Teoria de números/Equações diofantinas: diferenças entre revisões
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:* <math>x^2 + y^2=(2b+1)^2 = (4a^2 + 4a + 1) + (4b^2 + 4b + 1) = 4k + 2\,\!</math> |
:* <math>x^2 + y^2=(2b+1)^2 = (4a^2 + 4a + 1) + (4b^2 + 4b + 1) = 4k + 2\,\!</math> |
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:Ou seja, a soma dos quadrados de <math>x\,\!</math> e <math>y\,\!</math> seria par, mas pertenceria a <math>4\mathbb{Z}\,\!</math>. |
:Ou seja, a soma dos quadrados de <math>x\,\!</math> e <math>y\,\!</math> seria par, mas não pertenceria a <math>4\mathbb{Z}\,\!</math>. |
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:No entanto, sempre que <math>z^2\,\!</math> é par, tem-se <math>z\,\!</math> par e consequentemente <math>z^2\in 4\mathbb{Z}\,\!</math>. |
:No entanto, sempre que <math>z^2\,\!</math> é par, tem-se <math>z\,\!</math> par e consequentemente <math>z^2\in 4\mathbb{Z}\,\!</math>. |
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:Logo, quando <math>x, y\,\!</math> são ambos ímpares, a soma de seus quadrados não pode ser um quadrado perfeito. |
:Logo, quando <math>x, y\,\!</math> são ambos ímpares, a soma de seus quadrados não pode ser um quadrado perfeito. |
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:<math>x^2 = z^2 - y^2 = (z+y)(z-y)\,\!</math> |
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A partir daí, pode-se deduzir outras informações sobre os inteiros que a satisfazem. |
A partir daí, pode-se deduzir outras informações sobre os inteiros que a satisfazem. Por exemplo, <math>(z+y, z-y) = 1\,\!</math>, pois: |
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:<math>d|z+y, z-y \Rightarrow d|2z, 2y \Rightarrow d|2\,\!</math> |
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A segunda implicação vale pois <math>(z,y) = 1\,\!</math>. Logo, <math>d \le 2\,\!</math>. |
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Mas não pode ocorrer <math>d=2\,\!</math>, senão: |
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:<math>2|x+y\,\!</math> |
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e como <math>y\,\!</math> é par, <math>z\,\!</math> também seria, coisa que não é possível já que <math>(z,y) = 1\,\!</math>. |
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Assim, o quadrado perfeito <math>x^2\,\!</math> é o produto de dois números primos entre si. Disso decorre que cada um deles deve ser um quadrado perfeito (veja o [[#Exercícios|exercício 1]]), ou seja: |
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:<math>\left\{\begin{matrix} |
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z+y & = & u^2\\ |
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z-y & = & v^2 |
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\end{matrix}\right.\,\!</math> |
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que equivale a: |
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:<math>\left\{\begin{matrix} |
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2z & = & u^2 + v^2\\ |
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2y & = & u^2 - v^2 |
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\end{matrix}\right.\,\!</math> |
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Portanto, quando três números inteiros primos entre si (e não todos nulos) satizfazem a equação: |
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:<math>x^2 + y^2 = z^2\,\!</math> |
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devem existir inteiros <math>u,v\,\!</math>, ímpares e primos entre si, tais que <math>u>v\,\!</math> e: |
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:<math>\left\{\begin{matrix} |
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x & = & uv\\ |
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y & = & \frac{u^2 - v^2}{2}\\ |
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z & = & \frac{u^2 + v^2}{2} |
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\end{matrix}\right.\,\!</math> |
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Claramente, para quaisquer inteiros <math>u, v\,\!</math>, os valores de <math>x, y, z\,\!</math> obtidos pelas fórmulas acima são ternos pitagóricos, pois: |
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:<math>(uv)^2 + (\frac{u^2 - v^2}{2})^2 = \frac{2u^2v^2 + (u^2 - v^2)^2}{2} = \frac{u^2 + v^2}{2}\,\!</math> |
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== Exercícios == |
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# Mostre que se <math>a^2 = b\cdot c\,\!</math>, com <math>b, c\,\!</math> primos entre si, então <math>b, c\,\!</math> são quadrados perfeitos. |
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Revisão das 20h31min de 8 de fevereiro de 2008
Neste capítulo serão estudados certos problemas cuja solução envolve conceitos da teoria de números que foram tratados nos capítulos anteriores.
