Civilização Egípcia/Faraós e como listá-los

Origem: Wikilivros, livros abertos por um mundo aberto.
Faraós e como listá-los
desenho das insígnias dos faraós, bastão, mangual, uraeus

Os nomes dos faraós[editar | editar código-fonte]

Vamos começar pelo fato dos reis do Egito serem chamados de faraós, apenas pelos gregos e pelos hebreus. Os antigos egípcios não os chamavam assim.

O título Faraó se origina do egípcio Per-aa, que significa Casa Grande, palavra que designava o palácio. Durante muito tempo a palavra para designar o rei no antigo Egito era nesu, além dos muitos títulos que eles possuíam.

Por volta de 2500 a.C. os reis do Egito tinham cinco nomes. Os cinco títulos reais consistiam em quatro nomes que eram dados ao rei quando este subia ao trono e um quinto nome que era escolhido quando do nascimento do futuro rei.

Três desses nomes se referem ao papel do rei como um deus. Dois deles dão ênfase à divisão do Egito em duas terras, ambas sob o controle do rei.

O nome Hórus, desde os reis pré-dinásticos, era escrito dentro de um serekh, um retângulo que representava a fachada do palácio real, encimado pelo deus falcão Hórus. Ele aparece inclusive nas tumbas mais antigas feitas de adobe. Isso representa a crença de que o rei era o deus Hórus em forma humana na Terra. Os egípcios acreditavam que Osíris havia sido rei do Egito antes de morrer, portanto seu filho Hórus herdou seu reino.

a sua esquerda está Wadjet e a sua direita Nekhbet
as duas senhoras

O segundo nome é Nebty ou o nome das “Duas Senhoras”, é uma referência às deusas do alto e do baixo Egito, Nekhbet (representada pelo abutre) de El-Kab no alto Egito e Wadjet (representada pela cobra naja), de Buto no delta. As duas mais importantes cidades da fase pré-dinástica. O nome das Duas Senhoras ou “Ele que pertence às Duas Senhoras” colocavam o rei sob a proteção de Nekhbet e Wadjet, assim representando a união das duas regiões do Egito e a harmonia geográfica das duas terras na pessoa do rei.

O terceiro nome, o Hórus Dourado. As origens desse nome podem ser seguidas nas inscrições reais da primeira e terceira dinastias e também na Pedra de Palermo. Era simplesmente inscrita com o hieróglifo que significava ouro, Quando foi introduzida no período dinástico antigo, talvez simbolizasse a divindade do rei (o ouro era considerado eterno e se acreditava que a pele dos deuses era de ouro; o ouro portanto, era a representação da divindade). O ouro também simbolizava o sol nascente.

Pela metade do Médio Império, o nome Hórus, o título Nebty e o nome Hórus Dourado já não eram usados tão comumente quanto os dois últimos, o nome de trono e o nome de nascimento.

No Egito Dinástico, os reis foram distinguidos pelo uso do nome de trono, também chamado de nesu-bity.

O quarto nome, nome de trono ou nesu-bity, era “Senhor das Duas Terras” ou Rei do Alto e Baixo Egito, como foi usado mais tarde.

Esse titulo, literalmente, “Ele do caniço e da abelha” ou o aspecto dual do rei, deve ter simbolizado a natureza dupla, humana e divina que residiam no poder real. O caniço é o símbolo do Alto Egito e a abelha simboliza o Baixo Egito. Era usado quando da subida do rei ao trono e por volta da quarta dinastia foi invariavelmente incorporada ao nome do deus-sol Ra.

O quinto nome ou nome de nascimento, era usualmente precedido pelos títulos Sa-re ou Filho ou Ra, ou Neb-khau ou Senhor das Coroas.

  • Nome: Titulo
  • Nome de Hórus: Hórus
  • Nebty ou Duas Senhoras: Ele que pertence às Duas Senhoras(Wadjet e Nekhbet)
  • Hórus Dourado: Hórus Dourado
  • Nome de trono: Ele do caniço e da abelha (Rei do Alto e Baixo Egito)
  • Nome de nascimento: Filho de Ra
Filho de Rá

Por exemplo:

Ramsés III

  • Nome de Hórus: Kanakht Aanesyt
  • Nebty ou Duas Senhoras: Werhebusedmitatjenen
  • Hórus Dourado: Userrenputmiatum
  • Nome de trono: Usermaatre-meryamun
  • Nome de nascimento: Ramesses Heqaiunu
serekh do faraó Raneb, 2ª dinastia

O Serekh[editar | editar código-fonte]

É um retângulo estilizado que contém o nome Hórus dos faraós. É dividido em dois compartimentos, o de baixo representa a vista frontal do palácio, o de cima representa uma vista do pátio do palácio. Era, em geral encimado pelo falcão, que representa o deus Hórus, patrono da monarquia, embora dois dos reis da segunda dinastia (Peribsen e Khasekhemwy tenham incluído o deus Set ou trocado o deus).

