Probabilidade e Estatística/Probabilidade: diferenças entre revisões

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Introdu¸c˜ao. No¸c˜ao de experiˆencia aleat´oria
A teoria da Probabilidade tem como objectivo formular modelos de fen´omenos
naturais em que se sup˜oe intervir o acaso, i.e., em que a partir do passado se n˜ao pode
prever deterministicamente o futuro, mas para os quais se podem encontrar, em certas
condi¸c˜oes, taxas de realiza¸c˜ao constante, que poder˜ao permitir certas previs˜oes de ´ındole
geral.
Tais fen´omenos dizem-se fen´omenos aleat´orios, i.e., s˜ao fen´omenos sujeitos `a
influˆencia do acaso e, como tal, fora do alcance do observador.
Defini¸c˜ao 2.1
Considere-se uma experiˆencia que verifica as seguintes caracter´ısticas:
– pode repetir-se um grande n´umero de vezes nas mesmas condi¸c˜oes ou pelo
menos em condi¸c˜oes semelhantes;
– a sua realiza¸c˜ao d´a um resultado de entre um conjunto de resultados poss´ıveis
w1,w2, ...,wN;
– cada um dos resultados da experiˆencia ´e imprevis´ıvel mas ´e poss´ıvel considerar
“estabilidade na frequˆencia da sua ocorrˆencia”.
Uma experiˆencia com estas caracter´ısticas diz-se ser uma experiˆencia aleat´oria.
Exemplos de experiˆencias aleat´orias:
1. lan¸camento de um dado e registo do n´umero de pontos que sai;
2. lan¸camento de uma moeda e observa¸c˜ao da face que fica voltada para cima;
3. lan¸camento de dois dados ;
4. tempo de vida de uma pessoa, em anos;
5. tempo de trabalho de uma m´aquina at´e `a primeira avaria.
Em cada um dos exemplos dados n˜ao ´e poss´ıvel saber `a priori o resultado que se ir´a
obter. Os fen´omenos aleat´orios s˜ao caracterizados pela sua imprevisibilidade (fen´omeno
n˜ao determin´ıstico) e pela sua regularidade estat´ıstica (observando-se o fen´omeno um
grande n´umero de vezes, nas mesmas condi¸c˜oes, a frequˆencia relativa de cada resultado
Introdu¸c˜ao `a Estat´ıstica e `a Probabilidade - ISA(2008) - Manuela Neves 39
poss´ıvel do fen´omeno tende a estabilizar, aproximando-se dum valor constante). Estas
caracter´ısticas foram j´a referidas na defini¸c˜ao de experiˆencia aleat´oria, dada acima.
Sendo assim, num fen´omeno aleat´orio n˜ao se pode prever o resultado da pr´oxima
prova, mas pode fazer-se uma previs˜ao do resultado em m´edia.
Espa¸co de resultados. No¸c˜ao de acontecimento
Defini¸c˜ao 2.2
Chama-se espa¸co de resultados ou espa¸co amostra e representa-se por
ao
conjunto de todos os resultados poss´ıveis associados a uma experiˆencia aleat´oria.
Para cada um dos exemplos citados acima temos os seguintes espa¸cos de resultados:
1.
= {1, 2, 3, 4, 5, 6};
2.
= { ‘valor’, ‘pa´ıs’} = {‘V’,‘P’} = {1, 0};
3.
= {(1, 1), (1, 2), (1, 3), ..., (6, 5), (6, 6)};
4.
= IN;
5.
= IR+.
Defini¸c˜ao 2.3
Chama-se acontecimento aleat´orio a qualquer subconjunto do espa¸co de resultados.
Por exemplo
• no lan¸camento do dado, o acontecimento A – sa´ıda de face par pode representarse
por A={2, 4, 6};
• na observa¸c˜ao do tempo de trabalho de uma m´aquina at´e `a primeira avaria, o
acontecimento B – dura¸c˜ao entre 10 e 12 anos ´e B={x : 10 < x < 12}.
Se um acontecimento ´e constitu´ıdo por um ´unico elemento diz-se acontecimento
elementar, um acontecimento que n˜ao cont´em nenhum elemento diz-se acontecimento
imposs´ıvel e ao espa¸co
chama-se acontecimento certo.
Diz-se que um acontecimento se realiza sempre que o resultado de uma experiˆencia
´e um elemento que pertence ao acontecimento.
Do que ficou dito verifica-se que h´a equivalˆencia entre a no¸c˜ao de acontecimento
e a no¸c˜ao de conjunto. Tem-se ent˜ao um paralelismo entre ´algebra de conjuntos e ´algebra
de acontecimentos. Consideremos as principais no¸c˜oes da
Introdu¸c˜ao `a Estat´ıstica e `a Probabilidade - ISA(2008) - Manuela Neves 40
´A
lgebra dos Acontecimentos
1. Diz-se que A ´e subacontecimento de B e escreve-se A � B, se e s´o se a realiza¸c˜ao
de A implica a realiza¸c˜ao de B;
2. Dado um acontecimento A, chama-se acontecimento complementar ou contr´ario
a A e representa-se por Ac ou A, ao conjunto de todos os elementos de
que
n˜ao est˜ao em A.
3. Dados os acontecimentos A e B chama-se uni˜ao de A com B e representa-se por
A [ B ao acontecimento que consiste na realiza¸c˜ao de pelo menos um deles;
4. produto ou intersec¸c˜ao ´e o acontecimento AB ou A \ B, que se realiza apenas