Considere o seguinte problema:
Se existem notas de 2 e de 5 reais, quais são os valores que podem ser obtidos combinando algumas dessas notas?
Matematicamente, o que se quer saber é:
Quais os valores de , para os quais a solução possui alguma solução inteira?
Em geral, as equações que surgem no contexto da teoria de números devem ser resolvidas no conjunto dos números inteiros. Este tipo de equação é conhecido como equação diofantina.
As equações diofantinas lineares
A equação que surgiu do exemplo apresentado no início do capítulo é apenas um caso particular da seguinte: . Aqui, os inteiros e são fixados.
Quando é que tal equação possui solução?
O próximo teorema responde exatamente essa pergunta.
- Teorema
Insira o enunciado do teorema.
Demonstração |
---|
Primeiramente, observe que se é uma solução, então (pela linearidade da divisibilidade). Reciprocamente, se , então . Mas pelo teorema de Bézout, existem inteiros tais que . Logo, multiplicando cada membro por , tem-se: ou seja, basta tomar e , e será uma solução.
Se for uma solução conhecida, qualquer outra solução satizfaz: Então , ou seja, . Tomando é possível escrever Donde: Claramente e . Logo ou seja, existe tal que Portanto, Usando essa expressão em resulta Disto se conclui que . |
Assim como acontece em problemas que envolvem equações diferenciais, para determinar o conjunto solução de uma equação diofantina, encontra-se primeiramente uma solução particular, e combina-se a mesma com a solução da equação homogênea (no caso, )
Agora é possível resolver o problema proposto no início.
Aplicação
Será que existem números inteiros que verificam ?
Conforme o teorema indica, para que exista uma solução (e portant infinitas) é preciso que .
Pelo algoritmo de Euclides obtem-se , além de . Multiplicando ambos os membros por , segue que:
Assim, as demais soluções são da forma:
No contexto em que o problema foi colocado, é exigido que as soluções não sejam números negativos. Disto seguem as seguintes restrições:
que são equivalentes a
Para que exista algum valor inteiro nesse intervalo, é suficiente que , ou seja,
Note que a condição anterior é suficiente, mas não necessária, pois para alguns valores de também há soluções:
A conclusão final é que, utilizando apenas notas de e de é possível obter qualquer valor inteiro maior que ou igual a .
Interpretação geométrica
Sabe-se que o conjunto dos pontos (com coordenadas reais) que verificam a equação é representado por uma reta sobre o plano cartesiano. Então as soluções da equação diofantina , são representadas pelos pontos da reta que possuem ambas as coordenadas inteiras.
Diferença de quadrados
Um outro problema que pode ser tratado com as ferramentas desenvolvidas até agora é a busca de soluções inteiras para a seguinte equação:
Buscar tais soluções significa determinar se existe algum inteiro que pode ser escrito como soma de dois quadrados perfeitos. Se a resposta for afirmativa, será interessante saber exatamente quais são os números inteiros que são soma de quadrados.
Estes são alguns exemplos desse tipo de problema:
- tem soluções inteiras?
- tem soluções inteiras?
Para poder entender a estratégia para a resolução desse tipo de problema, considere que a segunda equação tenha alguma solução :
O que se pode afirmar sobre esses dois números inteiros?
Primeiramente, deve valer , ou seja, a soma e a diferença das soluções devem ser divisores de . Sabe-se, por exemplo, que . Será que existem inteiros tais que
Por inspeção, percebe-se que e servem, logo .
E quanto ao outro problema?
É possível encontrar um par de divisores de (por exemplo, e ) tais que um seja a soma, e outro a diferença das soluções?
Observe:
Divisores de
Você é capaz de encontrar alguma linha dessa tabela contendo a soma e a diferença de dois números inteiros? Justifique.
