Budismo/História do Budismo: diferenças entre revisões

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Sidarta Gautama nasceu em por volta de 560 a. C., na atual cidade de Lumbini, Nepal. Era filho de um governante local, mais especificamente o rei de Kapilavastu, um pequeno reino do nordeste indiano. Seus pais se chamavam Shuddhodana Gautama e Maya, e durante vinte anos não tiveram filhos. Uma noite, porém, a rainha Maya sonhou que um elefante branco penetrara seu ventre através de sua axila direita. Em outra versão da lenda, o elefante a tocou no flanco esquerdo com um lótus branco que carregava na tromba. Neste instante, ocorre a concepção de Sidarta.
Sidarta Gautama nasceu em por volta de 560 a. C., na atual cidade de Lumbini, Nepal. Era filho de um governante local, mais especificamente o rei de Kapilavastu, um pequeno reino do nordeste indiano. Seus pais se chamavam Shuddhodana Gautama e Maya, e durante vinte anos não tiveram filhos. Uma noite, porém, a rainha Maya sonhou que um elefante branco penetrara seu ventre através de sua axila direita. Em outra versão da lenda, o elefante a tocou no flanco esquerdo com um lótus branco que carregava na tromba. Neste instante, ocorre a concepção de Sidarta.
Ainda segundo a lenda, Sidarta nasceu num jardim, quando sua mãe estava em viagem até a casa do pai dela. Nesse instante, o menino deu sete passos em cada um dos quatro pontos cardeais, nascendo uma flor de lótus em cada uma de suas pegadas, e declarou que aquele era seu último nascimento.
Ainda segundo a lenda, Sidarta nasceu num jardim, quando sua mãe estava em viagem até a casa do pai dela. Nesse instante, o menino deu sete passos em cada um dos quatro pontos cardeais, nascendo uma flor de lótus em cada uma de suas pegadas, e declarou que aquele era seu último nascimento.


[[Image:Birthplacebuddha.jpg|center|200px|thumb|Local exato do nascimento de Buda em Lumbini, Nepal]]
[[Image:Birthplacebuddha.jpg|center|400px|thumb|Local exato do nascimento de Buda em Lumbini, Nepal]]


[[Image:Birth of Buddha at Lumbini.jpg|400px|center|thumb|Representação laosiana do nascimento de Buda]]
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Algum tempo após o nascimento de Sidarta, a rainha Maya faleceu, fazendo com que Sidarta fosse criado pela irmã mais nova da rainha, Mahaprajapati. O bebê foi então visitado por um ermitão de nome Asita, que profetizou que o menino poderia ter dois destinos: ou seria um grande governante, ou seria um grande líder espiritual. O pai de Sidarta, querendo que seu filho optasse pela primeira opção, procurou criar o menino afastado de toda a miséria do mundo, para que não brotassem nele questionamentos espirituais que poderiam conduzi-lo ao destino de líder espiritual.
Algum tempo após o nascimento de Sidarta, a rainha Maya faleceu, fazendo com que Sidarta fosse criado pela irmã mais nova da rainha, Mahaprajapati. O bebê foi então visitado por um ermitão de nome Asita, que profetizou que o menino poderia ter dois destinos: ou seria um grande governante, ou seria um grande líder espiritual. O pai de Sidarta, querendo que seu filho optasse pela primeira opção, procurou criar o menino afastado de toda a miséria do mundo, para que não brotassem nele questionamentos espirituais que poderiam conduzi-lo ao destino de líder espiritual.
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Sua primeira tentativa foi tornar-se discípulo de um guru, um mestre espiritual indiano. Porém este caminho não o satisfez, e ele procurou o caminho do ascetismo, junto com outros cinco companheiros. Sidarta ultrapassava em rigor a disciplina de seus colegas, e comia apenas um grão de feijão por dia. Tornou-se tão magro que dizia poder tocar a espinha quando colocava a mão sobre o estômago. Ao fim de seis anos desse regime, Sidarta um dia perdeu os sentidos e somente se recobrou quando uma moça que passava se compadeceu dele e lhe deu um pouco de mingau para comer. Raciocinando, Sidarta concluiu que o ascetismo não estava lhe trazendo o esclarecimento espiritual que buscava, e procurou outro caminho, o da meditação solitária. Seus companheiros de ascetismo não concordaram com ele, e o abandonaram.
Sua primeira tentativa foi tornar-se discípulo de um guru, um mestre espiritual indiano. Porém este caminho não o satisfez, e ele procurou o caminho do ascetismo, junto com outros cinco companheiros. Sidarta ultrapassava em rigor a disciplina de seus colegas, e comia apenas um grão de feijão por dia. Tornou-se tão magro que dizia poder tocar a espinha quando colocava a mão sobre o estômago. Ao fim de seis anos desse regime, Sidarta um dia perdeu os sentidos e somente se recobrou quando uma moça que passava se compadeceu dele e lhe deu um pouco de mingau para comer. Raciocinando, Sidarta concluiu que o ascetismo não estava lhe trazendo o esclarecimento espiritual que buscava, e procurou outro caminho, o da meditação solitária. Seus companheiros de ascetismo não concordaram com ele, e o abandonaram.