quando ambos os acontecimentos se realizam;
Os acontecimentos A e B dizem-se mutuamente exclusivos ou incompat´ıveis
se e s´o se a realiza¸c˜ao de um implica a n˜ao realiza¸c˜ao do outro, i.e., se e s´o se
A \ B = ;, ou seja a intersec¸c˜ao ´e o acontecimento imposs´ıvel;
5. Chama-se diferen¸ca dos acontecimentos A e B ao acontecimento A − B = A \ Bc,
i.e., ao acontecimento que se realiza se e s´o se A se realiza sem que B se realize.
Se B ⊂ A, A − B ´e o acontecimento complementar de A em rela¸c˜ao a B.
As propriedades estudadas na ´algebra dos conjuntos (associatividade, comutatividade,
idempotˆencia, absor¸c˜ao, distributividade, leis de Morgan, dupla nega¸c˜ao, complementaridade,
citando as mais importantes), s˜ao v´alidas para acontecimentos.
Probabilidade de um acontecimento
Intuitivamente, a no¸c˜ao de probabilidade de um acontecimento ´e uma medida da
possibilidade de ocorrˆencia do acontecimento quando se realiza a experiˆencia aleat´oria `a
qual o acontecimento est´a ligado.
A primeira defini¸c˜ao de probabilidade conhecida, foi a sintetizada por Laplace no
princ´ıpio do s´ec. XIX, sob a hip´otese de casos igualmente prov´aveis ou poss´ıveis,
ou o chamado princ´ıpio da simetria.
A defini¸c˜ao de Laplace dizia o seguinte:
• A probabilidade de realiza¸c˜ao de um dado acontecimento ´e igual ao quociente entre
o n´umero de casos favor´aveis `a realiza¸c˜ao desse acontecimento e o n´umero total de
casos poss´ıveis, desde que todos os casos sejam igualmente prov´aveis.
Seja A o acontecimento “sa´ıda de face par” quando do lan¸camento de um dado
equilibrado. Como h´a 3 casos favor´aveis em 6 casos poss´ıveis tem-se
P(A) =
3
6
.
Introdu¸c˜ao `a Estat´ıstica e `a Probabilidade - ISA(2008) - Manuela Neves 41
A defini¸c˜ao cl´assica de Laplace manteve-se at´e ao come¸co deste s´eculo, quando
come¸caram a surgir cr´ıticas por ela apresentar diversos inconvenientes. N˜ao era uma
defini¸c˜ao suficientemente geral pois fazia depender o c´alculo das probabilidades do facto
de os diferentes casos serem igualmente prov´aveis e numer´aveis.
A regularidade estat´ıstica dos fen´omenos aleat´orios faz surgir uma outra teoria
a Teoria frequencista da probabilidade, por analogia com a no¸c˜ao emp´ırica de
frequˆencia. Surgiu no in´ıcio do s´eculo e segundo ela a probabilidade de um acontecimento
pode ser determinada observando a frequˆencia relativa de ocorrˆencia desse acontecimento
numa sucess˜ao numerosa de experiˆencias aleat´orias.
Efectuando n repeti¸c˜oes duma experiˆencia aleat´oria, seja nA o n´umero de vezes
que se verificou o acontecimento A nessas n repeti¸c˜oes. Devido ao princ´ıpio da regularidade
estat´ıstica ´e de esperar que as frequˆencias relativas fn(A) = nA/n do acontecimento
A numa sucess˜ao de provas com um grande n´umero de repeti¸c˜oes sejam aproximadamente
iguais a um n´umero, digamos P (0 ≤ P ≤ 1).
A probabilidade ´e ent˜ao interpretada como frequˆencia limite, i.e., quando n
grande tem-se fn(A) � P(A).
Esta teoria considera como uma medi¸c˜ao f´ısica (frequˆencia relativa) um conceito
te´orico (probabilidade). A probabilidade P aparece como um objecto matem´atico, satisfazendo
certas propriedades imediatas que resultam da defini¸c˜ao de Laplace e da no¸c˜ao
de frequˆencia relativa.
No in´ıcio do s´ec XX come¸cou a sentir-se a necessidade de uma axiomatiza¸c˜ao
da teoria das probabilidades, que permitisse ultrapassar a ambiguidade da certos conceitos
e interpreta¸c˜oes, mas partindo da observa¸c˜ao da realidade e que a ela se aplicasse.
A defini¸c˜ao axiom´atica de probabilidade que iremos apresentar foi introduzida por Kolmogoroff.
Defini¸c˜ao 2.4
Dada uma experiˆencia aleat´oria, seja
o espa¸co de resultados associado. Chamase
probabilidade P, a uma aplica¸c˜ao que a cada acontecimento de
associa um n´umero
real satisfazendo o seguinte conjunto de axiomas:
A1) P(A) ≥ 0 ∀A ⊂
;
A2) P(
) = 1;
A3) P(A∪B) = P(A)+P(B) se A∩B = ∅. (Axioma das probabilidades totais).
Os axiomas apresentados referem-se ao caso de
ser finito. Quando
´e infinito,
o conjunto de axiomas est´a incompleto. Ter´a ent˜ao que se considerar a generaliza¸c˜ao do
axioma A3) ao caso de uma sucess˜ao infinita de acontecimentos. Teremos ent˜ao o axioma
A3∗) P(∪∞ i=1Ai) =
P∞
i=1 P(Ai) se Ai ∩Aj = ∅, i 6= j (Axioma completo das probabilidades
totais).

