A Cidade do Rio de Janeiro no Século XVII/A Cidade Desce o Morro: diferenças entre revisões

Origem: Wikilivros, livros abertos por um mundo aberto.
[edição não verificada][edição não verificada]
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Erico (discussão | contribs)
Adicionei informação.
Erico (discussão | contribs)
Sem resumo de edição
Linha 39: Linha 39:
Em 1641, João de Souza Pereira Botafogo foi morar na enseada de Francisco Velho, que havia sido batizada em homenagem a um companheiro do fundador da cidade Estácio de Sá. A partir de então, a enseada passou a chamar-se enseada de Botafogo<ref> http://www.solardebotafogo.com.br/index.htm</ref>.
Em 1641, João de Souza Pereira Botafogo foi morar na enseada de Francisco Velho, que havia sido batizada em homenagem a um companheiro do fundador da cidade Estácio de Sá. A partir de então, a enseada passou a chamar-se enseada de Botafogo<ref> http://www.solardebotafogo.com.br/index.htm</ref>.


Em 1648, uma frota de quinze navios com mil e quatrocentos homens sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, filho de Martim Correia de Sá, partiu da cidade com destino a Angola e São Tomé e Príncipe, na África. O seu objetivo era recuperar essas possessões portuguesas, então sob controle holandês. A população da cidade financiou a expedição com a quantia de sessenta mil cruzados. Com o sucesso da missão, o dinheiro reverteu à cidade. Durante todo o século, a cidade teve papel destacado na luta contra as invasões holandesas na África e no nordeste brasileiro<ref>http://www.marcillio.com/rio/hisxviis.html#ang</ref>. Salvador Correia de Sá e Benevides fazia parte da família do fundador da cidade, Estácio de Sá. A família Sá possuía extensas plantações de cana da região do atual bairro de São Conrado<ref>http://www.marcillio.com/rio/ensconra.html</ref>.
Em 1648, uma frota de quinze navios com mil e quatrocentos homens sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, filho de Martim Correia de Sá, partiu da cidade com destino a Angola e São Tomé e Príncipe, na África. O seu objetivo era recuperar essas possessões portuguesas, então sob controle neerlandês. A população da cidade financiou a expedição com a quantia de sessenta mil cruzados. Com o sucesso da missão, o dinheiro reverteu à cidade. Durante todo o século, a cidade teve papel destacado na luta contra as invasões neerlandesas na África e no nordeste brasileiro<ref>http://www.marcillio.com/rio/hisxviis.html#ang</ref>. Salvador Correia de Sá e Benevides fazia parte da família do fundador da cidade, Estácio de Sá. A família Sá possuía extensas plantações de cana da região do atual bairro de São Conrado<ref>http://www.marcillio.com/rio/ensconra.html</ref>.


Ao longo do século, foi formada a praia Vermelha, na Urca, ligando a ilha formada pelos morros Cara de Cão, Pão de Açúcar e Urca ao continente<ref>http://www.amabotafogo.org.br/2006/historia/guanabara.asp</ref>.
Ao longo do século, foi formada a praia Vermelha, na Urca, ligando a ilha formada pelos morros Cara de Cão, Pão de Açúcar e Urca ao continente<ref>http://www.amabotafogo.org.br/2006/historia/guanabara.asp</ref>.

Revisão das 14h23min de 25 de janeiro de 2011

acima: Índice
anterior: Introdução | próximo: Conclusão

No início do século dezessete, a cidade do Rio de Janeiro começou a descer o morro do Castelo, no qual havia se instalado no século anterior e começou a ocupar a várzea que ficava localizada entre quatro grandes morros: o morro do Castelo, o morro de Santo Antônio, o morro de São Bento e o morro da Conceição.

Mapa do Rio de Janeiro, delimitado pelos quatro morros

O morro do Castelo, também chamado morro do Descanso, morro de São Januário, alto da Sé ou alto de São Sebastião, havia sido ocupado no século anterior. Lá, já se localizavam a igreja de São Sebastião, a casa da câmara e cadeia, a casa do governador e a igreja dos jesuítas. A estrutura defensiva que o protegia era constituída por muralha (de taipa, pedra e entulho) e fosso com 1.408 metros de extensão, por um forte no alto do morro (o reduto de São Januário, também conhecido como fortaleza de São Sebastião do Castelo) e por um forte no porto, o forte de São Tiago. O forte de São Tiago, após sucessivas ampliações e reformas, daria origem ao atual prédio do Museu Histórico Nacional. A construção de tais estruturas defensivas havia sido iniciada no século dezesseis pelo governador Mem de Sá, mas só veio a ser concluída no início do século seguinte pelo governador Martim Correia de Sá (1602-1608). Deveu-se ao aspecto militar gerado por esta estrutura defensiva a designação popular de morro do Castelo[1].