[[Image:Buddha 00014.JPG|center|200px|thumb|Representação birmanesa do rigor ascético de Buda.]]
[[Image:Buddha 00014.JPG|center|300px|thumb|Representação birmanesa do rigor ascético de Buda.]]


Sidarta sentou-se debaixo de uma figueira, nos arredores da vila de Gaya, perto da cidade indiana de Benares, e iniciou uma meditação que durou 49 dias. Segundo outro mito, teriam sido 7 dias e 7 noites. Após ter resistido a demônios e tentações, alcançou a iluminação espiritual, tornando-se um ''Buda'', ou literalmente, um Esclarecido, um Desperto, um Iluminado.
Sidarta sentou-se debaixo de uma figueira, nos arredores da vila de Gaya, perto da cidade indiana de Benares, e iniciou uma meditação que durou 49 dias. Segundo outro mito, teriam sido 7 dias e 7 noites. Após ter resistido a demônios e tentações, alcançou a iluminação espiritual, tornando-se um ''Buda'', ou literalmente, um Esclarecido, um Desperto, um Iluminado.
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Sua grande expansão começou sob o impulso de Asoka, o famoso imperador indiano, que no século III a. C. se tornou o primeiro governante a unificar a Índia. Cansado das atrocidades da guerra, Asoka se converteu ao ensinamento de não-violência do Budismo e o tornou a religião oficial do Império Mauria. Com isto, o Budismo se propagou por grande parte da Ásia. Hoje, a bandeira da Índia apresenta o símbolo da Roda da Lei de Asoka em seu centro. E o brasão indiano é representado por um capitel de uma das inúmeras colunas com inscrições budistas que Asoka mandou construir em seu império.
Sua grande expansão começou sob o impulso de Asoka, o famoso imperador indiano, que no século III a. C. se tornou o primeiro governante a unificar a Índia. Cansado das atrocidades da guerra, Asoka se converteu ao ensinamento de não-violência do Budismo e o tornou a religião oficial do Império Mauria. Com isto, o Budismo se propagou por grande parte da Ásia. Hoje, a bandeira da Índia apresenta o símbolo da Roda da Lei de Asoka em seu centro. E o brasão indiano é representado por um capitel de uma das inúmeras colunas com inscrições budistas que Asoka mandou construir em seu império.


[[Imagem:Flag of India.svg|center|200px|thumb|Bandeira da Índia, com a Roda da Lei de Asoka ao centro]]
[[Imagem:Flag of India.svg|center|300px|thumb|Bandeira da Índia, com a Roda da Lei de Asoka ao centro]]


[[Imagem:Emblem of India.svg|center|150px|thumb|Brasão da Índia]]
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Nos países em que o Budismo sobreviveu, ele sofreu influências das religiões nativas. Por exemplo, no Tibete, ele se fundiu à religião Bon nativa, originando a versão tibetana do Budismo, também chamada Lamaísmo. Na China, o Budismo foi influenciado pelo culto taoísta da natureza, originando a seita Ch´an, que recebeu na Coréia o nome Sun, e no Japão, o nome Zen. Esta escola budista originou importantes elementos da tradicional cultura oriental, como o ikebana, o bonsai, o sumi-e e artes marciais como o kung-fu, o karatê, o judô, o kendô e o tae-kwon-dô, assim como a figura dos samurais.
Nos países em que o Budismo sobreviveu, ele sofreu influências das religiões nativas. Por exemplo, no Tibete, ele se fundiu à religião Bon nativa, originando a versão tibetana do Budismo, também chamada Lamaísmo. Na China, o Budismo foi influenciado pelo culto taoísta da natureza, originando a seita Ch´an, que recebeu na Coréia o nome Sun, e no Japão, o nome Zen. Esta escola budista originou importantes elementos da tradicional cultura oriental, como o ikebana, o bonsai, o sumi-e e artes marciais como o kung-fu, o karatê, o judô, o kendô e o tae-kwon-dô, assim como a figura dos samurais.