Revisão das 18h44min de 14 de março de 2012

Um dos ramos da matemática que é mais importante para a Estatística é a Teoria das Probabilidades. Esta teoria, por sua vez, está bastante embasada na Teoria dos Conjuntos. Este capítulo tem por objetivo explicar os fundamentos desta teoria.

Definições e Axiomas da Teoria dos Conjuntos

  • O Espaço Amostral é um conjunto formado por todos os resultados possíveis em qualquer fenômeno aleatório. Ele é representado pela letra grega maiúscula (Ômega).
  • Evento é o nome que se dá à qualquer sub-conjunto do Espaço Amostral. Eles são representados por letras maiúsculas, como A, B, C, etc... O conjunto vazio é representado por Ø.
  • Por serem subconjuntos, é possível realizar a operação de união (U) entre conjuntos. A União de Eventos representa a ocorrência de um evento OU de outro.
  • Outra operação que pode ser feita sobre Eventos é a intersecção (∩). A intersecção de eventos representa a ocorrência de um E de outro.
  • Diz-se que dois eventos são Mutualmente Exclusivos ou Disjuntos quando eles não possuem nenhum elemento em comum entre si. Ou seja, a ocorrência de qualquer sub-evento que compõe um dos eventos automaticamente faz com que o outro não possa ocorrer. Ou ainda: Se A ∩ B = Ø , então A e B são Disjuntos.
  • Caso dois eventos sejam disjuntos, mas a sua união seja igual à todo o Espaço Amostral, significa que eles são complementares. Ou seja, eles são os únicos eventos possíveis de ocorrer. Ou ainda: Se A e B são Disjuntos e A U B = , então A e B são complementares. Ou ainda: Ac=B e Bc=A.