Os modernos historiadores se referem aos reis do Egito por seus nomes e para distinguir aqueles que possuem o mesmo nome, colocam um algarismo romano. O Serekh foi usado, especialmente nos tempos pré-dinásticos e durante as primeiras três dinastias, depois foi substituído pelo cartucho (cartouche).

cartucho de Tutmósis III

O Cartucho[editar | editar código-fonte]

É a representação de uma corda oval que circunda o nome do faraó e é amarrada nas pontas. Dentro estão os hieróglifos que formam os nomes reais do faraó. Começou a ser usado na quarta dinastia sob o faraó Snefru. O antigo nome para o cartucho era shenu.

O cartucho substituiu o serekh, durante a quinta dinastia, Neferirkare começou a usar um segundo cartucho. O primeiro trazia seu nome de trono e o segundo seu nome de nascimento.

A palavra cartucho, usada em português, foi traduzida do francês cartouche, porque os soldados de Napoleão Bonaparte, quando invadiram o Egito acharam que aquele símbolo e os cartuchos de balas de suas armas, eram parecidos.

Como listar os faraós[editar | editar código-fonte]

Não sabemos quantos foram os faraós egípcios porque algumas vezes, quando o país ficou dividido houve vários reis ao mesmo tempo.

Nem sequer sabemos exatamente quantos foram os faraós e nem por quanto tempo cada um governou. Algumas dinastias foram descritas com precisão pelos escribas e as suas listas foram encontradas, enquanto que outras listas, sofreram danos que tornam difícil decifrá-las.

Algumas dessas listas sobreviveram até nosso tempo e são usadas para dirimir dúvidas. São elas:

pedra de Palermo

A Pedra de Palermo e outros fragmentos[editar | editar código-fonte]

A pedra de Palermo é um pedaço de parede com inscrições em ambos os lados, onde mostra eventos, na maior parte rituais, que ocorreram durante as primeiras cinco dinastias.

A parte maior desta parede é justamente a chamada Pedra de Palermo porque está na cidade do mesmo nome, na Itália.

Um segundo pedaço em tamanho e mais quatro pequenos fragmentos estão no Museu do Cairo (Egito) e há um pequeno fragmento na Universidade de Londres (Inglaterra). Não se sabe se todos os fragmentos são da mesma parede original. Nenhum dos pedaços contem partes ou uma cópia completa dos outros.

A parede original onde ficava a Pedra de Palermo devia medir aproximadamente 2,2 m. de comprimento por 0,61 m. de altura.

Em ambos os lados da pedra está inscrita uma lista de faraós do período pré-dinástico até o meio da quinta dinastia.

Acredita-se que ela foi inscrita justamente no meio da quinta dinastia. Alguns estudiosos acham que ela pode ter sido feita por partes em épocas diferentes e até mesmo ter sido atualizada regularmente (por causa do estilo dos hieróglifos). Outros acreditam que, pela maneira de inscrever na pedra, ela tem ligação com o estilo usado na vigésima-quinta dinastia, o que poderia indicar uma cópia, portanto quem copiou teria acesso aos arquivos originais.

Cânone Real de Turim[editar | editar código-fonte]

Também conhecida como Lista Real de Turim, é um papiro único, escrito em hierático, que hoje está no Museu de Turim na Itália.

Este papiro está fragmentado em, mais ou menos, cento e sessenta pequenos pedaços e muitos deles se perderam. Ele foi descoberto na necrópole de Tebas pelo viajante italiano Bernardino Drovetti em 1822 e quem primeiro percebeu sua importância foi o egiptólogo francês Jean François Champollion.

Presume-se que o papiro tenha sido escrito no reinado do faraó Ramsés II e não se sabe quantas páginas tinha, com uma lista de pessoas e instituições, tendo ao lado uma estimativa de impostos.

Mas, o que ele tem de realmente valioso é o verso, que na época não deve ter sido lá de grande importância para o escriba. Talvez tenha sido apenas um exercício para quem o escreveu, talvez fosse um estudante.

Acontece que, nos legou uma lista de deuses, semi-deuses, espíritos, reis míticos e humanos, que reinaram no Egito desde o início dos tempos até quando ele escreveu a lista.

