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Comunicação online e aprendizagem/Os 3 Tipos de Interação e o Teorema da Equivalência da Interação

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Os três tipos de interação

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Um dos eixos centrais do desenvolvimento de processos educativos é a interação. Tal como a capacidade de manipulação da linguagem não é, por si só, garantia de comunicação; a existência de um aluno, de um professor, ou de um conteúdo não representam necessariamente aprendizagem. A qualquer uma destas realidades falta um elemento essencial: a reciprocidade, a interinfluência, a mutualidade que o conceito de interação encerra. É o continuado movimento de ação-reação, de interatividade, que caracteriza a construção de aprendizagem.

A interação coloca-se, assim, sem surpresa, como um fator de especial preocupação e reflexão também no campo da educação online. Por se tratar de um constructo que sustenta a teorização e a prática educativa, Moore (1989) preocupou-se em delimitar-lhe coordenadas que permitissem melhor gerir e ajustar a eficácia e eficiência do design de um curso à distância.

À luz dos mecanismos e dos media que caracterizavam a educação à distância nas décadas de 80 e 90 do século passado, Moore sugere a distinção entre três tipos de interação com intuito de facilitar a conceptualização, apropriação e aplicação prática desta ideia pelos educadores responsáveis pela implementação dos cursos à distância. Assim, como foi anteriormente referido, define três tipos de interação que focou na perspetiva do aluno e que etiquetou como interação aluno-conteúdo, interação aluno-professor e interação aluno-aluno.     

De acordo com Moore, a interação aluno-conteúdo é fulcral para a mudança das estruturas cognitivas do aprendente, na medida em que o processo intelectual que lhe está subjacente promove o acesso à aprendizagem. A interação aluno-professor, por seu lado, permite uma apropriação mais eficaz dos conteúdos, perspetivando-se aqui o professor como validador da aplicação dos conhecimentos. É o terceiro tipo de interação - aluno-aluno - que começa aqui a desenhar-se como um modelo de interatividade fundamental à construção da aprendizagem. De facto, a transformação tecnológica que, à época, começa a anunciar-se de forma mais alargada, permite introduzir elementos de interação entre alunos e perceber a importância que esta dinâmica poderia ter na qualidade dos cursos à distância e nos respetivos resultados de aprendizagem.

Moore deixa bem clara a centralidade desta reflexão e a presença destes constructos para imprimir eficácia e eficiência aos cursos na hora de definir as estratégias e os media a que recorrer ao longo de uma formação com as características da educação à distância. Manifesta assim, que:

Educators need to organize programs to ensure maximum effectiveness of each type of interaction, and ensure they provide the type of interaction that is most suitable for the various teaching tasks of different subject areas, and for learners at different stages of development.

The main weakness of many distance education programs is their commitment to only one type of medium. (Moore, 1989: 3).

Os educadores precisam de organizar programas para assegurar a máxima eficácia de cada tipo de interação, e garantir que disponibilizam o tipo de interação que é mais adequado para as várias tarefas de ensino das diferentes áreas do conhecimento, assim como para os aprendentes em diferentes estágios de desenvolvimento.

A principal fragilidade de muitos programas de educação a distância é o seu compromisso apenas com um tipo de meio. (Moore, 1989: 3).

O teorema da Equivalência da Interação

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Quando em 2003, Terry Anderson retoma a reflexão sobre a importância da interação, e a necessidade de encontrar uma forma equilibrada que otimize a qualidade e os custos de um curso online, a realidade já é bem distinta da que contextualiza na análise de Moore.

A aprendizagem cada vez mais assente na Internet, o socio-cognitivismo como modelo de trabalho cada vez mais marcante e o contexto da web-semântica foram colocando desafios aos distintos eixos de interação.

Em busca da fórmula ideal para calibrar a interação no design educacional de cursos online, Anderson propõe uma nova abordagem formulando duas teses que refletem, para além das interações definidas por Moore, três formas de interação descritas por Anderson e Garrison em 1998: as interações professor-professor, professor-conteúdo e conteúdo-conteúdo representadas na figura 1.

Imagem 1 - Tipos de Interação (adaptação a partir de http://cde.athabascau.ca/online_book/ch2.html)

A necessidade de encontrar uma melhor forma para avaliar a quantidade adequada de cada tipo de interação a implementar no desenvolvimento de um curso, levou Anderson a formular uma teoria que denomina de Teorema da Equivalência da Interação. Esta base teórica assenta em duas teses que atentam a questões relacionadas com a qualidade e satisfação relativamente ao curso, ou seja, com a sua eficácia e eficiência.

A tese 1, mais voltada para a avaliação de aspetos qualitativos, está representada na animação 1.

Animação 1 - Tese 1 (adaptação a partir de http://equivalencytheorem.info/?page_id=219)
Tese 1: a aprendizagem significativa e profunda ocorre sempre que, pelo menos, um dos três tipos de interação, exista de forma significativa, podendo os restantes ter uma utilização reduzida ou nula durante o curso.

Assim, a tese 1 coloca a reflexão sobre a possibilidade de eliminar ou reduzir as tipologias de interação desde que, pelo menos uma delas, seja persistente e de qualidade.

Esta tese de acordo com Miyazoe (2012), indica que não existe uma tipologia de interação mais relevante do que outra, ou seja, qualquer uma das três interações pode ter um peso importante para garantir uma aprendizagem de qualidade independentemente das restantes, sendo necessário que a interação estimulada seja de elevada qualidade e intensidade.

A relevância de um determinado tipo de interação não corresponderia, deste modo, a características inerentes às próprias tipologias de interação, mas a exigências e necessidades contextuais, neste sentido, seria fundamental ajustar a escolha da interação mais adequada às particularidades do contexto de aprendizagem.