Antiga Sé, no alto do morro do Castelo
Morro do Castelo
Museu Histórico Nacional. Em primeiro plano, os resquícios do forte de São Tiago.

Entre 1602 e 1608, no primeiro mandato de Martim Correia de Sá como governador da capitania do Rio de Janeiro (era a primeira vez que um natural da terra ocupava o posto), foi construído o fortim de Santa Cruz, na várzea entre os quatro morros da cidade. Mais tarde, no segundo mandato de Martim, o fortim foi substituído pela primeira igreja de Santa Cruz dos militares.

Por volta de 1603, foi construída, no engenho d'el rey (nas proximidades da lagoa de Sacopenapã, atual lagoa Rodrigo de Freitas), uma capela consagrada a Nossa Senhora da Cabeça. A capela existe até hoje no número oitenta da rua Faro, no bairro do Jardim Botânico[2].

Em 1608, os padres franciscanos começaram a construir o convento de Santo Antônio, no morro de mesmo nome. As obras terminaram em 1620.

Convento de Santo Antônio
Morro de Santo Antônio. À direita, morro do Castelo

O morro da Conceição localiza-se próximo ao morro de São Bento. Seu nome vem de uma capela construída no alto do morro no final do século dezesseis e dedicada a Nossa Senhora da Conceição. No sopé do morro, formou-se o cais utilizado no desembarque dos escravos trazidos da África, na atual região da pedra do Sal, no bairro da Saúde.

Vista do Rio de Janeiro, a partir do morro da Conceição
Mercado de escravos no Rio de Janeiro. Os escravos eram desembarcados, abrigados e vendidos nas imediações do morro da Conceição, atual região portuária do Rio de Janeiro

No início do século, foi aberta a rua dos Pescadores, a atual rua Visconde de Inhaúma, no Centro. Os viajantes estrangeiros a consideravam a pior rua do Rio de Janeiro[3]. Ao longo do século, começaram as obras de canalização do rio Carioca para abastecer de água o centro da cidade. As obras só viriam a ser concluídas no século seguinte, com a construção dos arcos da Lapa.

Em 1609, a atual lagoa Rodrigo de Freitas se chamava lagoa de Amorim Soares, mesmo nome do proprietário das terras ao redor da lagoa. A região era ocupada pela cultura da cana-de-açúcar. Nesse ano, as terras foram vendidas para Sebastião Fagundes Varela, que passou a ter a posse de toda a região desde o atual bairro do Humaitá até o bairro atual do Leblon. A lagoa então passou a se chamar lagoa do Fagundes. No mesmo ano, teria sido construída uma pequena ermida em homenagem a Nossa Senhora da Candelária por um casal de espanhóis que havia miraculosamente se salvado do naufrágio do navio Candelária. Essa ermida seria posteriormente ampliada, vindo a constituir-se na atual igreja de Nossa Senhora da Candelária.

Lagoa Rodrigo de Freitas

Em 1619, os frades da ordem do Carmo foram autorizados a iniciar a construção de uma igreja no lugar de uma antiga ermida dedicada a Nossa Senhora do Ó à beira-mar. Para a construção, foram utilizadas pedras da ilha das Enxadas na baía de Guanabara. Com o tempo, a cidade foi aterrando a região em frente à igreja, originando assim a futura praça Quinze de Novembro[4].

Em 1622, foi inaugurada a igreja de São Francisco Xavier do Engenho Velho, que daria origem ao bairro da Tijuca. Na época, o santo espanhol acabava de ser canonizado pelo papa Gregório XV[5].

Igreja de São Francisco Xavier do Engenho Velho

Em 1624, o temor de um ataque holandês à cidade levou à construção de uma fortaleza na ilha das Cobras, ao lado do morro de São Bento: a fortaleza de São José da ilha das Cobras.

Em 1627, os padres jesuítas construíram a igreja de São Cristóvão, que viria a dar origem ao atual bairro homônimo. Na época, a igreja ficava à beira-mar, situação que viria a ser alterada posteriormente devido aos inúmeros aterros[6].

Em 1633, começaram as obras da igreja dos monges beneditinos no morro de São Bento, o qual havia sido doado aos monges no final do século anterior. Os monges eram procedentes da Bahia.