[[Image:Kusunoki masashige.jpg|250px|center|thumb|Estátua Japonesa Representando Um Samurai]]
[[Image:Kusunoki masashige.jpg|350px|center|thumb|Estátua Japonesa Representando Um Samurai]]


O Budismo somente conseguiu penetrar no ocidente por volta do século XIX, através do interesse dos intelectuais europeus pela cultura oriental. Das vertentes do Budismo, foi o Zen que penetrou primeiro, através de escritores japoneses como D. T. Suzuki e Taisen Deshimaru.
O Budismo somente conseguiu penetrar no ocidente por volta do século XIX, através do interesse dos intelectuais europeus pela cultura oriental. Das vertentes do Budismo, foi o Zen que penetrou primeiro, através de escritores japoneses como D. T. Suzuki e Taisen Deshimaru.

Revisão das 19h36min de 20 de janeiro de 2009


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Sidarta Gautama nasceu em por volta de 560 a. C., na atual cidade de Lumbini, Nepal. Era filho de um governante local, mais especificamente o rei de Kapilavastu, um pequeno reino do nordeste indiano. Seus pais se chamavam Shuddhodana Gautama e Maya, e durante vinte anos não tiveram filhos. Uma noite, porém, a rainha Maya sonhou que um elefante branco penetrara seu ventre através de sua axila direita. Em outra versão da lenda, o elefante a tocou no flanco esquerdo com um lótus branco que carregava na tromba. Neste instante, ocorre a concepção de Sidarta. Ainda segundo a lenda, Sidarta nasceu num jardim, quando sua mãe estava em viagem até a casa do pai dela. Nesse instante, o menino deu sete passos em cada um dos quatro pontos cardeais, nascendo uma flor de lótus em cada uma de suas pegadas, e declarou que aquele era seu último nascimento.

Local exato do nascimento de Buda em Lumbini, Nepal
Representação laosiana do nascimento de Buda

Algum tempo após o nascimento de Sidarta, a rainha Maya faleceu, fazendo com que Sidarta fosse criado pela irmã mais nova da rainha, Mahaprajapati. O bebê foi então visitado por um ermitão de nome Asita, que profetizou que o menino poderia ter dois destinos: ou seria um grande governante, ou seria um grande líder espiritual. O pai de Sidarta, querendo que seu filho optasse pela primeira opção, procurou criar o menino afastado de toda a miséria do mundo, para que não brotassem nele questionamentos espirituais que poderiam conduzi-lo ao destino de líder espiritual.

Representação da rainha Maya, em Borobodur, Indonésia

No entanto, tal cuidado foi em vão. Mesmo vivendo em meio ao luxo e conforto do palácio de seu pai, um dia Sidarta, ao passear fora do palácio, testemunhou os quatro sinais: a velhice, a doença, a morte e a renúncia. Este contato de Sidarta com a realidade da vida chocou-o de tal forma que o levou a abandonar o palácio de seu pai, sua esposa e seu filho, e se lançar numa jornada de procura espiritual nas selvas indianas. Ele tinha 29 anos.

Sua primeira tentativa foi tornar-se discípulo de um guru, um mestre espiritual indiano. Porém este caminho não o satisfez, e ele procurou o caminho do ascetismo, junto com outros cinco companheiros. Sidarta ultrapassava em rigor a disciplina de seus colegas, e comia apenas um grão de feijão por dia. Tornou-se tão magro que dizia poder tocar a espinha quando colocava a mão sobre o estômago. Ao fim de seis anos desse regime, Sidarta um dia perdeu os sentidos e somente se recobrou quando uma moça que passava se compadeceu dele e lhe deu um pouco de mingau para comer. Raciocinando, Sidarta concluiu que o ascetismo não estava lhe trazendo o esclarecimento espiritual que buscava, e procurou outro caminho, o da meditação solitária. Seus companheiros de ascetismo não concordaram com ele, e o abandonaram.

Representação birmanesa do rigor ascético de Buda.