Axiomas da Teoria das Probabilidades

É possível designar à todo e qualquer evento uma Probabilidade. A Probabilidade é uma função que pode receber um evento qualquer e retornar um número real entre 0 e 1. Se a probabilidade de um evento é 0, o evento nunca irá ocorrer. Se a probabilidade é 1, então ele sempre ocorrerá. Na maioria das vezes, a função de probabilidade retorna um número entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 0 é o valor, mais difícil é para o evento acontecer. E quanto mais próximo de 1, mais provável é a ocorrência de um evento. A Teoria das Probabilidades possui os seguintes axiomas:

1 - A probabilidade de um evento é sempre um número entre 0 e 1. Ou seja:

2 - A Probabilidade de ocorrer algo dentro do Espaço Amostral é 1. Ou seja:

3 - A Probabilidade de ocorrer a união de todos os Pontos Amostrais é igual à soma da Probabilidade de ocorrer cada um dos Pontos Amostrais. Ou seja:

Propriedades da Teoria das Probabilidades

  • 1 - A probabilidade de ocorrer um conjunto vazio pertencente ao conjunto de Pontos Amostrais é sempre zero. Este é um evento impossível. Ou seja:

P(Ø)=0

Ou seja, no lançamento de uma moeda, onde o Espaço Amostral é "Cara" ou "Coroa", é impossível que ocorra um resultado que não é nem um e nem outro.

  • 2 - A probabilidade de qualquer subconjunto pertencente ao Conjunto Amostral pode ser calculada através da soma da probabilidade de seus elementos. Ou seja:

tal que A pertence ao Espaço Amostral e

Ou seja, no lançamento de um dado de 6 faces, a probabilidade de ocorrer 1 ou 2 é igual à P(1)+P(2).

  • 3 - A probabilidade de que ocorra um evento é igual à 1 menos a probabilidade de ocorrer o evento complementar. Ou seja:

Isso significa que a probabilidade de ocorrer o número 5 ou 2 no lançamento de um dado é igual à 1-(P(1)+P(3)+P(4)+P(6))

  • 4 - A probabilidade de acontecer a união de dois subconjuntos é a mesma da soma das probabilidades de ambos menos a probabilidade dos dois ocorrerem juntos. Ou seja:

P(A U B)=P(A)+P(B)-P(A ∩ B)

Isso significa que a probabilidade de que no lançamento de dois dados ocorram os resultados 1 ou 5 é a mesma de que ocorra o resultado 1 em um dos dados mais a probabilidade de ocorrer resultado 5 em um dos dados menos a probabilidade de que ocorram os dois juntos (esta probabilidade acaba sendo contada duas vezes na operação anterior).

  • 5 - Para calcular a probabilidade de um evento, basta dividir o número de Pontos Amostrais nos quais ele ocorre pelo número de pontos amostrais existentes. Isso significa que para calcular a probabilidade de ocorrer o número 3 em um dado de 6 faces, basta dividir 1(3 é apenas um ponto amostral) por 6 (número de todos os pontos amostrais existentes).

Probabilidade Condicional

Muitas vezes, o fenômeno aleatório com o qual trabalhamos pode ser dividido em etapas. A informação do que ocorre em uma etapa pode interferir na probabilidade de ocorrência da próxima etapa. Por exemplo, sabe-se que em uma caixa com 20 ovos (onde metade dos ovos são brancos e a outra metade vermelha), 8 estão quebrados. Dentre os ovos brancos, são 7 os quebrados e dentre os ovos vermelhos, 1 está quebrado. A probabilidade de que um ovo aleatório esteja quebrado é de 0,4 , pois:

(NÚMERO_DE_OVOS_QUEBRADOS)/(NÚMERO_TOTAL) = 8/20 = 0,4.

Entretanto, sabendo anteriormente que o ovo aleatório é vermelho, chegamos à conclusão que:

(NÚMERO_DE_OVOS_QUEBRADOS)/(NÚMERO_TOTAL) = (NÚMERO_DE_OVOS_VERMELHOS_QUEBRADOS/NÚMERO_TOTAL_DE_OVOS)/(NÚMERO_DE_OVOS_VERMELHOS/NÚMERO_TOTAL_DE_OVOS) = (1/20)/(10/20) = 0,05/0,5 = 0,1.

Ou seja: P(A|B)=P(A∩B)/P(B), onde P é a função de probabilidade e neste caso, A é o evento no qual o ovo está quebrado e B é o evento no qual o ovo é vermelho.

A fórmula acima também nos permite deduzir que: P(A∩B) = P(A|B)*P(B)

Eventos Independentes

Dois eventos são ditos independentes se a informação da ocorrência ou não de B não altera a probabilidade de A. Ou seja:

P(A|B)=P(A).

Ou ainda:

P(A ∩ B)=P(A)*P(B)

Perceba que se A é independente de B, então B também é independente de A.

Veja também

Wikipedia
Wikipedia
A Wikipédia tem mais sobre este assunto:
Teoria das probabilidades