Em 1635, foi construída uma pequena e rústica igreja no alto de um rochedo, dedicada a Nossa Senhora da Penha de França, por iniciativa do Capitão Baltazar de Abreu Cardoso. Esta igreja, com escadaria cavada na pedra, viria posteriormente a nomear o bairro da Penha.[7]

O porto era o utilizado pelos jesuítas e se localizava no local atual da praça quinze de novembro. Em 1637, a imagem de Nossa Senhora do Bonsucesso foi trazida de Portugal e instalada na Igreja da Misericórdia, na Santa Casa da Misericórdia, na base do Morro do Castelo. Por este motivo, a igreja mudou sua denominação para Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso.[8].

Fachada da igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso
Interior da igreja da Nossa Senhora do Bonsucesso

Em 1639, o temor novamente de um ataque holandês levou à reforma da fortaleza na Ilha das Cobras, que passou a se chamar fortaleza de Santa Margarida da ilha das Cobras, em homenagem à vice-rainha de Portugal, Margarida de Saboia.

Em 1641, João de Souza Pereira Botafogo foi morar na enseada de Francisco Velho, que havia sido batizada em homenagem a um companheiro do fundador da cidade Estácio de Sá. A partir de então, a enseada passou a chamar-se enseada de Botafogo[9].

Em 1648, uma frota de quinze navios com mil e quatrocentos homens sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, filho de Martim Correia de Sá, partiu da cidade com destino a Angola e São Tomé e Príncipe, na África. O seu objetivo era recuperar essas possessões portuguesas, então sob controle neerlandês. A população da cidade financiou a expedição com a quantia de sessenta mil cruzados. Com o sucesso da missão, o dinheiro reverteu à cidade. Durante todo o século, a cidade teve papel destacado na luta contra as invasões neerlandesas na África e no nordeste brasileiro[10]. Salvador Correia de Sá e Benevides fazia parte da família do fundador da cidade, Estácio de Sá. A família Sá possuía extensas plantações de cana da região do atual bairro de São Conrado[11].

Ao longo do século, foi formada a praia Vermelha, na Urca, ligando a ilha formada pelos morros Cara de Cão, Pão de Açúcar e Urca ao continente[12].

Praia Vermelha

Em 1659, monges capuchinhos franceses iniciaram a construção no morro da Conceição que viria a resultar no futuro palácio episcopal[13].

Em 1660, teve início a revolta da cachaça. A produção de cachaça era proibida pela coroa portuguesa, por ser uma concorrente ao vinho importado da metrópole. Porém o governo do Rio de Janeiro, visando a aumentar a arrecadação de impostos, legalizou a produção de cachaça e instituiu-lhe pesadas taxas. Revoltados contra os altos impostos de uma atividade até então sem cobrança de impostos, por ser ilegal, os donos de engenho da margem oposta da baía de Guanabara (Freguesia de São Gonçalo do Amarante, atuais municípios de São Gonçalo e Niterói) marcharam em armas até a cidade do Rio de Janeiro e depuseram o governador Tomé de Sousa Alvarenga, instituindo um novo governo, liderado por Agostinho Barbalho. Porém, no ano seguinte, o poder foi retomado por tropas vindas de São Paulo e Bahia. Vale destacar que o cultivo de cana-de-açúcar era a atividade predominante no Brasil da época. Dos engenhos de açúcar da cidade na época, vieram os nomes de vários bairros atuais da cidade: Engenho de Dentro, Engenho Novo, Engenho da Rainha, São Cristóvão (que era o nome de um engenho de açúcar dos padres jesuítas), Tijuca (que também era o nome de um engenho[14]) etc. O próprio ícone carioca, o morro do Pão de Açúcar, foi nomeado desta forma por se assemelhar ao pão de açúcar, o bloco de açúcar que é formado durante o processo de fabricação de açúcar. O vizinho morro da Urca foi nomeado desta forma porque "urca" era o nome do tipo de navio utilizado na época para o transporte dos pães de açúcar para a Europa. Como o morro se localizava ao lado do morro do Pão de Açúcar, o povo passou a nomeá-lo "morro da Urca"[15].

Plantação de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)
Engenho do século dezessete
Formas de pão de açúcar utilizadas no processo de fabricação de açúcar
À esquerda, o morro do Pão de Açúcar e, à direita, o morro da Urca

Como consequência da Revolta da Cachaça, a produção de cachaça foi finalmente liberada, resultando em desenvolvimento econômico da região e aumento do comércio com Angola, onde a cachaça era trocada por escravos.