Sidarta sentou-se debaixo de uma figueira, nos arredores da vila de Gaya, perto da cidade indiana de Benares, e iniciou uma meditação que durou 49 dias. Segundo outro mito, teriam sido 7 dias e 7 noites. Após ter resistido a demônios e tentações, alcançou a iluminação espiritual, tornando-se um Buda, ou literalmente, um Esclarecido, um Desperto, um Iluminado. Passou mais 49 dias sob a árvore, meditando sobre a iluminação. Em seguida, procurou seus antigos cinco companheiros ascetas e proferiu-lhes seu primeiro discurso, que ficou conhecido na história do Budismo como o discurso do parque dos cervos. Neste discurso, Buda enunciou as Quatro Nobres Verdades e o Caminho de Oito Passos. Durante os quarenta e cinco anos seguintes, Buda percorreu a Índia pregando sua doutrina. Aos oitenta anos, em Kusinagara, veio a falecer, após comer uma comida estragada oferecida por um ferreiro de nome Cunda. Antes de morrer, deixou uma recomendação a seus discípulos: "Talvez alguns de vós estejam pensando:'As palavras do mestre pertencem ao passado, não temos mais mestre'. Mas não é assim que deveis ver as coisas. O dharma (lei) que vos dei deve ser o vosso mestre depois que eu partir". Após o falecimento de Buda, sua doutrina se firmou como mais uma dentre as inúmeras doutrinas religiosas do nordeste da Índia. Sua grande expansão começou sob o impulso de Asoka, o famoso imperador indiano, que no século III a. C. se tornou o primeiro governante a unificar a Índia. Cansado das atrocidades da guerra, Asoka se converteu ao ensinamento de não-violência do Budismo e o tornou a religião oficial do Império Mauria. Com isto, o Budismo se propagou por grande parte da Ásia. Hoje, a bandeira da Índia apresenta o símbolo da Roda da Lei de Asoka em seu centro. E o brasão indiano é representado por um capitel de uma das inúmeras colunas com inscrições budistas que Asoka mandou construir em seu império.

Bandeira da Índia, com a Roda da Lei de Asoka ao centro
Brasão da Índia
Expansão do Budismo na época de Asoka

Da Índia, o Budismo atingiu Bangladesh, Mianmar, Sri Lanka, Paquistão, Afeganistão e oeste da China. Daí, se expandiu para o resto da China, as Coréias e o Japão. O Budismo ainda penetrou na Indochina, onde gerou o importante monumento cambojano de Angkor Wat, e na Indonésia, onde fez surgir o templo hindu-budista de Borobodur.

Extensão Do Budismo No Primeiro Século Da Era Cristã
Angkor Wat, No Camboja
Borobodur, Na Indonésia

Porém esta expansão do Budismo sofreu um revés a partir do século VII, com a expansão do Islamismo. Os muçulmanos somente toleraram cristãos e judeus, que seguiam a Bíblia, mas não budistas, por considerarem que o Budismo não se baseava na Bíblia. Com isto, em sua expansão os muçulmanos destruíram importantes centros budistas, como Nalanda, na Índia. Somado ao ressurgimento do Hinduísmo na Índia, isto ocasionou a virtual extinção do Budismo na Índia, em Bangladesh, na Indonésia, no Paquistão, no Afeganistão e no oeste da China. Nos países em que o Budismo sobreviveu, ele sofreu influências das religiões nativas. Por exemplo, no Tibete, ele se fundiu à religião Bon nativa, originando a versão tibetana do Budismo, também chamada Lamaísmo. Na China, o Budismo foi influenciado pelo culto taoísta da natureza, originando a seita Ch´an, que recebeu na Coréia o nome Sun, e no Japão, o nome Zen. Esta escola budista originou importantes elementos da tradicional cultura oriental, como o ikebana, o bonsai, o sumi-e e artes marciais como o kung-fu, o karatê, o judô, o kendô e o tae-kwon-dô, assim como a figura dos samurais.

Estátua Japonesa Representando Um Samurai

O Budismo somente conseguiu penetrar no ocidente por volta do século XIX, através do interesse dos intelectuais europeus pela cultura oriental. Das vertentes do Budismo, foi o Zen que penetrou primeiro, através de escritores japoneses como D. T. Suzuki e Taisen Deshimaru. A partir do final do século XX, com a ascensão da figura do Dalai Lama Tenzin Gyatso ao posto de celebridade mundial, o Budismo Tibetano passou a ocupar a liderança entre as seitas budistas em termos de projeção e expansão mundial.

Ficheiro:Tenzin Gyatzo foto 1.jpg
Dalai Lama Tenzin Gyatso
Mapa Da População Budista No Mundo, em números absolutos: Em Vermelho, Grande Número De Budistas; Em Rosa, Número Médio De Budistas