Distrito Federal do Brasil/História
Antes da chegada dos europeus ao continente americano, a porção central do Brasil era ocupada por povos do grupo linguístico macro-jê, como os acroás, os xacriabás, os xavantes, os caiapós, os javaés etc.[1]
No final do século XVII, foi descoberto ouro no interior do Brasil, o que motivou a ocupação portuguesa de todo o atual Brasil central. A linha do Tratado de Tordesilhas, que dividia os territórios português e espanhol, passava no território do atual estado de Goiás, próximo ao Distrito Federal, mas foi desrespeitada pelos colonizadores portugueses em seu avanço em direção ao interior da América do Sul em busca de ouro, pedras preciosas e escravos índios, alargando, deste modo, as fronteiras do Brasil em direção ao interior do continente.
No século XVIII, foi construída a Estrada Real ligando a capital brasileira Salvador até a capital da Capitania de Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade, às margens do Rio Guaporé, na atual fronteira com a Bolívia. A estrada tinha a finalidade de escoar os metais preciosos das capitanias de Mato Grosso e Goiás até o litoral e passava pelo Sertão do Campo Aberto, atual Distrito Federal. Na época, o atual território do Distrito Federal pertencia à Capitania de Goiás[2].
O movimento de pessoas ao longo da estrada propiciou a fundação do povoado de São Sebastião de Mestre d'Armas (a atual cidade de Planaltina, no Distrito Federal) por volta de 1790. O nome do povoado era uma referência a um ferreiro que residia no local[3]. Com o esgotamento das jazidas de metais preciosos no final do século XVIII, o atual Distrito Federal passou a ser uma região escassamente povoada.
Em 1883, o padre italiano João Belchior Bosco teve um sonho profético em que previu uma "terra da promissão" na América do Sul, entre os paralelos quinze e vinte, próximo a um lago, o que coincide com a localização do terreno que viria a abrigar Brasília[4]. Em 1892, o presidente brasileiro Floriano Peixoto e o congresso brasileiro enviaram uma comissão composta por cientistas de diversas especialidades, chefiada pelo engenheiro belga Luís Cruls (diretor do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro), para pesquisar uma região no centro geográfico do país para onde pudesse ser transferida a capital do país, com o fim de integrar o interior do país ao resto da nação.
A comissão foi chamada de Comissão Cruls e delimitou um quadrilátero de 14 400 quilômetros quadrados apropriado para abrigar a futura capital. O quadrilátero foi chamado de Retângulo Cruls e abrangia terrenos pertencentes ao estado de Goiás, como, por exemplo, a Vila de São Sebastião de Mestre d'Armas[5].
Em 1910, a Vila de São Sebastião de Mestre d'Armas mudou seu nome para Altamir, em referência à bela vista proporcionada pela cidade, no topo do Planalto Central Brasileiro. Em 14 de setembro de 1917, Altamir mudou seu nome para Planaltina, seu nome atual[6]. Em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações pelo centenário da independência brasileira, foi assentada a pedra fundamental da futura capital do país, no Morro do Centenário, na Serra da Independência, a nove quilômetros da cidade de Planaltina[7].
Em 31 de janeiro de 1956, ao tomar posse da presidência da república, Juscelino Kubitschek anunciou sua decisão de transferir a capital nacional para o centro geográfico do país, na região abrangida pelo Retângulo Cruls. Trabalhadores de todo o país se dirigiram ao território que iria abrigar a nova capital, para trabalhar em sua construção. Para abrigar os trabalhadores, estes foram alojados na periferia da nova capital, dando origem às então chamadas "cidades-satélites" (termo hoje substituído por "regiões administrativas").
A primeira foi a "Cidade Livre", também chamada "Núcleo Bandeirante", que deu origem à atual região administrativa do Núcleo Bandeirante. Outra "cidade-satélite" formada foi a de Taguatinga, inaugurada em 5 de junho de 1958, no terreno da antiga Fazenda Taguatinga. Em 31 de outubro de 1956, foi inaugurada a residência provisória do presidente no Distrito Federal: uma casa de madeira projetada por Niemeyer que recebeu o apelido de "Palácio de Tábuas", mas que ficou mais conhecida como "Catetinho": uma referência ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, antiga residência oficial do presidente brasileiro[8].