De onde copiou, não se sabe. Aonde está o original, também não. Talvez ele tivesse acesso aos arquivos dos templos. Se esta listagem foi criada pelo próprio escriba então, ela é única.

Esta é uma lista especial porque agrupa os faraós mencionando a duração dos seus reinados com dia, mês e ano. Também inclui os nomes de faraós efêmeros e daqueles que reinaram sobre pequenos territórios. A lista menciona inclusive os governantes hicsos, indicando serem estrangeiros.

Lista de Mâneton[editar | editar código-fonte]

Não se sabe muita coisa a respeito de Mâneton, apenas que ele foi um sacerdote egípcio ou greco-egípcio, nascido em Sebenitos no delta do Nilo, e que viveu no Egito durante a trigésima dinastia (reinados de Ptolomeu I e II).

A importância de Mâneton vem do fato de ter escrito Aegyptiaca, uma coleção de três livros sobre a história do Egito antigo patrocinada por Ptolomeu II, que queria unir as culturas egípcia e grega.

Mâneton, sendo sacerdote, com certeza teve acesso aos arquivos do templo onde servia. É possível que nesses arquivos tenha encontrado desde tratados científicos até histórias mitológicas e assim muitas vezes temos uma grande mistura.

Contudo, seu trabalho deve ser considerado muito importante para o estudo da história do antigo Egito. Difícil é descobrir algo do trabalho original de Mâneton, porque este foi copiado e falsificado com intenções políticas e ou religiosas.

Autores como Josephus, Africanus, Syncellus e Eusebius fizeram listas que não combinam, seja na quantidade de faraós, seja na duração de seus reinados.

lista real de Abydos

Lista Real de Abydos[editar | editar código-fonte]

No templo de Abydos, na Sala dos Registros, Seti I e seu filho, o futuro Ramsés II, mostram os nomes de setenta e seis ancestrais, em cartuchos.

Não é uma lista tão confiável porque exclui governantes como Hatshepsut e Akhenaton. Também não lista os reis do segundo período intermediário.

Lista Real de Karnak[editar | editar código-fonte]

Uma lista de faraós desde os primeiros até Tutmósis III. Registra os nomes de muitos reis obscuros do segundo período intermediário. Hoje está no Museu do Louvre, em Paris.

Lista Real de Saqqara[editar | editar código-fonte]

Descoberta na tumba real do escriba Thunery em Saqqara. Originalmente possuía cinqüenta e oito cartuchos mas só restaram quarenta e sete. Registra de Anedjib, na primeira dinastia até Ramsés II e também omite os nomes do segundo período intermediário.

Papiro Westcar[editar | editar código-fonte]

O Papiro Westcar é chamado assim por causa do colecionador britânico Henry Westcar. Foi adquirido pelo egiptólogo alemão Richard Lepsius quando este visitou a Inglaterra por volta de 1838/39 e depois de sua morte foi doado ao Museu de Berlim.

cartucho do faraó Snefru

Este papiro contém uma coleção de contos que foi supostamente contada ao faraó Queóps pelos seus filhos. O estilo e a linguagem são típicos da décima segunda dinastia embora, o papiro seja da décima quinta dinastia. Esta é a única cópia que se conhece.

Através dele muitos se baseiam na ordem dos faraós da quinta dinastia. Infelizmente o inicio e o final do papiro se perderam, de modo que, não sabemos quantas histórias faziam parte do original.

A primeira história parece ser sobre um mago cujo nome se perdeu, e se passa no reinado de Netjerikhet, que no papiro é chamado Djoser. Alguns sugerem que esse mago poderia ser Imhotep (o arquiteto da Pirâmide de Degraus).

Da segunda história temos poucos pedaços, mas ela é passada no reinado de Nebka (seria ele Senakhte, o primeiro faráo da terceira dinastia?)

O fato desta história vir depois daquela de Netjerikhet é interessante porque tanto Mâneton como o cânone de Turim marcam Nebka como antepassado direto de Netjerikhet. No papiro Westcar ele está colocado entre Netjerikhet e Snefru (o primeiro faraó da quarta dinastia).

A terceira história é passada durante o reinado de Snefru, pai de Queóps; a quarta história se passa na própria corte de Queóps.

E a quinta e última história preservada é um conto sobre um mago, Djedi, que prediz as origens dos faraós da quinta dinastia : Userkaf, Sahure e Neferirkare Kakai. Eles seriam filhos de Raddjedet, a esposa do sumo sacerdote de Ra, Sakhebu, e se tornariam faraós, todos os três, um depois do outro.

Embora sejam contos, misturados com magia, os estudiosos também costumam usá-lo como fonte de pesquisa, por isso é citado.