Em vez de continuar tratando o problema baseando-se em exemplos particulares, considere que existem satisfazeno a equação em sua forma geral:
Conforme anteriormente, conclui-se que, para alguma escolha de , tais que , tem-se e , ou seja, para tais divisores de existe uma solução para o sistema:
Equivalentemente, tais inteiros são também solução do sistema:
Se você interpretar essas equações adequadamente, concluirá que devem ter a mesma paridade (ser ambos pares ou ambos ímpares). De fato, se um deles for par e o outro for ímpar, sua soma será um número ímpar, e consequentemente não poderá ser escrita como , para nenhum valor inteiro .
Na verdade, com pouca ou nenhuma argumentação extra, prova-se a validade do seguinte teorema
Teorema
- Teorema
Insira o enunciado do teorema.
Demonstração |
---|
A argumentação precedente mostrou que se então , sendo que têm a mesma paridade. Reciprocamente, se têm a mesma paridade, então sua soma e sua diferença são números pares, significando que o sistema possui uma solução. Mas o conjunto solução deste sistema coincide com o de: Logo, . Para finalizar a demonstração, note que as paridades de são iguais se, e somente se:
Mas são ímpares se, e somente se, é ímpar. Além disso, para que sejam pares, é necessário e suficiente que e . Neste caso, , ou seja, é múltiplo de . |
Uma forma direta de obter a representação de como diferença de quadrados é a seguinte:
- Se é múltiplo de .
- Nessa situação, .
- Se é ímpar.
- Nesse caso, .
Exemplo
Com esse resultado, conclúi-se que não há solução para o problema dado em um exemplo anterior:
De fato, não é ímpar e nem múltiplo de .
Por outro lado, usando a fórmula anterior, fica fácil resolver:
Como , segue que
Ternos pitagóricos
Um pouco de história
Pitágoras foi um matemático e filósofo grego nascido por volta de 570 a.C., na ilha de Samos. Ele é creditado pela demonstração de uma importante relação entre os lados de um triangulo retângulo, hoje conhecida como o teorema de Pitágoras, cujo enunciado é geralmente resumido da seguinte forma: |
Um terno pitagórico é uma tripla de números inteiros que satisfazem a equação:
Por exemplo, , então é um terno pitagórico. Obviamente, também é um terno pitagórico, mas este último caso é trivial e sem interesse, portanto não será considerado na discussão que segue. O objetivo dessa seção é determinar em que circunstâncias a equação tem solução não trivial (não todos nulos).
É possível simplificar a investigação, considerando somento o caso em que são primos entre si. De fato, se então:
Na verdade, se for uma solução, então o máximo divisor comum destes números verifica as seguintes igualdades:
Demonstração |
---|
Esta demonstração é deixada a cargo do leitor. Sinta-se livre para melhorar a qualidade deste texto, incluindo-a neste módulo. |
Em particular, não podem haver não podem ser ambos pares.
Por outro lado, os inteiros também não podem ser ambos ímpares.
- De fato, se assim ocorresse, valeria:
- , para algum inteiro
- , para algum inteiro
- Deste modo, elevando cada um destes números ao quadrado, resultaria:
- e
- Donde:
- Ou seja, a soma dos quadrados de e seria par, mas não pertenceria a .
- No entanto, sempre que é par, tem-se par e consequentemente .
- Logo, quando são ambos ímpares, a soma de seus quadrados não pode ser um quadrado perfeito.
Segue que dos inteiros , um é ímpar e outro é par. Sem perda de generalidade, pode-se supor que é par e é ímpar.
Uma outra forma de escrever a equação original é:
A partir daí, pode-se deduzir outras informações sobre os inteiros que a satisfazem. Por exemplo, , pois:
A segunda implicação vale pois . Logo, .
Mas não pode ocorrer , senão:
e como é par, também seria, coisa que não é possível já que .
Assim, o quadrado perfeito é o produto de dois números primos entre si. Disso decorre que cada um deles deve ser um quadrado perfeito (veja o exercício 1), ou seja:
que equivale a:
Portanto, quando três números inteiros primos entre si (e não todos nulos) satizfazem a equação:
devem existir inteiros , ímpares e primos entre si, tais que e:
Claramente, para quaisquer inteiros , os valores de obtidos pelas fórmulas acima são ternos pitagóricos, pois:
Exercícios
- Mostre que se , com primos entre si, então são quadrados perfeitos.