Interior de navio negreiro

Em 1671, o português Antônio Caminha esculpiu uma imagem de Nossa Senhora da Glória e a colocou numa ermida de taipa no alto de um morro no começo da praia de Uruçumirim (atual praia do Flamengo). Tal ermida daria origem, no século seguinte, à igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro[16]. No mesmo ano, terminaram as obras da igreja de Nossa Senhora de Montserrat, no morro de São Bento. Ligando os morros do Castelo e de São Bento, formou-se a rua Direita, que é a atual rua Primeiro de Março[17].

Igreja de Nossa Senhora de Montserrat no alto do Morro de São Bento
Morro de São Bento. Ao fundo, o morro do Castelo

Em 1676, com a criação da diocese do Rio de Janeiro, a igreja de São Sebastião, no morro do Castelo, tornou-se a catedral, ou sé, da cidade.

Em 1679, a lagoa que se localizava no sopé do morro de Santo Antônio foi aterrada, dando origem ao atual largo da Carioca. Para a drenagem da lagoa, foram abertos uma vala e um cano para escoamento da água, dando origem às ruas da Vala e do Cano, respectivamente, atuais ruas Uruguaiana e Sete de Setembro.[18]

Por volta de 1680, o tesoureiro da sé, o padre Clemente Martins de Matos, comprou terrenos no atual bairro de Botafogo e nomeou o morro que limitava sua propriedade como Dona Marta, em homenagem a sua mãe, que havia falecido alguns anos antes[19][20].

Uma interessante rua da cidade nessa época era a rua dos Ourives, que concentrava grande quantidade desses profissionais que trabalhavam a prata trazida legal ou ilegalmente do Peru (durante grande parte do século, Portugal esteve unido à Espanha através da união ibérica. Isso favoreceu os intercâmbios comerciais através do continente, pois diminuiram os controles fronteiriços entre a América portuguesa e a espanhola[21]). Hoje, a rua tem o nome de Miguel Couto[22].

Em 1696, foi inagurada a igreja de São Francisco da Prainha, no morro da Conceição. Como o nome diz, na época, a igreja se localizava à beira-mar. Atualmente, com os sucessivos aterros, a igreja se localiza bem distante do mar[23].

Em 1699, atendendo à necessidade de moeda na cidade, a casa da moeda que havia em Salvador foi transferida temporariamente para o Rio de Janeiro, passando a funcionar no prédio da junta do comércio, na rua Direita, nas proximidades da ladeira de São Bento, no terreno atualmente ocupado pelo arsenal da marinha. A casa da moeda produziu moedas de ouro e prata até o ano seguinte, quando foi transferida para a capitania de Pernambuco[24].

Referências

  1. http://www.marcillio.com/rio/encechil.html
  2. http://rio-curioso.blogspot.com/2009/03/capela-nossa-senhora-da-cabeca.html
  3. http://www.marcillio.com/rio/encerbes.html
  4. http://www.jblog.com.br/rioantigo.php
  5. http://www.metrorio.com.br/estacao_saofranciscoxavier.htm
  6. http://rio-curioso.blogspot.com/2008/09/igreja-de-so-cristvo.html
  7. http://www.rio.rj.gov.br/riotur/pt/atracao/?CodAtr=3905
  8. http://www.marcillio.com/rio/enceprma.html
  9. http://www.solardebotafogo.com.br/index.htm
  10. http://www.marcillio.com/rio/hisxviis.html#ang
  11. http://www.marcillio.com/rio/ensconra.html
  12. http://www.amabotafogo.org.br/2006/historia/guanabara.asp
  13. http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=996117
  14. http://www.marcillio.com/rio/hisxviis.html#ang
  15. GARCIA, S. Rio De Janeiro: Passado E Presente. Rio de Janeiro: Conexão Cultural, 2000. p 37
  16. http://www.jblog.com.br/rioantigo.php
  17. http://www.marcillio.com/rio/enceprma.html
  18. http://www.marcillio.com/rio/encecari.html e http://www.marcillio.com/rio/encerbe1.html
  19. http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/conheca+a+origem+dos+nomes+de+algumas+favelas+do+rio/n1237967511709.html
  20. http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36&sid=3
  21. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/uniao_iberica.htm
  22. http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.marcillio.com/rio/centro/arb/cerbeouv.jpg&imgrefurl=http://www.marcillio.com/rio/encerbes.html&usg=__ZdkcN8tnwphKwi9EEG731gCrub8=&h=315&w=216&sz=34&hl=pt-BR&start=5&zoom=1&um=1&itbs=1&tbnid=DtxnRjB4XMgEKM:&tbnh=117&tbnw=80&prev=/images%3Fq%3Drua%2Bdo%2Bouvidor%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DX%26tbs%3Disch:1
  23. http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=996117
  24. http://www.angelinicoins.com/Hist/Brasil/CMrj.html