Enquanto os trabalhadores ocupavam a periferia da capital, o coração do Distrito Federal ficou reservado para os prédios projetados por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, segundo o projeto arquitetônico ganhador do concurso público de 1957. A área passou a ser conhecida como Plano Piloto. Em 1958, foi inaugurada a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, na Asa Sul, desenhada por Niemeyer e com azulejos de Athos Bulcão[9].
Em 30 de junho de 1958, foi inaugurado o primeiro hotel da capital: o Brasília Palace Hotel, projeto de Niemeyer à beira do Lago Paranoá[10]. Entre a população que migrou para o território da futura capital brasileira nessa época, estavam índios fulniôs procedentes de Águas Belas, em Pernambuco. Eles ocuparam uma área no noroeste do Distrito Federal que passou a ser conhecida como Bananal ou Santuário dos Pajés.
Ao longo do tempo, a área também recebeu indivíduos das etnias indígenas brasileiras tuxá e cariri-xocó[11]. Em 1959, foi inaugurada a estátua "Os guerreiros", de Bruno Giorgi, na Praça dos Três Poderes. A estátua era uma homenagem ao trabalhadores que estavam construindo Brasília[12].
A nova capital, Brasília (nome do Brasil na língua latina), foi inaugurada em 21 de abril de 1960. O planejamento urbanístico da capital ficou a cargo de Lúcio Costa e a arquitetura dos prédios, a cargo de Oscar Niemeyer. O estilo arquitetônico adotado foi o estilo em moda na época, o estilo modernista, que se caracterizava pela liberdade de formas. O projeto original previa uma cidade igualitária, onde ricos e pobres morariam no Plano Piloto em residências semelhantes.
Porém, na prática, as residências no Plano Piloto ficaram reservadas para os ricos, enquanto que os operários que construíram Brasília foram morar na periferia, nas localidades de Gama, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, Paranoá, Núcleo Bandeirante etc. Em 1961, ocorreu a primeira modificação no plano arquitetônico de Brasília: a construção, a pedido da primeira-dama Eloá Quadros, do pombal na Praça dos Três Poderes[13].
Em 1963, foi inaugurado o Santuário Dom Bosco em homenagem ao santo italiano que muitos acreditam ter previsto a construção de Brasília[14]. Pelo mesmo motivo, São João Belchior Bosco é o padroeiro de Brasília[15].
Em 1957, já havia sido construída uma pequena ermida em homenagem a Dom Bosco próximo às margens do Lago Paranoá[16]. A administração pública foi sendo transferida gradativamente para a nova capital. Em 1962, foi fundada a Universidade de Brasília.
Em 1970, foram inaugurados o Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores e a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida (originalmente, projetada por Niemeyer para ser um templo ecumênico). Em 1971, foi inaugurado o Conjunto Nacional, o primeiro shopping center de Brasília. Em 1972, foram inaugurados a sede do Ministério da Justiça (o Palácio da Justiça) e o mastro da bandeira nacional na Praça dos Três Poderes.
O mastro foi projetado pelo arquiteto Sérgio Bernardes e foi criticado por representar, supostamente, uma invervenção militar na paisagem urbana da cidade, ao colocar o nacionalismo como valor superior à democracia representada pelo Congresso Nacional[17].
Em 1978, foi inaugurado o Centro de Convenções de Brasília[18]. No mesmo ano, um incêndio destruiu o Brasília Palace Hotel, o primeiro hotel da cidade[19]. Em 1981, foi inaugurado um museu dedicado à memória do fundador de Brasília, Juscelino Kubitschek: o Memorial Juscelino Kubitschek. Em 1986, foi inaugurado o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, dedicado à memória de grandes nomes da história nacional.
Em 9 de novembro de 1986, foi inaugurada, em Ceilândia, a Casa do Cantador: um espaço dedicado à cultura dos migrantes nordestinos que povoaram o Distrito Federal. A construção é a única projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer no distrito que se localiza fora do Plano Piloto[20]. Em 1987, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura declarou Brasília "patrimônio da humanidade" devido a seu valor arquitetônico.
