Português/Classificação das palavras/Pronomes/Pessoais/Pronomes de tratamento

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Pronomes de tratamento são todas as palavras ou expressões que referem-se a alguém da 1ª ou da 2ª pessoa gramatical como se ela estivesse na 3ª pessoa, ou representam alguém que efetivamente está na 3ª pessoa gramatical. Para fins de concordância verbal, deve-se tratar esses elementos sempre como alguém da 3ª pessoa. São considerados pronomes pessoais, pois, seu uso equivale-se aos dos pronomes retos e pronomes oblíquos (função sintática de sujeito e objeto).

Vossa Majestade deseja algo? → o pronome de tratamento leva o verbo para a 3ª pessoa do singular (Ele deseja), apesar de referi-se a alguém que efetivamente está na 2ª pessoa do singular (a qual a forma verbal é: Tu desejas)
Você faria um favor para mim? → utiliza-se a forma verbal da 3ª pessoa (faria) ao invés da 2° pessoa (farias), apesar de efetivamente se referir a alguém da 2ª pessoa.
Observação: É importante enfatizar as circunstâncias em que se aplicam os pronomes de tratamento, pois, retomando o conceito inicial, os pronomes referem-se a alguém como se ela estivesse na 3° pessoa, ou representam alguém que já está na 3ª pessoa:
  • Quando se diz: Você fez isso? Nessa pergunta, há presença de dois personagens, alguém da 1° pessoa fazendo uma pergunta para alguém da 2ª pessoa, mas para referir-se a esse alguém da 2° pessoa, não se usa o pronome apropriado para esse fim (tu), usa-se uma palavra representativa (você, vossa excelência), tratando-a como um ser hipoteticamente situado na 3ª pessoa singular ou plural.
  • Quando se diz: A gente fez isso. O pronome a gente refere-se, de fato, a presença de duas ou mais pessoas, sendo uma delas alguém quem fala (1ª pessoa gramatical); esse termo equivale ao pronome reto nós, mas, para efeito de concordância, o verbo não concorda com sentido real do pronome (se não a frase seria Nós fizemos isso), concorda imaginariamente com o pronome da 3ª pessoa (Ele fez isso, nessa frase, a forma verbal não se alterou).
  • Quando se diz: Sua Alteza está em seus aposentos. Nessa forma, estamos nos referindo a alguém que não é quem fala, nem quem escuta, mas sim uma 3ª pessoa que não participa do diálogo, entretanto, por força do cargo ou da posição que ocupa, essa referência precisa ser feita de maneira cerimoniosa, por meio de um fórmula de cortesia específica para essa pessoa de elevada importância. Essa forma do pronome de tratamento é utilizada para referi-se a alguém que já se encontrava na posição de 3ª pessoa gramatical.

Formas[editar | editar código-fonte]

Os pronomes de tratamento possuem formas próprias quando representam a pessoa gramatical e a importância pessoal (por força do cargo ou da posição) que esse ser possui. A representação da pessoa gramatical é limitada, pois há formas específicas para cada caso, mas para representar uma pessoa de importância diferenciada, há uma lista de fórmulas de tratamento que convém saber para sua correta aplicação. Quando os pronomes de tratamento referem-se a alguém pela sua importância, também é possível abreviá-lo de forma própria, portanto, há tantas abreviações quanto há pronomes.

Pronomes de Tratamento
Forma Representação da Pessoa Gramatical
A gente 1ª pessoa gramatical do plural (nós)
Você(s) 2ª pessoa do singular (tu) ou plural (vós)
Senhor(es) e Senhora(s) 2ª pessoa do singular (tu) ou plural (vós)
Vossa + (fórmula de tratamento) 2ª pessoa do singular (tu) ou plural (vós)
Sua + (fórmula de tratamento) 3ª pessoa do singular (Ele/Ela) ou plural (Eles/Elas)
  • Uso do a gente: Esse pronome equivale a nós, não possui abreviação, e sua forma correta é o a e o gente separados, pois sua aplicação junta significa quem executa, é encarregada, ou age para algum fim:
A gente precisa partir → exerce função de pronome de tratamento; diferente de O agente de polícia, que é um substantivo com sentido diverso.
  • Uso do você(s): Aplica-se quando se quer expressar intimidade, como, por exemplo, entre amigos, colegas de trabalho, irmãos e semelhantes; evidenciando uma relação de igualdade, proximidade ou intimidade. Em algumas regiões do Brasil, usa-se o pronome Tu com função semelhante ao tratamento você, entretanto, apesar do uso do pronome na pessoa gramatical correta, o verbo que o acompanha concorda com o sujeito como se ele estivesse na 3° pessoa. Com isso, o pronome tu equivale a um pronome de tratamento e não a um pronome reto:
Tu entregou o relatório? → o tu com função de pronome de tratamento, pois se fosse um pronome reto, a forma verbal deveria ser conjugada na 2° pessoa, e ficaria: "Tu entregaste o relatório?"
  • Uso de senhor(a): Aplica-se quando se quer expressar respeito ou cortesia (abrevia-se sr. ou sra.), seu uso se dá nos casos opostos aos dos tratamentos você e tu; evidenciando distanciamento entre um ser superior para um ser inferior, ou seja, em uma relação desigual, ou simplesmente o uso às pessoas solteiras.