A tese 2 incide, essencialmente, sobre aspetos relacionados com a satisfação e a eficiência. A animação 2 procura traduzir visualmente esta tese.

Animação 2 - Tese 2 (adaptação a partir de http://equivalencytheorem.info/?page_id=219)
Tese 2: a  elevada presença das três tipologias de interação permitem uma experiência educacional mais satisfatória mas não necessariamente mais eficiente.

De acordo com esta tese, a dinamização de um curso em que todas as interações estejam presentes, embora possa contribuir para uma experiência mais completa e eventualmente mais preenchida, não resulta necessariamente numa aprendizagem mais profunda ou mais produtiva, nem num desenho pedagógico mais eficiente ou eficaz. O tempo despendido por professores e alunos pode, neste formato, tornar-se esgotante e os recursos económicos investidos inaceitáveis.

A formulação deste teorema permite abrir o desenho instrucional a gestões muito variáveis, de modo a otimizar a experiência educativa, procurando ter em conta diferentes vetores das seis tipologias de interação, que poderá contribuir para calibrar os aspetos relacionados com a qualidade da aprendizagem e a quantidade de tempo e recursos dedicados à sua concretização.

Diversos estudos têm sido desenvolvidos neste campo, procurando comprovar diferentes vertentes de articulação destas duas teses.

Algumas formulações teóricas associadas

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A quarta interação

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A quarta interação surge cinco anos após a formulação teórica dos três tipos de interação por Moore (1989), Hillman, Willis & Gunawardena (1994) (cit. por Wheeler, 2012) percebem a emergente necessidade de novos sistemas digitais, incidindo as suas reflexões sobre uma nova tipologia de interação; a interação aluno-interface.

Este quarto modo de interação alerta para a dinâmica existente entre aluno-tecnologia e para a inevitabilidade de ter que ser pensada no momento da definição de estratégias instrucionais. Para a interação aluno-tecnologia, os autores acordam, simultaneamente, sobre a importância e a necessidade de preparar eficazmente os alunos, de forma a que estes desenvolvam as competências necessárias e adequadas para procederem facilmente à manipulação e ágil operacionalização das tecnologias associadas à sala de aula eletrónica e às temáticas como a usabilidade.

Esta extensão, como Wheeler (2012) refere, torna-se mais pertinente na atualidade, devido à constante evolução da tecnologia vestível ou usável, sentindo-se a necessidade de investigações adicionais neste campo, e na análise do impacto que esta interação tem na aprendizagem dos alunos.

Os três níveis de interação

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Hirumi detém-se, também, sobre as questões da interação no design e sequencialização de percursos e-learning e aprofunda-as no artigo "Three Levels of Planned eLearning Interactions: A Framework for Grounding Research and the Design of eLearning Programs" (2013). O autor postula a existência de três níveis de interação, correspondendo o primeiro nível às interações que ocorrem nas mentes dos alunos, o segundo às que acontecem entre alunos e recursos humanos e não humanos, e o terceiro às que ocorrem entre o aluno e as estratégias instrucionais de e-learning e que orientam o design e a sequência de interações.  

Gráfico 3 níveis de planeamento de interação em e-learning

Para Hirumi, as interações internas dos alunos no primeiro nível, acontecem nas suas mentes de forma individual e consistem nos processos mentais que constroem a aprendizagem, e nos processos metacognitivos que os ajudam a regular a própria aprendizagem. Os alunos que controlam a sua aprendizagem, segundo o autor, têm uma maior probabilidade de atingirem os objetivos, especialmente nos ambientes de aprendizagem online, porque não necessitam de tanta motivação por parte do professor ou dos colegas, para pesquisar e construir a sua aprendizagem.  

As interações do segundo nível referem-se à interação entre aluno/professor, professor/aluno, aluno/aluno, aluno/conteúdo, aluno/ferramenta e aluno/outras interações humanas, que acontecem durante a formação online.

No terceiro nível, segundo o autor, as interações aluno/aprendizagem envolvem uma organização intencional de acontecimentos para estimular e facilitar a aprendizagem alcançando os objetivos. Este nível transcende os outros e é utilizado como guia para sequenciar as interações do nível II. 

Hirumi demonstra a existência de uma relação intrínseca entre os três níveis de interação, assim como a importância de um equilíbrio entre os três, para que os resultados sejam alcançados. De acordo com a sua perspetiva, os diferentes níveis devem estar profundamente articulados, uma vez que se interinfluenciam. 

According to the three level framework, educators and educational researchers should select an instructional strategy (Level III interactions) based on their values and beliefs about how and why people learn (Level I interactions). The selected strategy should then guide the design and sequencing of elearning (Level II) interactions that are planned to stimulate or otherwise facilitate learning as defined by the designers’ or researchers’ (Level I) values and beliefs, bringing the process back full circle to ground elearning research and design. (2013: 4)

De acordo com o enquadramento de três níveis, educadores e investigadores educacionais devem selecionar uma estratégia instrutiva (Nível III interações) com base nos seus valores e crenças acerca de como e porque é que as pessoas aprendem (interações Nível I). A estratégia escolhida deve, então, orientar a conceção e a sequência de e-learning (Nível II), interações que são planeadas para estimular ou de outra forma facilitar a aprendizagem, tal como definido pelos valores e crenças dos designers ou investigadores (Nível I), trazendo o processo de volta ao início da pesquisa e do design de e-learning. (2013: 4)

Em suma, as valiosas elaborações dos autores referidos contribuem largamente para a orientar e ajuizar o eficaz design de cursos, na medida em que as interações bem sucedidas adequadas aos contextos, representam a diferença entre o sucesso e o insucesso na aprendizagem, entre a satisfação e o total desinteresse do curso.