No mesmo ano, foi construído o Memorial dos Povos Indígenas. A partir de 1990, o Distrito Federal passou a escolher pelo voto direto seu governador e seus deputados federais e distritais. Até então, o governador era escolhido pelo presidente da república e não havia nem representação do distrito no Congresso Nacional, nem Câmara Legislativa do Distrito Federal. Em 1997, um fato ocorrido em Brasília chocou o país: cinco jovens atearam fogo no índio pataxó Galdino Jesus dos Santos enquanto este dormia num ponto de ônibus da Asa Sul, bairro nobre de Brasília.
Galdino havia participado das comemorações do Dia do Índio, no dia anterior[21]. Entre 1997 e 1999, foi construído o espelho d'água em frente ao Congresso Nacional. A obra, encomendada pelo presidente do senado, Antônio Carlos Magalhães e projetada por Oscar Niemeyer, tinha, por objetivo, barrar a entrada dos militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que ameaçavam invadir o congresso[22].
Em 2001, foi inaugurado o metrô do Distrito Federal, ligando o Plano Piloto às demais regiões administrativas da cidade. Em 2002, foi inaugurada a Ponte Juscelino Kubitschek, ligando o Plano Piloto ao Lago Sul. A Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola e o Museu Nacional Honestino Guimarães foram inaugurados em 2006. Em 2008, após reformas, o Brasília Palace Hotel, o primeiro hotel da cidade, que havia sido destruído por um incêndio em 1978, voltou a funcionar[23].
Em 2011, a Terra Indígena Bananal, também chamada Santuário dos Pajés, localizada no noroeste do distrito, foi alvo de um empreendimento imobiliário promovido pela empresa Terracap que visava à construção de um condomínio de luxo no local. A questão tramita, atualmente, na esfera judicial brasileira[24].
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Bandeira da região administrativa do Núcleo Bandeirante, com a sua data de fundação: 19 de dezembro de 1956
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À direita, índio fulniô sendo entrevistado por pesquisador
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Oscar Niemeyer
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Mapa mostrando o Plano Piloto de Brasília em formato de avião (ou, como preferia Lúcio Costa, borboleta)
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Sobradinho
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Pombal da Praça dos Três Poderes
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Interior do Santuário Dom Bosco
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A Torre de Tevê de Brasília é o ponto mais alto da cidade. Foi inspirada na Torre Eiffel, de Paris.
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Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida
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Casa do Cantador, em Ceilândia
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Marco de Brasília comemorando a declaração, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, de Brasília como patrimônio da humanidade. Ao fundo, o Museu da Cidade de Brasília.
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Memorial dos Povos Indígenas
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Ponte Juscelino Kubitschek
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Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola
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Museu Nacional Honestino Guimarães
Referências
- ↑ CHAIM, M. M. Aldeamentos Indígenas (Goiás 1749-1811). Segunda edição. São Paulo: Nobel, 1983. p. 48
- ↑ http://www.paulobertran.com.br/bertran/cometa.php
- ↑ http://www.planaltina.df.gov.br/
- ↑ http://www.jluciano.eti.br/profecias/dombosco.htm
- ↑ http://www.planaltina.df.gov.br/
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- ↑ http://ultimosegundo.ig.com.br/brasilia50anos/a-evolucao-de-brasilia-em-imagens/n1237588776039.html
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- ↑ http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-gerais/2011/outubro/protecao-dos-direitos-indigenas-no-santuario-dos-pajes-em-brasilia-df-laudo-entregue-a-funai-por-antropologos-indicados-pela-aba-esclarece-a-questao/
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- ↑ http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3424
- ↑ http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.braziltour.com/site/en/cidades/materia.php%3Fid_cidade%3D3097
- ↑ http://www.salesianost.com.br/pastoral/voce-sabia-que-dom-bosco-e-o-padroeiro-da-capital-federal-brasilia
- ↑ http://ildesantos.multiply.com/photos/album/42/Ermida_Dom_Bosco
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- ↑ http://publishing.yudu.com/Freedom/Aib28/Doimaginrioaoconcret/resources/62.htm
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- ↑ http://casadocantadordf.wordpress.com/
- ↑ http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL23764-5598,00.html
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