula do teste qui-quadrado de Pearson, uma vez que não há nenhuma casela com vaor esperado menor do que 5 e nem casela com valor zero:

X² = (17-28)²/28 + (155-144)²/144 + (37-26)²/26 + (123-134)²/134 = 10,71

Compara-se, então, o valo de X² com o valor da tabela, ao nível de significância estabelecido (5%) e o grau de liberdade:  (nº e linhas -1) x (nº de colunas – 1) = (2-1) x (2-1) = 1.

Valores de , segundo os graus de liberdade e o valor de

Graus de liberdade
1 2,71 3,84 6,64
2 4,60 5,99 9,21
3 6,25 7,82 11,34
4 7,78 9,49 13,28
5 9,24 11,07 15,09

TABELA DO LIVRO: Introdução à Bioestatística 3ª edição – Sônia Vieira- Ed. Elsevier

Como o valor de X² (10,71) é maior do que o da tabela (3,84), rejeita-se Ho, portanto pode-se afirmar com 95% de confiança que as estudantes de medicina da UFMG fumam menos que os estudantes.

Indexadores do tema deste exercício

[editar | editar código-fonte]

Comparação entre grupos amostrais em saúde

Testes Qui-quadrado

Escolha dos controles

Definição dos desfechos

Desenhos de estudo cientifico em saúde

Medidas de efeito: Risco relativo e Razão de chances

Bibliografia utilizada

[editar | editar código-fonte]

Delineamento a Pesquisa Clinica - Stephen B Hulley e cols 2006. Capitulo 1. Editora ARTMED

Luciana Neves Nunes1, Suzi Alves Camey – Por dentro da estatística – Probabilidade, risco ou chance. Einstein: Educ Contin Saúde. 2009;7(4 Pt 2): 175-6

Epidemiologia básica / R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström; [tradução e revisão científica Juraci A. Cesar]. - 2.ed. - São Paulo, Santos. 2010

Introdução à Bioestatística 3ª edição – Sônia Vieira - Editora Elsevier