Fórmulas de tratamento[editar | editar código-fonte]

Fórmulas de tratamento são palavras que representam um cargo ou uma posição diferenciada; portanto, não é, por si só, um pronome de tratamento. Para a fórmula de tratamento adquirir esse status, é preciso que ela seja antecedida dos pronomes vossa ou sua, formando, assim, uma locução. As formas nominais Alteza, Santidade, Majestade e etc são apenas fórmulas de tratamento designadas aos cargos de Príncipe, Papa e Rei; mas quando se diz as expressões Vossa Alteza, Vossa Santidade, Vossa Majestade, a fórmula de tratamento passa a ser um verdadeiro Pronome de Tratamento, pois está se referindo a um ser físico que ocupa este cargo.

  • Uso do pronome Vossa: Quando esse pronome antecede a fórmula de tratamento, formando uma locução pronominal, a pessoa com quem se refere se encontra na 2ª pessoa gramatical, ou seja, o interlocutor emite a mensagem diretamente para a pessoa ocupante do cargo ou da posição que a fórmula de tratamento se refere (apesar de fazer parecer que a pessoa se encontra na 3ª pessoa).
Vossa Excelência é uma pessoa digna → o pronome vossa indica que a pessoa a quem se refere o pronome de tratamento está na 2ª pessoa gramatical.
  • Uso do pronome Sua: Quando esse pronome antecede a fórmula de tratamento, a pessoa a quem se refere se encontra na 3º pessoa gramatical, ou seja, a pessoa não participa da conversa.
Sua Excelência é uma pessoa digna → o pronome sua indica que alguém da 1ª pessoa se dirige para alguém na 2ª pessoa, para referi-se a outra 3ª pessoa gramatical e, por força do cargo/posição que está possui, essa referência exige o uso da fórmula de tratamento após o possessivo sua.


Fórmulas de Tratamento
Fórmula Abreviação Refere-se ao Cargo/Posição
Excelência V. Ex.ª Presidente e Vice-Presidente da República; Ministros de Estado; Comandantes das Forças Armadas; Oficiais Militares; Presidentes e Membros das Assembléias Legislativas Estados e das Câmaras Legislativas Municipais; Governadores e Vice-Governadores dos estados e do Distrito Federal; Prefeitos Municipais; Juizes; Procuradores; Desembargadores.
Senhoria V. S.ª Funcionários graduados; Organizações comerciais e industriais; Particulares em geral; Diretores de Autarquias Federais, Estaduais e Municipais.
Eminência V. Em.ª Cardeais
Excelência Reverendíssima V. Ex.ª. Rev.ma Arcebispos e Bispos
Santidade V. S. Papa, Dalai Lama
Reverendo Rev.do Sacerdotes; Clérigos; Religiosos
Magnificência V. Mag.ª Reitores de Universidades e outras instituições de ensino superior
Alteza
  1. Real
  2. Imperial
  3. Sereníssima
V. A.
V. A. R.
V. A. I.
V. A. S.
Príncipes e Duques:
de Casas Reais
de Casas Imperiais
para Arquiduques
Majestade V. M. Reis e Imperadores

Invocação das fórmulas[editar | editar código-fonte]

Utiliza-se uma invocação apropriada para cada fórmula de tratamento na sobrescrição de envelope ou no chamamento, quando na redação da comunicação oficial de órgãos públicos, ou na comunicação comercial. Não se deve confundir pronome com invocação, pois este tem uso específico, enquanto os pronomes (de tratamento ou não) são utilizados no corpo do texto. Por exemplo, ao se escrever uma carta para o presidente da república, deve-se começar com:

"Ao Exmo. Sr. Presidente da República" → invocação
Com orgulho escreve a Vossa Excelência confiante que serei ouvido..." → pronome de tratamento

Segue lista das formas das invocações mais usadas:

Fórmula Invocação Aplicação
Excelência Excelentíssimo(a) Senhor(a) Exmo(a). Sr.(a) Presidente...
Reverendo Reverendíssimo Revmo.... Sacerdote...
Alteza Sua Alteza A Sua Alteza Rei...
Senhoria Ilustríssimo(a) Senhor(a) Ilmo. Sr.(a)João...
Majestade Sua Majestade A Sua Majestade...
Santidade Sua Santidade A Sua Santidade...

Observe que em algumas fórmulas, há abreviações próprias para representá-las e, em outras fórmulas, não é possível a abreviação para fins de invocação; em qualquer, caso é necessário o conhecimento da aplicação das fórmulas. Há duas formas de se construir a invocação, dependendo da fórmula a ser usada, seguindo o esquema:

  • A primeira forma é o uso do esquema: (fórmula abreviada) + Sr(a) + (nome do cargo[se houver]) + (nome da pessoa) → a aplicação desse esquema é possível quando no uso das fórmulas excelência e senhoria, por exemplo, ao se encaminhar uma carta para um senador (cujo a fórmula apropriada é excelência):
Exmo. Sr. Senador Cristovam Buarque
Espero de Vossa Excelência mais dedicação para melhorar a educação do Brasil...
  • A segunda forma é o uso do esquema: A Sua + (fórmula do cargo)+ (nome do cargo) + (nome da pessoa) → aplica-se esse esquema quando no uso das fórmulas alteza, majestade e santidade, pois, nesse casos, não há abreviação para a invocação, e sua aplicação se dá na mesma forma que a fórmula:
A Sua Majestade Rainha Elizabeth
Observação: As abreviaturas podem ser aplicadas simultaneamente caso o cargo exija mais de uma fórmula de tratamento (ou uma fórmula de tratamento composta), como é dos bispos e arcebispos, cuja fórmula é " Excelência Reverendíssima":
Exmo. e Revmo. Bispo João
Em todos os casos, na invocação, o uso da vírgula é obrigatório, pois se trata de vocativo.